O arquitecto Tomás Reis apresentou à Câmara de Vila Nova da Barquinha um projecto de intervenção na envolvente do Castelo de Almourol, que visa criar uma nova estrutura de acesso ao espaço com um percurso pedonal circular que envolve a ilha fluvial e as margens do rio Tejo, por ocasião da comemoração dos 850 anos do castelo.

A Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha veio hoje a público esclarecer que “não foi pedido nenhum estudo ou projecto ao Art.º Tomás Reis, quer pelo proprietário (Exército Português), quer pelo administrador (Câmara Municipal de V.N. da Barquinha)”.

Segundo o autor do projecto, as imagens divulgadas “fazem parte de um trabalho de visualização, feito a título individual” e apresentam “um percurso, de cota variável e planta circular, que une as margens do rio Tejo”. 

“Com esta requalificação dos acessos ao castelo de Almourol, melhoram-se as condições de visita de um dos mais importantes monumentos templários de Portugal”, refere o arquitecto.

Depois de uma ampla divulgação e discussão que este projecto gerou, a Câmara de Vila Nova da Barquinha veio a público esclarecer que, a proposta vai ser presente a reunião de Câmara no próximo dia 27 de Janeiro, “não estando qualquer verba prevista para este avultado investimento no orçamento municipal”.

Fernando Freire, Presidente da Câmara Municipal, respondeu ao autor da proposta através de uma missiva onde faz uma avaliação negativa da mesma.

“Esta proposta, na minha avaliação subjectiva não respeita o espírito do lugar. […] O impacto ambiental que uma tal obra provocaria no ambiente e na sua envolvente, cortando os padrões de vida da fauna e flora seria razão bastante para não aceitar esta proposta. Almourol é um encantador mosaico de memórias, estórias e lendas, um monumento fértil em património cultural intangível, que marca a paisagem deste sítio ímpar em Portugal”, assinala.

“No meu modesto entendimento, enquanto autarca, a grandeza temporal e intemporal do lugar, numa suavidade incomum em Portugal, deve ficar como está!”, conclui o autarca.

Em resposta ao edil, o arquitecto Tomás Reis esclarece que apenas quis “lançar questões, a meu ver pertinentes, sobre a visibilidade do território e visões sobre património”.

“Imaginar, numa proposta de visualização, uma obra concluída, sem qualquer discussão, seria, também a meu ver, um exercício de ficção. Como sabemos, as intervenções no território estão, cada vez mais, sujeitas a um escrutínio maior”, acrescenta o autor .

“Num quadro de participação cívica, e também da normal cooperação entre instituições, poderiam ser colocados vários cenários – até mesmo a ausência de intervenção. É nesse sentido que a integridade do lugar pode, e deve ser respeitada”, adianta.

Numa nota final, Tomás Reis diz compreender o momento desafiante que o País atravessa e destaca que estas intervenções “na paisagem e no património podem tender para o consenso e para fortalecer o sentimento de pertença”, mas nestas condições, a apresentação do projecto “a mais entidades deixa de ser necessária”.

O Castelo de Almourol é um ícone de Portugal. Fortaleza reconstruída por Gualdim Pais, mestre da Ordem dos Templários, em 1171, é o ex-libris do Concelho de Vila Nova da Barquinha. À época da Reconquista integrava a chamada Linha do Tejo, constituindo um dos exemplos mais representativos da arquitectura militar da época, evocando simultaneamente os primórdios do reino de Portugal e a Ordem dos Templários, associação que lhe reforça a aura de mistério e romantismo.

Cercado pelas águas do rio Tejo, destaca-se num maciço granítico de uma ilhota do Tejo, entre Vila Nova da Barquinha e Praia do Ribatejo. A singular localização do Castelo torna-o um dos mais bonitos monumentos do país, tendo sido considerado Monumento Nacional em 1910. Em 2007, foi um dos 21 finalistas da eleição das 7 Maravilhas de Portugal.

1 comment
  1. Congratulo-me com esta tomada de posição, por parte do Senhor Presidente da Câmara de Vila Nova da Barquinha.
    O Património Histórico de Portugal não pode andar por aí em mãos de quem não sabe dignificar os seus 850 anos de História.
    Bem-haja, senhor Fernando Freire.

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