A FICOR abre portas em Coruche de 25 a 28 de Maio com o propósito de receber expositores e proporcionar a produtores, transformadores e outros agentes económicos locais, regionais, nacionais e estrangeiros a apresentação dos seus produtos ou serviços, visando a promoção da fileira da cortiça e do montado enquanto nicho ecológico e económico.

A este propósito, o Correio do Ribatejo esteve à conversa com Francisco Oliveira, presidente de um Município que está a apostar na sua componente turística como forma de alavancar o território.

Nesse aspecto, o autarca é peremptório e defende que o Ribatejo deveria ser promovido através de uma entidade Regional de Turismo Própria.

Nesta entrevista Francisco Oliveira fala ainda dos projectos que estão em curso no município e faz a antevisão do programa deste ano da FICOR, que está repleto de eventos temáticos, culturais e até gastronómicos que abrangem seminários, espectáculos e exposições, aliando ainda conferências e debates a desfiles de moda, concertos, artesanato ou provas de vinho no espaço Wine & Cork.

Em que moldes vai decorrer este ano a FICOR – Feira Internacional da Cortiça e que momentos destaca?

A Feira Internacional da Cortiça tem enfoque no sector, obviamente. Não só com a área da produção florestal – sendo o concelho um dos maiores produtores, que tem maior área de montado, sobro e cortiça e por isso mesmo nos intitulamos com capital mundial da cortiça – mas também toda a fileira.

Na FICOR, o sector está representado desde as áreas de produção – numa parceria que temos regularmente com a associação de produtores florestais, com um conjunto de entidades que representam o sector e são nossos parceiros nesta organização – passando pela indústria, associações sectoriais, empreendedores e investigadores.

Pretendemos reforçar o papel que toda esta estrutura tem na valorização do montado de sobro como nicho ecológico e económico de grande valor e enquanto elemento agregador de toda a fileira da cortiça, constituindo uma plataforma de apoio a todos os elos desta e cadeia de valor, desde os produtos florestais aos empreendedores e investigadores.

O certame é um espaço representativo relacionado com estas actividades, e esse espaço tem também um conjunto de outros complementos, nomeadamente os que se relacionam com a actividade dos nossos artesãos, para que os produtos locais possam também ter maior valor económico, trazendo para a economia local essa rentabilidade.

E eles, agentes económicos, acompanham-nos em várias outras actividades que organizamos, como o Festival do Balonismo, no Toiro Bravo, porque têm a capacidade de modelar as suas intervenções em função daquilo que lhes é solicitado.

São mais de 20 artesãos, vindos de várias freguesias do concelho., que marcarão presença. E, claro, a FICOR terá sempre este enfoque fundamental, mas muito associado, também áquilo que são as questões técnicas dos problemas dos nossos montados, dos problemas associados às patologias, às questões da evolução científica, com aquilo que tem a ver com tratamento do solo e da cortiça e até das alterações climáticas: o concelho de Coruche está identificado como zona de seca extrema para este ano e isso é algo que temos que reflectir.

Portanto, isto é o lado científico, que se desenvolve fundamentalmente no Observatório do Sobreiro e da Cortiça, onde temos oportunidade também de ter o nosso Centro de Competências do Sobreiro e da Cortiça que, por esta ocasião, faz sempre uma reunião alargada, com um conjunto de parceiros, entre Universidades, INIAV, Associação de Produtores Florestais. No fundo, entidades públicas e privadas que têm como objectivo, neste centro de competências, encontrar agendas de investigação direccionadas para aquilo que são os problemas da área da produção. Associado a este certame está, como não podia deixar de ser, a transformação, que tem um peso económico grande no concelho.

As empresas transformadoras da cortiça são também chamadas a estar representadas nos nossos certames. A transformação precisa de cortiça de qualidade, e esta é uma cadeia que interessa às duas partes, produção e transformação. Depois, na FICOR, apresentamos um conjunto de novas áreas que têm a ver com as novas aplicações da cortiça, seja na moda, na construção civil ou qualquer outra área.

Teremos o já habitual desfile do Coruche Fashion Cork, onde participam jovens designers e criadores. No fundo, nesta Feira Internacional associamos todas as componentes ligadas a este sector e, como é obvio, associamos também a nossa gastronomia, aliás como é normal nestas iniciativas de actividade económica, a fim de representar também aquilo que são os nossos produtos endógenos. Este ano, vamos tentar ter uma inovação que é uma área de exposição com animais. Este propósito ainda não está totalmente garantido, mas estamos a tentar e será uma ideia para edições futuras.

Claro que a vertente cultural tem que fazer parte deste processo e iremos ter, ao longo do evento, praticamente em todas as noites, um conjunto de espectáculos musicais que irão decorrer no Parque do Sorraia. No domingo, último dia da feira, habitualmente realizamos uma actividade desportiva, a emblemática Corrida das Pontes e da Família, para a qual temos já cerca de 400 atletas inscritos.

Destacar ainda que a FICOR está associada ao PROVERE, que é o Programa de Valorização Económica dos Recursos Endógenos que visa a inovação, a qualificação e a modernização de um agregado de entidades com uma implantação espacial de expressão nacional, regional ou local.

O PROVERE “O Montado de Sobro e Cortiça”, liderado por Coruche, obteve o reconhecimento formal da sua Estratégia de Eficiência Colectiva e tem associadas 27 entidades públicas – outros municípios onde a cortiça é também importante – e mais um conjunto de entidades privadas que trazem valor acrescentado para esta iniciativa. Em 2023, pretendemos impulsionar abordagens empreendedoras, criativas e inovadoras de valorização do Montado de Sobro, dos seus recursos endógenos e do seu principal e mais reconhecido produto – a cortiça -, desbravando caminho nos capítulos da inovação e da sustentabilidade. Desenvolvemos, também, neste âmbito, um conjunto de outras actividades nomeadamente de promoção do território, em termos turísticos, gastronómicos e criamos a marca montado de sobro e cortiça, para que o alojamento local, o comércio, a restauração para que estes agentes económicos possam ter este selo identitário das regiões que estão associadas a este programa.

A FICOR é um certame perfeitamente consolidado. Até onde pode ir?

Consolidado e com grande capacidade de evoluir. Fizemos muito e queremos fazer ainda mais. Estamos a conseguir reforçar as relações com os diferentes agentes do sector: dos produtores florestais, às diferentes associações, aos trabalhadores, aos empresários e industriais, aos investigadores e universidades. Aqui, as parcerias têm sido cruciais, como já referi, fruto do PROVERE, que, como consórcio, tem sido uma alavanca para os territórios corticeiros e que querem continuar a investir nesta área e a torná-la um activo económico para os territórios. O futuro terá necessariamente de passar pelo acentuar do cariz internacional do certame.

Qual é o diagnóstico que faz da saúde do tecido económico do concelho?

A situação económica do país é complexa e Coruche não escapa a esta realidade.

Saídos de uma Pandemia, enfrentemos agora a Guerra na Ucrânia e a Inflação. No concelho, temos realidades distintas: estamos a falar, por um lado, de empresas de grandes dimensões, cujo resultado da sua actividade económica é medido na bolsa e não em termos locais. Eu diria que a pandemia, nesta área especifica, não teve esse impacto tão grande.

Além da componente que foi a saúde pública, que afectou todos transversalmente, temos agora o impacto da guerra e da consequente inflação. E isso sente-se no aumento do custo de vida, e claro que isso tem uma grande influência, especialmente na economia local. O pequeno comércio, esse sim, sofre bastante com a situação.

“Diferenciar Coruche” é o objectivo maior da nova estratégia para o turismo do concelho, que pretende potenciar o crescimento sustentando do território até 2026. Em que medida é que a FICOR se articula na estratégia de Turismo da autarquia?

Fomos um dos primeiros Municípios da Lezíria a ter a estratégia aprovada. Sempre defendemos que a promoção do território tem que ser sustentada, no sentido de podermos, face ao investimento que fazemos na promoção, ter o retorno. E o nosso retorno é a massa critica que se consegue trazer a esses eventos, no sentido de poder, localmente, aumentar aquilo que é a rentabilidade económica dos nossos parceiros.

Queremos, sobretudo, ter mais disponibilidade de alojamento, que é um problema antigo. O nosso turismo, face à nossa proximidade a Lisboa, é um turismo de visitação. Mas nós temos que querer mais: temos condições para mais do que isso. Mais do que simplesmente ficar um dia e ir embora. E, para isso, precisamos de, localmente, ter alojamentos turísticos e hotéis que possam dar resposta a esta nossa capacidade de gerar atractividade.

E estamos precisamente a trabalhar nesse sentido: irá abrir, a breve trecho, uma instalação que, não sendo nova, foi transformada e modernizada. Refiro-me à antiga Estalagem de Santa Justa. Contamos que, pelo final de Junho, esteja apta a receber hóspedes. Estamos a falar de 43 quartos e também áreas de lazer, desportivas, entre outros equipamentos.

Actualmente, alem de um pequeno hotel, temos hoje um conjunto de alojamentos locais periféricos, com pouca capacidade de acolhimento, cada um com três ou quatro quartos e é necessário investimento neste sector. É precisamente por isso que o Município irá disponibilizar um terreno, na parte alta da Vila para a instalação de uma outra unidade hoteleira, deixando essa iniciativa para o sector privado. Também estamos na rota do turismo religioso e temos que aproveitar esses fluxos. Mas, durante todo ano, há iniciativas de cariz religioso onde Coruche é ponto de paragem.

Tendo mais capacidade hoteleira, teremos, subsequentemente, mais capacidade de absorver esse turismo. Há um ‘boom’ turístico, com maior incidência em Lisboa, é verdade, mas essa onda começa agora a avançar mais para o interior, o que é interessante para nós.

Como tem sido a relação do município com a Entidade Regional de Turismo? E como vê as mudanças constantes nas tutelas: o Ribatejo já esteve em Lisboa, agora está no Alentejo…

Em primeiro lugar, dizer e reforçar que, no meu entendimento, deveria de haver uma Entidade Regional de Turismo do Ribatejo. A marca Ribatejo tem perdido muito por não ter representatividade. Somos obviamente bem tratados no Alentejo, mas são produtos completamente diferentes.

Não há o enfoque no Ribatejo, no Rio Tejo, por exemplo, e era importante perceber que temos que trabalhar a marca Ribatejo. A própria cidade de Santarém perdeu muito. Vamos efectivamente ter uma nova direcção, que prometeu dar outra atenção à região. Sabe a pouco, mas é um começo.

É favorável à ideia do Aeroporto em Santarém?

Para Coruche, e para os municípios do Sul, faz muito mais sentido que o Aeroporto possa ficar em Alcochete, neste caso nos terrenos do Concelho de Benavente do que em Santarém. Nós caminhamos para Lisboa, e não para o Norte. Claro que serviria à região, e este é um bom indicador, que o Aeroporto possa ficar no Distrito de Santarém. Construir um aeroporto no Montijo, por exemplo, é quase como construir um apeadeiro, mas precisamos é de uma estação.

Em Alcochete, os terrenos já são do Estado, a proximidade é a que mais se adequa, e onde as possibilidades de ampliação não têm qualquer constrangimento. Onde quer que o aeroporto seja construído, vai ser necessário construir novas acessibilidades. Um aeroporto não vive sem uma linha ferroviária, sem metro, sem auto-estrada.

Nós [Coruche] estamos suficientemente longe para não sermos perturbados pelos malefícios duma instalação destas, e estamos suficientemente perto para colher benefícios dessa instalação.

Qual é a sua opinião sobre a reorganização administrativa na região com a criação de uma NUT II englobando a Lezíria, o Médio Tejo e o Oeste?

É importante criar esta nova NUT. Agora, é preciso que se passe para além daquilo que é a intenção e que tenha um pacote financeiro para fazer face aquilo que são as necessidades deste conjunto de municípios que fazem parte da Lezíria, do Médio Tejo e do Oeste.

A nossa relação com o Alentejo é muito boa, e isto também lhes permitiu [ao Alentejo] ter acesso a outra dimensão de fundos comunitários, porque nós viemos trazer dimensão populacional. A questão, aqui, é realmente discutir território e organização territorial em Lisboa e Vale do Tejo, e estarmos noutra área para aceder aos fundos comunitários.

Quais são os principais projectos em curso no Município?

Para nós, enquanto Município, há sempre algo para fazer. Queremos sempre fazer mais do que foi feito. Este quadro comunitário permitiu desenvolver um conjunto de acções, algumas delas ainda em curso. As que tiveram maior impacto são as relacionadas com a requalificação das nossas escolas. Inaugurámos o núcleo escolar na Erra, estamos a concluir outro no Biscainho, estamos a intervir ao nível da acção social e habitação em dois bairros, no Couço. O bairro 23 de Junho, inaugurado no 25 de Abril, onde requalificamos sete casas. E estamos em fase de conclusão do Bairro da Liberdade, também no Couço, onde temos 32 fogos que estão para ser reabilitados.

Estamos a construir mobilidade acessível na zona da Calçadinha, e a intervir também ao nível da paisagem, desta encosta. Iniciámos uma obra que estabelece aqui uma cumplicidade económica com o parque empresarial, que é o viveiro de empresas que está a ser construído.

Além disso temos em curso aquele tipo de intervenções ditas normais, como pavimentos, arruamentos, etc. As pessoas só se fixam se tiverem serviços públicos, acessibilidades, escolas, enfim, um conjunto de serviços que lhes permitam ter qualidade de vida e é para isso que trabalhamos e intervimos, de uma forma que tentamos que seja uniforme no concelho.

Por isso, estamos também, nas freguesias, a contruir um conjunto de infra-estruturas para permitir essa qualificação e qualidade de vida. A nossa estratégia local de habitação está presente um pouco por todo o concelho: são cerca de 14 ME para habitação, quer para as questões do arrendamento acessível, quer no âmbito do programa Primeiro Direito. Temos, em paralelo, um conjunto de outros projectos que estamos a preparar agora para o Quadro de Apoio do Portugal 2030. Tratam-se de projectos que têm a ver com a continuação da reabilitação das nossas escolas, designadamente a EB 2.3 e da Secundária. Esta escola secundária ainda é do meu tempo de aluno e, desde essa altura para cá, não me lembro de ter sofrido intervenções…

Também temos projectos elaborados para um conjunto de creches, sendo que o município de Coruche é dos poucos da Lezíria que possui Creches Municipais, e queremos também requalificá-las. Temos também elencadas obras de substituição de relvados em alguns campos e construção de campos de jogos novos para o próximo ano.

Lançámos, recentemente, uma nova empreitada para estabelecer a ligação entre a área empresarial actual e o parque empresarial novo e estamos muito atentos às questões da eficiência energética: fizemos um conjunto de obras nesse sentido, nomeadamente no Museu Municipal, nas Piscinas, e estamos também a concluir essa intervenção no Pavilhão Gimnodesportivo.

Fizemos a substituição de um conjunto de elementos do edificado que podem contribuir para a melhoria das condições térmicas no interior dos espaços. Nas Piscinas, foram as bombas de aquecimento de água, painéis solares, a envolvente das fachadas no sentido de as tornar mais eficientes, no Museu e no pavilhão exactamente a mesma coisa.

Temos muta obra projectada e precisamos que os avisos do Portugal 2030 abram porque este quadro ainda nem começou e já levamos dois anos de atraso… Cada vez mais a actividade que os municípios desenvolvem é de enorme complexidade.

Desde logo, no processo administrativo e de contratualização. Nem sempre as empresas têm capacidade de se actualizarem e de dar respostas que precisamos em temo útil.

Qual é a sua ‘obra de mandato’ e que marca quer deixar no concelho?

As obras são todas de mandato (risos). Seja ela qual for. A requalificação do parque escolar foi fundamental, como fundamental foi também ao nível da habitação.

São obras estratégicas para a região. Há uma que está para nascer e que eu gostaria de deixar resolvida, que é a do Centro Cultural de Coruche e, antes de terminar a minha missão, gostaria de deixar, se não for concluída, pelo menos próxima disso.

É uma obra emblemática: faz falta um teatro, uma sala polivalente, um espaço cultural que temos aqui projectado para os edifícios da antiga central de camionagem.

Mas a minha preocupação, enquanto autarca, não é propriamente deixar marca para ser reconhecido. O meu trabalho foi e é no sentido de ir ao encontro das necessidades das pessoas. Dar respostas. Responder estrategicamente, de forma sustentada, às necessidades do concelho. O concelho é enorme, tem oito freguesias, que foram transformadas em seis, e a nossa preocupação é agir de forma estrutural, preocupados com acessibilidades e ligações a Coruche, mas ter o mesmo nível de preocupação com todos e actuar ao nível do planeamento, de forma sustentada, dando resposta a todas as necessidades, sejam elas de maior ou menor dimensão.

Quer seja na Rua do Biscainho, na Rua N. Senhora de Fátima, na Branca, na Rua da Fruta… Temos que tratar das freguesias como se fossem filhos, com a mesma equidade naquilo que é a distribuição do investimento.

Já fizemos duas pontes no Couço, porque era necessária essa obra naquele local. Vamos fazer habitação no âmbito do Primeiro Direito onde? Na freguesia de Coruche, porque é aqui que existem essas carências fundamentais. Temos que dar resposta às necessidades dos cidadãos, sejam elas individuais ou colectivas.

Filipe Mendes

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