Bernardo Cabral foi eleito enólogo do ano na Gala dos Vinhos do Tejo, em Tomar. Na Companhia das Lezírias, desde 2012, soma a esse papel o de consultor em várias regiões do país. É licenciado em Engenharia Agro-Industrial pelo Instituto Superior de Agronomia e possui a pós-graduação em Enologia, da Universidade Católica do Porto.

Alguma vez nos últimos anos foi capaz de beber um vinho sem assumir a função de enólogo? Na maioria dos casos, na minha primeira abordagem a um vinho, faço-lhe um “scanning” (como se fosse um TAC ao vinho). É muito difícil não o fazer. A partir desse momento tento desfrutar o vinho ao máximo.

Onde está para si o prazer de beber vinho? O prazer está nas emoções que me proporciona quer pelos seus atributos, quer pelo momento em que acontece. O local, a comida, a música e claro, a companhia são o quarteto que, quando bem articulados, potenciam ainda mais o prazer de beber um bom vinho.

Num tinto, por exemplo, quais são os aromas que fazem um vinho bom? Mais do que especificar quais os aromas, um bom vinho (seja branco, tinto, ou outro qualquer) vê-se no equilíbrio dos seus atributos.

Consegue definir um perfil de vinhos que seja mais ao seu gosto? Nos últimos anos mudei o meu gosto dos vinhos mais óbvios (brancos frutados ou tintos muito concentrados) para os menos óbvios. A elegância, a discrição aromática e boa acidez preenchem-me.

Quais são as suas castas de eleição e porquê? Nas castas tintas tenho uma especial admiração pelo Castelão. É a casta tinta que nos permite fazer um grande vinho em qualquer parte do país e nos mais variados estilos. Generosamente dá vinhos elegantes, menos extraídos como também vinhos concentrados e profundos. O facto de serem vinhos que duram muitos anos contribui também para esta eleição. Nas castas brancas o incontornável Arinto que em qualquer parte do mundo faz grandes vinhos. Sou especialmente fã da sua versão mais mineral (como em Bucelas) mas a sua capacidade de produzir bons vinhos em climas mais quentes, como no Alentejo, é notável. Por fim tem enorme capacidade de envelhecimento.

Consegue fazer um vinho que não goste? De maneira alguma. Prefiro despedir-me.

O que é um vinho fácil? A minha definição de vinho fácil é aquele que todos gostam e que não dá muito que pensar quando o bebemos. Aromaticamente é agradável e na prova muito suave.

A região Tejo tem vinho de qualidade ou é mais uma região da quantidade? Tem sido feito um trabalho notável por parte dos produtores conjuntamente com a CVR Tejo no sentido de mudar o paradigma, sendo que hoje é já uma região que se fala pela qualidade dos seus vinhos. Creio que os produtores focados apenas na quantidade têm os dias contados, se é que ainda existem…

Uma boa combinação vinho/música? Tyto alba Castelão estagiado em barro 2016 / Bridge over troubled water (Simon & Garfunkel).

Uma boa combinação vinho/prato? 1836 grande Reserva branco (Fernão Pires) / Robalo do mar grelhado com legumes salteados.

Qual é o seu lema de vida? Fazer o que gosto com muita paixão e prazer.

Se pudesse alterar algum facto da História de Portugal qual alteraria? Inverteria o resultado do jogo da final Portugal-Grécia no campeonato da Europa 2004 (risos).

Um título para o livro da sua vida? A vida numa sinfonia de emoções e sensações.

Livro? Admirável mundo novo (A. Huxley).

Viagem? Nova Zelândia.

FOTO: Neno

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