O Festival Internacional de Cinema de Santarém (FICS) está de regresso entre os dias 21 e 26 de Maio, com uma programação que cruza cinema, memória e transformações sociais. Na sua 18.ª edição, o evento reforça o compromisso com as temáticas agrícolas, rurais e ambientais, colocando o território no centro da acção e consolidando Santarém como referência do cinema independente em Portugal.

Sob o lema “Um festival da terra, pela Terra”, o FICS propõe uma semana de estreias nacionais e mundiais, sessões especiais, debates e experiências gastronómicas, apostando numa programação que alia a diversidade estética à reflexão histórica e social.

A sessão de abertura, agendada para o dia 21, às 18h30, no Teatro Sá da Bandeira, será marcada pela estreia nacional de Amor e Queijo, da realizadora francesa Louise Courvoisier. A obra foi distinguida com o Prémio da Juventude na secção “Un Certain Regard” do Festival de Cannes e venceu dois prémios César, incluindo Melhor Filme.

Na sessão de encerramento, a 25 de Maio, será exibido Muyeres, de Marta Lallana, uma das obras mais marcantes do circuito internacional em 2023, galardoada em Xangai com o Grande Prémio do Júri e o Prémio de Melhor Direcção de Fotografia.

Este ano, o FOCO do festival recai sobre os 50 anos da Reforma Agrária, com uma secção especial que inclui a exibição de filmes emblemáticos sobre a revolução no campo, debates com historiadores e cineastas, e uma exposição documental da Ephemera — Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira. Está também prevista uma mesa redonda promovida pela Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril.

O FICS 2025 recebeu um número recorde de 320 candidaturas, oriundas de 43 países, e conta com duas competições — internacional e nacional — onde serão apresentadas obras que abordam temas como as alterações climáticas, os saberes ancestrais e a identidade colectiva. Destacam-se as estreias de Metalmorfosis, In the Belly of a Tiger e Isto Não É Um Jardim, da portuguesa Marta Pessoa.

O festival alarga ainda a sua programação a municípios vizinhos com sessões de warm-up e itinerância dos filmes premiados. No plano educativo, o projecto “Sementes e Rebentos” inclui sessões dirigidas a escolas e famílias, alargando-se este ano aos concelhos de Almeirim, Alpiarça, Cartaxo e Rio Maior.

As experiências sensoriais voltam a ter lugar com o Cinema à Mesa, onde cinema e gastronomia se cruzam. Em destaque, a exibição do filme O Pão, de Manoel de Oliveira, acompanhada de uma masterclass e prova de degustação. No dia 25, em Vila Chã de Ourique, o jantar vínico inspirado em The Everlasting Pea, de Sue Rynard, encerra a programação com uma fusão entre cinema, sabores e território.

Com direcção de Rita Correia e Francisco Noras, o FICS conta com o apoio da Câmara Municipal de Santarém, ICA, Cinemateca Portuguesa, CNEMA, ESAS, RTP2, Antena 1, Canal Q, e diversas entidades da região e do sector vitivinícola, como a Ode Winery e o CVR Tejo.

“Esta é uma edição de consolidação, com uma programação nunca antes alcançada”

A poucos dias do arranque da 18.ª edição do FICS, Francisco Noras, co-director do evento, revela os bastidores de um programa que se afirma como o mais ambicioso da história recente do festival. Entre estreias internacionais, a evocação dos 50 anos da Reforma Agrária e sessões que cruzam cinema e gastronomia, esta será, nas suas palavras, “uma edição de consolidação”.

“Conseguimos trazer uma programação nunca antes alcançada nestes 13 anos, bastante rica e bastante eclética”, sublinha Francisco Noras, destacando o reforço de apoios institucionais como o Município de Santarém, o Instituto do Cinema e Audiovisual e a União de Freguesias de Santarém. “Isso permitiu-nos investir fortemente na qualidade da programação, com mais convidados e filmes que espelham a diversidade de olhares sobre o mundo.”

Um dos momentos altos será a exibição de Tardes de Soledad, do realizador catalão Albert Serra, numa sessão especial ainda pouco divulgada, que Francisco Noras considera um dos pontos altos da edição. “É um filme muito peculiar sobre o universo tauromáquico, que segue a vida do toureiro Andrés Roca Rey. Não toma partido, é um olhar cru, sensível, e muito cinematográfico. Escolhemo-lo também por fazer sentido na nossa região, onde a tauromaquia tem uma expressão cultural relevante.”

Entre os eixos estruturantes do festival, a evocação da Reforma Agrária surge como o tema central do FOCO desta edição. Através de uma selecção de filmes documentais e ficcionais, o FICS propõe uma reflexão sobre o impacto social e político daquele processo transformador. “Vamos ter uma sessão especial no domingo, dia 25, às 10h30, com um painel que inclui a Comissão dos 50 anos do 25 de Abril e o professor José Pacheco Pereira, que fará a ponte entre os filmes, a exposição da Ephemera e a memória histórica”, explica o programador.

A dimensão gastronómica ganha novo fôlego com o reforço do Cinema à Mesa. Este ano, além da já habitual sessão no Teatro Sá da Bandeira, haverá um jantar vínico na Ode Winery, em Vila Chã de Ourique, inspirado no filme The Everlasting Pea. “Teremos outra sessão, outro parceiro, mais convidados — queremos que este formato cresça, mantendo a ligação entre cinema, território e experiência sensorial.”

Questionado sobre o que espera desta edição, Francisco Noras é claro: “Acima de tudo, que as pessoas fiquem satisfeitas com o que vão ver, e com o ambiente que se cria no pós-filme. Queremos consolidar aquilo que conseguimos nos últimos dois anos, com menos surpresas no formato, mas mais qualidade e consistência.”

Os bilhetes já estão disponíveis na bilheteira do Teatro Sá da Bandeira e online. “Convidamos todos a virem ao cinema. É uma programação riquíssima, e estamos muito contentes com ela”, concluiu.

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