O projecto ‘Santarém Cultura’ está a promover a exposição “Olhar o Centro” que retrata em 20 fotografias, da autoria de Augusto Brázio e Nelson d’Aires, espalhadas pelas ruas do Centro Histórico de Santarém, outros tantos lojistas, símbolo de resistência no comércio do centro antigo da cidade há longos anos.

Segundo o ‘Santarém Cultura’, o objectivo da mostra é “promover o comércio de proximidade numa era em que a uniformização dos padrões de consumo nos uniformiza”.

Lojista expostos nas ruas do Centro Histórico: Domingues Oliveira, Adília Martins, João Lopes, António Duarte, Víctor Reis, Francisco Costa, Sandra Fernandes, António Mendes, Diana Ferreira, Marta Ferreira, Teresa Marques, Carlos Ribeiro, José Wenceslau, Fernanda Contente, Sofia Vieira, Manuel Duarte, Otília Duarte, Fernanda Menino, Maria Noémia, Joaquim Silvério, Maria Ferreira, Maria Assunção Lourenço, Maria Emília Cordeiro

Com a publicação destas vinte fotografias e o destaque de entrevista a quatro “resistentes” do centro histórico de Santarém, o Correio do Ribatejo procura homenagear todos os que não desistem da sua cidade e, diariamente, nos fazem companhia no casco antigo desta urbe.

1 – É um dos comerciantes que tem uma fotografia na rua, como é que vê essa iniciativa?

2- O que é que sente ao ver uma fotografia sua exposta na rua?

3- Como é que vê a evolução do comércio, desde que cá está no Centro Histórico até agora?

4- O que espera do Centro Histórico no futuro?


Sofia Vieira, psicóloga educacional, actriz e proprietária de uma livraria infantil. Há 12 anos no Centro Histórico. “Eu tenho esperança!”

1- Acho que correu tudo bem, fiquei um pouco surpreendida quando ficou exposto como estava exposto, parecia um bocado de tecido mas agora já tem alguma dignidade.

2- Vale pelo reconhecimento, se é que isso vale o que vale. Temos que fazer o nosso trabalho e ponto final. Mas é uma forma de se lembrarem de nós.

3- Com muito esforço, muita luta, muitos comerciantes já desistiram, já baixaram os braços e outros ainda resistem da forma como podem, como sabem. Com poucos ou nenhuns apoios e quando digo apoio, não estou a dizer apoio financeiro, estou a falar em outro tipo de reconhecimento ou aconchego que se calhar não sentimos tanto e estou a falar da limpeza das ruas, da segurança… Não só de uma parte. Se calhar até é responsabilidade do município, por outro lado também dos cidadãos que se calhar também não visitam por algum motivo (estacionamento, etc) e também, por outro lado, pelos comerciantes. Todos nós contribuímos para o centro histórico como está neste momento.

4- Eu tenho esperança! Sou uma pessoa esperançosa… Se não esperasse nada, fechava a porta e ia embora, portanto é sinal de que espero alguma coisa. Mas eu tenho esperança que venham mais moradores e que o centro histórico seja reabilitado da melhor maneira e mais rapidamente possível, que as ruas sejam arranjadas, que haja mais segurança e que o turismo seja mais divulgado. Temos uma cidade muito bonita e que não é aproveitada.


António Gomes Mendes, cabeleireiro de homens. Há 48 anos no Centro Histórico. “Tudo o que se faça é sempre bem feito”

1- Eu acho bem.

2- Não tenho opinião sobre o que sinto ao ver a minha fotografia na rua, mas penso que tudo o que se faça é sempre bem feito.

3- A evolução no centro histórico de Santarém é cada vez mais fraca, é a minha opinião mais concreta. Cada vez menos pessoas, porque se tirou um bocado de tudo do que trazia movimento à cidade, como é que querem que a cidade tenha movimento? É completamente impossível…

4- Não sei o que se poderá fazer para a sociedade reviver, acho que isto é como tudo, como a gente vai ficando velha a cidade é a mesma coisa, tudo tem um tempo, uma geração.


Fernanda Menino, gerente de restauração. Há 25 anos no Centro Histórico. “Dizem que estou muito bonita…”

1- A iniciativa é interessante, há vários estabelecimentos que sendo antigos, não são conhecidos, talvez se houvesse mais gente e conhecessem as várias casas do comércio do centro histórico, haveria mais movimento em todo o centro.

2- Tranquila, além de que muita gente tem vindo dar os parabéns, dizem que estou muito bonita…

3- Muito mau, muito mau. Na minha casa não me queixo, graças a Deus. Tenho clientes certos também, há 25 anos que aqui estou. Tenho pena das pessoas que abrem e que fecham, que abrem por um, dois meses e depois fecham as casas. Aqui, ninguém se sujeita aquilo que eu e o meu marido nos sujeitámos. De princípio, esta casa foi feita com muitas lágrimas, porque as pessoas passavam e não entravam. Esta casa estava muito queimada. Agora sim, nós temos clientela fixa e outros que veem, a maior publicidade é o bom atendimento e a qualidade que servimos. Os amigos que também nos rodeiam têm feito publicidade boca a boca e existe um site só por existir: Restaurante ‘O Chefe’.

4- Não vejo grandes perspectivas, pelo menos com esta autarquia. Porque não têm feito nada por Santarém.


Manuel Duarte, empregado de hotelaria. Há 60 anos no Centro Histórico. “Embelezar a cidade”

1- Desde que seja para embelezar a cidade, acho bem todas as iniciativas.

2- Penso que acaba por ser um reconhecimento da Câmara e das entidades responsáveis pelas pessoas que têm sempre contribuído ou querem contribuir para a cidade.

3- Como algumas das outras cidades, Santarém tem andado um pouco para trás, não se tem conseguido manter, houve também uma crise e agora penso que o comércio começa a dar alguns sinais de se querer estabelecer.

4- Que seja um centro histórico reconhecido pelas entidades e que Santarém também seja reconhecido pelas entidades como um verdadeiro ex-libris de Portugal.

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