O Professor Doutor Cândido do Carmo Azevedo, é um cidadão do mundo. Com inspiração e formação militar desde criança no Instituto dos Pupilos do Exército, e, como “Oficial Comando” fez a guerra em África de 1969 a 1972. Os problemas da descolonização, força-o a regressar a Portugal em Dezembro de 1974 apresentando-se na Escola Industrial e Comercial de Santarém (EICS) como docente. Licenciou-se com dois Cursos Superiores: Educação Física e Desporto e em Ciências Históricas. Professor, Historiador, Investigador, Escritor, Cultivador do Assombro e Aventureiro, defende de forma intransigente o nosso Portugal, que aprendeu a amar no longínquo Oriente onde nasceu, em Damão, antiga Índia Portuguesa. Tem 55 anos de serviço público distribuídos por Moçambique, Portugal, Macau e China. Este mês completaram-se 50 anos da sua chegada a Santarém, onde se tornou pessoa conhecida e estimada pelo relevante serviço prestado à cidade e não só. Esta a razão para esta entrevista, procurando descortinar muito das suas “andanças e realizações” pelos quatro cantos do mundo.

Professor há 50 anos por esta altura chegava a Santarém. Porquê Santarém?

Em Novembro de 1974, ainda em Moçambique, concorri num mini-concurso para Professor de Educação Física e Desporto (EFD) em Portugal, embora ainda estudante. Entre várias cidades onde fiquei colocado, escolhi Santarém por razões familiares. Hoje digo que foi em boa hora. Chegámos a 4 de Dezembro e fomos muito bem recebidos. 

Há pouco tempo, teve o Correio do Ribatejo oportunidade de se referir ao início da ginástica de competição na cidade, logo após a sua chegada, há 50 anos… 

É verdade e estou muito grato aos meus antigos alunos por terem celebrado tal data. Essa celebração significa que pela nossa convivência desportiva consegui transmitir-lhes princípios orientadores para a sua vida escolar logo depois para o futuro profissional e social. Quando iniciei as funções de docente de EFD na Escola Industrial e Comercial (EICS), dei conta que a ginástica na cidade limitava-se a umas classes de ginástica infantil e a uma classe de saltos de “mesa alemã”, não existindo a vertente competitiva de ginástica de aparelhos e trampolins onde eu fora praticante e participara em competições em Moçambique. Após o consentimento do conselho directivo da EICS ainda nesse mês de Dezembro de 74 iniciei os treinos. Nascia na cidade uma prática gímnica, algo invulgar, de competição, fora do habitual futebol e hóquei competitivos, que havia à época para os jovens.

1970, Serviço militar em Moçambique

Sim, como disse valeu a pena e tem projectado o nome de Santarém por esse mundo fora…

É verdade. Logo em 75 um dos meus alunos, sagra-se campão nacional e ao longo de oito anos outros títulos de campeões nacionais e vice-campeões nacionais vieram para a cidade, projectando o nome de Santarém por Portugal e Espanha pois na ginástica de aparelhos por duas vezes vencemos a selecção de Salamanca. Ao longo destes 8 anos alunos mais velhos iam adquirindo formação diversa e competência na modalidade, pelo que não hesitei em 1982 “passar tal responsabilidade” para eles, porque meritório o trabalho que vinham desenvolvendo e também pelo facto de a partir de Setembro de 1976 eu ter outras responsabilidades. Esses antigos alunos fizeram um trabalho excepcional, que acompanhando o plano da Associação de Ginástica de Santarém, por mim criada em 1982, projectaram com o correr dos anos a ginástica de competição da cidade na alta-roda da ginástica mundial, fazendo jus à visão que eu tinha para a modalidade na nossa cidade. Não é por acaso que um destes meus alunos, o Professor Luís Arrais, é hoje o Presidente da Federação de Ginástica de Portugal. Entretanto naqueles anos porque dava ginástica todos os dias, centenas de crianças me passaram pelas mãos fossem ginastas da Casa do Benfica, da Associação Académica ou de Tremês, para onde me deslocava aos Sábados.

Disse ter outras responsabilidades, não só desportivas … em Santarém? 

Em Santarém e fora, porque com o 1.º Governo Constitucional deixo as funções de Professor na EICS, pois sou escolhido em Setembro de 1976 para chefiar a Delegação Distrital da Direção Geral dos Desportos (DGD), o que fiz ao longo de 12 anos até à minha partida para Macau, e que me obrigou a muitas viagens ao estrangeiro; de 1977 a 1985 pertenci à Comissão Executiva da Feira Nacional de Agricultura (FNA); por inerência de funções fui  vogal da extinta Região de Turismo do Ribatejo e à noite entre 1975 e 1979 frequentei a Licenciatura em História na Universidade de Lisboa. Mesmo com todos estes compromissos não abandonei os meus ginastas ao longo daqueles primeiros anos, a quem treinava duas vezes por semana. 

Com estudantes seus na Universidade de Pequim

No longo período em que foi o responsável da DGD, de 1976 a 1988, conviveu com vários governos…

Foram 11 os governos nesse período. O meu cargo não era satisfazer vontades dos políticos ou fazer politiquice, mas desenvolver o desporto enquanto técnico. Várias vezes, por discordância pus o meu lugar à disposição, não ficaria no desemprego, pois tinha o meu lugar de efectivo na EICS. Mandaram-me sempre continuar, até vir o convite do Governo de Macau, que aceitei.

Fale-me do trabalho então realizado ao longo desses anos na DGD….

A DGD Santarém estudava, planeava, investia. Por todo o lado surgiam centenas de núcleos de iniciação desportiva, animadores e dirigentes desportivos que hoje são a base de todo o desporto federado distrital. À época as Associações de modalidades do desporto federado eram apenas do Futebol, Hóquei em Patins, Pesca Desportiva e Columbofilia. Quando fui para Macau deixei criadas mais de 20 para o devido enquadramento e formação. 

As Autarquias eram desafiadas a um trabalho conjunto, mais no aspecto financeiro e de construção de infra-estruturas onde existia sempre a verba inicial da DGD para o arranque da obra. Que o diga Santarém que viu nascer as piscinas do Sacapeito e o Pavilhão Desportivo que tardava porque à espera da tão prometida “cidade desportiva” desde os anos 60; que o diga Rio Maior, da forma como surgirá o seu excelente Parque Desportivo que dará azo à Escola Superior do Desporto; que o diga Almeirim onde se mudou o Pavilhão Desportivo do meio das vinhas para o centro da cidade, etc.

No Sul da Patagónica, na visita ao Estreito de Magalhães

Sentia-se o “desporto para todos” mexendo com aldeias, vilas e cidades. Quando os meios económicos escasseavam, devidos às frequentes crises do país, tudo servia para apoio àquela boa gente de desinteressado voluntarismo desde o abraço sincero da felicitação à pequena taça de consolação. Estes tinham um significado enorme e profundo: dar a conhecer esse “estranho” fenómeno que era o direito de todos ao desporto. E nessa dúzia de anos o desporto distrital cresceu e rapidamente ganhou foro de internacional. O parque desportivo distrital cresceu exponencialmente ou foram melhoradas. Veja-se o Campo Chã das Padeiras ou o apoio à aquisição de carrinhas para diversos clubes da cidade.

Foram anos de grande entrega, liderando uma grande equipa com diversos Professores e Técnicos de Desporto. E porque tal desenvolvimento desportivo, assombroso, diga-se, carecia de um enquadramento inspirado na ética da responsabilidade, da verdade, da solidariedade e do “fair-play”, em 1984, criava eu o Panathlon Clube da Santarém (infelizmente hoje inactivo) visando enaltecer e defender o ideal desportivo que por todos os lados brotava, alicerçado aos mais elevados princípios morais, o que leva a Rádio Ribatejo, em prol da verdade desportiva, a emitir o debate semanal “Fórum Desporto”. 

Em 1988 é convidado e segue para Macau. Pode-se saber em que funções, esteve envolvido no Oriente?

Claro. Recordo que fui convidado por 4 anos e fiquei 30 anos. Sucintamente: de 1988 a 1994 num cargo de chefia no Instituto do Desporto e no Conselho de Juventude; em simultâneo, das 7 às 9 da manhã Instrutor da prática física dos jovens cadetes da Escola Superior da Polícia; de 1994 a 2001 no Instituto Politécnico de Macau, professor e coordenador do Curso Superior de Educação Física e Desporto e de 2002 (após o meu doutoramento) a 2013, o Curso Superior de Administração Pública, com um interregno de 6 anos destacado para a capital da China, para a prestigiada Universidade de Pequim; de 2015 a 2018, impossibilitado de trabalhar na Administração Pública por ter atingido o limite de idade, fui convidado para responsável da Área para a Actividade Artística, Sociocultural e Filantrópica da Fundação Rui Cunha (FRC), a maior Fundação privada de Macau. 

Oecussi, Timor

Este tipo de actividade, por exemplo no Conselho da Juventude e Fundação Rui Cunha, não foi sair um pouco do “mundo” onde se notabilizou em Santarém, refiro-me ao desporto e à sua administração, e ao ensino? 

Na verdade, a minha actividade profissional até me reformar foram aquelas que citou, fosse em Santarém, fosse no Instituto do Desporto ou no Ensino Superior. Quanto à sua questão, direi que não foi difícil pois ainda em Portugal e à frente da DGD Santarém, já inovava projectos para os jovens quando em férias, tais como “Operação Peito Aberto”, “A Criança e o Cavalo”, “Um dia com os Paraquedistas”, etc. Os 9 anos, em simultâneo, na Comissão Executiva da FNA (1977/1986) também me deram um bom suporte, pois durante alguns anos as Actividades Didácticas, as Relações Públicas, a Promoção e a Comunicação Social foram pelouros meus.  Com esta experiência foram muitos os projectos inovadores (em Macau o financiamento é garantido), pelo que aqui citarei alguns de foro diverso como a criação do “Gabinete de Apoio a Jovens Toxicodependentes”, o “1º Emprego para Jovens em Períodos de Férias”, “O Grande Encontro de Jogos Tradicionais Portugueses”, os “Passeios com História”, etc. 

Destaco dois, porque mais onerosos, que eu e um colega idealizámos e concretizámos: a ida a Macau do programa europeu “Jogos Sem Fronteiras” em 1990, única vez que aqueles Jogos da Televisão sob a égide da Rádio Televisão Italiana, saíram da Europa e acrescida com a equipa de Macau, foram estes emitidos por 75 países como uma edição especial de Natal; e ainda nos anos 80 os festivais do “Rock Macau” com bandas portuguesas e chinesas de Hong Kong, muitos anos antes do “Rock in Rio”. 

Concretamente qual a sua intervenção na Fundação Rui Cunha?

Apoiar projectos no plano artístico procurando promover jovens artistas lançando-os num plano internacional, ou procurar trazer até Macau artistas de vanguarda que pudessem contribuir para um enriquecimento da gente local. Refiro-me à pintura, escultura, cerâmica, “art exibition”, … etc. No campo musical procurar criar concertos, eventos ou “escolas” para todo o tipo de gostos: do piano ao “belcanto” ou do jazz à música contemporânea, bem como criar o Grupo Coral de Fundação. No plano literário criar espaço para debates, conferências, ou até edição de livros de jovens autores ou reedição de livros meritórios e antigos relativos à nossa presença no Oriente. Apoiar e promover diferentes tipos de cinema, etc. No plano filantrópico criar e coordenar equipas que voluntariamente actuassem em hospitais, lares da terceira idade, etc. Todos estes desempenhos foram desafiantes, pois trata-se de numa terra onde não falta financiamento para se fazerem coisas, quando vontade há. 

Condecorado em Macau

Toda esta actividade permitiu-lhe falar para auditórios internacionais, isto é, participar em Conferências ou Seminários no estrangeiro?

Sim, isso começou ainda estava eu em Portugal e como era um dos “veteranos” na DGD, favoreceu-me, pois fui enviado por vários Governos para diversas realizações no estrangeiro, tendo percorrido mais de uma dezena de países europeus. O mesmo aconteceu em Macau. Mas se a sua pergunta se refere a minha participação enquanto conferencista direi que sim que para além de Portugal já proferi conferências em países como África do Sul, Canadá, China, Austrália, Índia, Hong Kong, Brasil, Moçambique, fosse no âmbito do Desporto ou de História, devido `à minha dupla formação académica. Fui ouvido e lido, em várias línguas, nos cinco continentes.

Com a sua partida para Macau rompeu, direi o “cordão umbilical”, com Santarém e suas gentes?

Não. Em 30 anos vim cerca de 100 vezes a Portugal, pelo que mantive sempre ligações às pessoas de Santarém. Recordo que, por convite meu, diversas agremiações se deslocaram a Macau tais como a Orquestra Típica Scalabitana, o Rancho da Casa do Povo de Almeirim, etc. e vários técnicos e artistas de diferentes ramos, como o saudoso João Moreira do Folclore. Recebi também alguns Presidentes e Vereadores da Câmara de Santarém. Outras vezes porque excelente “guia turístico” era sempre procurado por visitantes da nossa região que se deslocavam a Macau em férias ou negócios. Mas também trouxe a Santarém técnicos, professores e alunos chineses, sendo alguns recebidos na CMS. Também em Santarém nesse período, fiz a apresentação pública de alguns dos meus livros.

Junto à estátua de Jorge Álvares o 1º português a chegar a Macau em 1513

Professor há que perguntar-lhe isto: nestas cinco décadas em Santarém, já alguma vez a cidade destacou esta sua forte ligação e o que fez por ela e seus cidadãos? Possui distinções?

Isso não tem importância, pois não trabalho a pensar em tal. Mas porque pergunta digo-lhe que possuo do Governo Português e da Federação Portuguesa de Ginástica que me foram atribuídas quando parti para Macau em 1988. Aqui tive várias do Governo local e de diversas Instituições Universitárias, entre as quais da Universidade de Pequim. Em Santarém o Correio do Ribatejo homenageou-me na Gala de 2018. Parti já há tanto tempo que para os novos gestores e para as novas gerações da cidade sou um ilustre desconhecido. E passo bem assim, pois julgo haver outros mais merecedores.

Falemos agora da sua actividade literária pois já tem vários livros publicados com alguns prémios literários e muita contribuição em jornais e conferências…

Sim. Enquanto único autor em 2021 saiu o meu 9º livro, “Pelas Malhas do Antigo Império. Heróis e Vilões: Coragem, Diversidade, Pecados e Traições”. Rapidamente se esgotou por ser portador de um conhecimento rápido e curiosos de todo o antigo Império Marítimo Português, que abrangeu mais de 100 territórios. Outros 2 livros existem onde sou co-autor, e mais dois respectivamente de 1886 e 1937 enquanto Coordenador-Editorial. Fui também contribuinte com múltiplas entradas no “Dicionário Temático de Macau”. 

Quanto aos Prémios Literários recebi em 1994 o “Prémio Camilo Pessanha” com o meu primeiro livro “Goa, Damão e Diu. Factos, Comunidade e Lazer nos meados do século XX”. Da Fundação Macau, Social Science in China Press e GuangDong Social Science in China recebi o Prémio Literário “Obra Excelente 2012” com o meu livro (minha tese de doutoramento) “O Lúdico na História do Oriente Português. Um diálogo intercultural do século XV ao século XX”. Refiro também que o meu livro “Portas do Cerco. A ténue fronteira no conflito sino-japonês de 1894 a 1945” foi editado em chinês pela Universidade de Comunicação da China.

Segundo sei vem aí mais um livro sobre o Oriente Português. Pode adiantar-nos alguma coisa?

É verdade. É fruto da minha investigação em Timor por onde estive por duas vezes. O livro surge porque dei conta que os Portugueses de hoje pouco sabem sobre aquelas distantes “ilhas das especiarias e do sândalo”, que os nossos antepassados alcançaram nos princípios do século XVI do outro lado do mundo e onde permanecemos quase 500 anos. O livro irá revelar o exotismo e mistério do rosto de Timor: coisas e gentes, costumes e tradições, mitos e crenças. Quanto à escrita nos jornais e inúmeras conferências o tema é sempre relacionado com a nossa Expansão Oriental, cujos territórios frequentemente visito, pois, dar a conhecer a realidade da presença portuguesa no Oriente, é um exercício de pedagogia necessário, pois não esqueço a história de Portugal, nem hipoteco o patriotismo à “cultura woke” reinante… 

É frequentemente referido, e nas nossas páginas já o fizemos, que cedeu ou gostaria de ceder às Câmaras de Santarém ou de Almeirim um rico património de milhares de peças desses antigos territórios do Império. Qual a situação actual?

Há aí alguma confusão. O património cedido no que respeita a uma colecção de cerca de 1600 piões de todo o mundo, o primeiro brinquedo surgido há mais de 10 mil anos enquanto instrumento de adoração ao Deus Sol, em diferentes tamanhos, material e formas de rotação, foram cedidos há cerca de 4 anos à Junta de Freguesia de Pernes, vila capital da madeira torneada, a pedido desta, pois nesta Vila nasceu o pião português no século XIX. As caixas com os piões já lá estão. Por razões diversas no que respeita ao local, tem sido constantemente protelado e o tempo vai passando o que me leva quase ao desespero, pois já lá vão 4 anos. Foi-me garantido que em Janeiro de 2025 começarão os arranjos com inauguração prevista no dia 25 de Abril.   

Quanto ao património artístico e cultural oriental trata-se de cerca de 1400 peças (móveis, dentes de marfim trabalhados, porcelanas, louças, pinturas, máscaras, artesanato, cerâmicas, cachimbos de ópio, pedras preciosas e semipreciosas trabalhadas, marionetas, brinquedos, jogos, etc. etc. enfim coisas de causar espanto) também dos antigos territórios do nosso Império Oriental, havendo necessidade de ser um local ligado a uma personalidade da nossa História inerente à Expansão Portuguesa. Porque em Almeirim viveu um dos vultos literários da nossa Expansão, o historiador Frazão de Vasconcelos e foi em Almeirim que decidi morar depois que vim de África, (e como militar cumpridor que fui, respeito a hierarquia, pelo que contacto primeiro o capitão e só depois incomodo o coronel), contactei inicialmente a Câmara Municipal de Almeirim, por escrito, via Vereadora da Cultura, que conjuntamente com o Vereador do Património vieram à minha casa ver parte dessas peças expostas e a quem mostrei toda a disponibilidade de ir à CMA apresentar peça por peça em “power-point” todo aquele património se assim o entendessem. Já lá vão 4 anos e como ainda não me responderam, julgo não estarem interessados. 

A Câmara Municipal de Santarém que também tem personalidades ligadas à Expansão Portuguesa mostrou interesse, na forma de exposições periódicas. Não aceitei porque há muitas peças muito delicadas umas de porcelana tipo casaca de ovo, outras de louças centenárias da dinastia Ming, de custos vultuosos, mais algum artesanato delicado que não podiam estar expostos a constantes montagem, desmontagem e embalagem. A Junta de Freguesia de Pernes novamente se disponibilizou a receber esse património, pois, o 1º Vice-rei da Índia D. Francisco de Almeida aí cresceu, ainda lá estando o palacete onde viveu. Aguardo mais algum tempo a decisão do local, pois muitos compradores me têm batido à porta. Não estou interessado em vender, pois estes museus serão acima de tudo de carácter didáctico e pedagógico sobre a nossa Expansão Oriental, que muito pode ensinar às nossas crianças e jovens. Terei muita pena se todo este riquíssimo património que dou, repito dou e não peço favores, para um Museu ou Galeria, não ficar numa destas cidades que foram os locais onde vivi e trabalhei. Contudo estou aberto a novas solicitações de outras entidades de fora dos concelhos acima referidos.

Nesta sua ecléctica actividade percorreu esse mundo. Parece ser um dos Portugueses que têm vidas sem fronteiras… 

Sim, fruto de muitas viagens em serviço de Portugal e Macau e ainda em trabalhos de investigação ou de aventura, que deve hoje rondar mais de 90 países. É sempre uma oportunidade de conhecer e aprender. Diria que já vi quase todas as 7 maravilhas do mundo sejam de arquitectura, da natureza, de tecnologia e até locais da barbárie. Sucintamente referirei uma ou outra porque mais “estranhas” e longínquas : o famoso e estranho porto de Cothon, quando a marinha cartaginesa dominava o mundo entre os séculos V e III a.C.; a famosa floresta de sequóias de Muir Woods, na Califórnia, com as árvores mais antigas e altas do mundo com mais de 2 mil anos e algumas já petrificadas; Chichén Itzá o pólo urbano importante do povo maia nos séculos VI a VIII d.C.; o “canal de Panamá”; o “Mar Morto” na Jordânia; a fortaleza portuguesa de Mombaça; os “campos da morte dos “kmers vermelhos” de Pol Pot e “Angkor Vat” no Camboja, os  “túneis dos vietcongues” no Vietname; a estrada da morte de Baatan, Filipinas etc. A procura da aventura foi uma constante na minha vida, sendo que a mais perigosa foi descer em “rafting” o rio Trisuli, por 2 dias, em Março de 2009, o degelo dos Himalaias no Nepal ou trepar as escarpas do “Flinders Ranges”, em Adelaide na Austrália ou conduzir um trenó puxado a cães no Círculo Polar Ártico. Mas para não ser maçador aqui, convido os interessados para o site da Rádio Observador e ouçam a entrevista que dei ao Programa “Conversas do Fim do Mundo” que valerá a pena e onde conto até já ter sido preso por duas vezes, nestas minhas andanças pelo mundo.

Para finalizar. Sabemos que o Professor milita o partido do Governo, e já foi autarca em Almeirim. Algum interesse de carácter político para 2025?

Muita gente me pergunta isso na rua, porque já regressei de vez a Portugal. Nenhum interesse por vontade própria pois hoje sou um académico, homem de livros e História. Mas estarei sempre disponível para servir os portugueses, como sempre fiz, mas terão que ter em conta as minhas limitações pois já sou septuagenário.

JPN

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