Entrevista a Nuno Domingos, vereador da Cultura no Município de Santarém

“O Verão In.Str nasceu como um grito de vida e de vitalidade dos agentes culturais de Santarém”

Qual é a importância da programação de Verão em Santarém para o desenvolvimento cultural do concelho?

A Iniciativa Verão In.Str, nasceu em 2015, num contexto muito especial. Vivíamos um tempo de grandes constrangimentos económicos e financeiros no Município e o evento foi como que um grito de vida e de vitalidade dos agentes culturais de Santarém, na defesa do Centro Histórico da sua cidade. Esse desígnio, manteve-se durante os seis primeiros anos. No último dos quais (2000) e em 2021, com os efeitos da pandemia de permeio. No inicio deste mandato e, verificando-se já o desanuviamento da situação financeira do Município, foi possível pensar a acção cultural de uma forma mais ampla e essa perspectiva também se reflecte no que à Iniciativa Verão In.Str diz respeito.

Como olha para a evolução deste projecto, desde o seu início, em 2015, e quais são os seus principais objectivos?

Os seis objectivos traçados para a intervenção cultural no concelho, parcialmente plasmados no Acordo de governação da Coligação definem o modelo de intervenção preconizado. Neles se inscrevem três ideias fundamentais a promoção e na valorização do Centro Histórico, aqui alargada à necessidade de Unir a cidade e à relevância de Unir o concelho, (o que implica articulação da programação da cidade, com os Projecto Vilas e Itiner’Arte, entretanto criados).

Naturalmente que por detrás desta afirmação estão um conjunto de objectivos específicos nomeadamente: O fortalecimento de uma rede de entidades públicas, privadas, associativas, de artistas e de agentes culturais que contribuam para a afirmação e sustentabilidade de Santarém como espaço de cultura; O fomento da complementaridade e interacção entre as estruturas de criação e produção culturais e artísticas, com outros agentes (económicos, desportivos, educativos, potenciadores de dinâmicas educadoras para a cidadania, para a participação inclusiva e para a sustentabilidade); A prática de implementar e desenvolver conceitos e práticas de gestão, difusão e dinamização cultural participadas; O fortalecimento da atractividade turística de Santarém, através da valorização das vivências culturais, emocionais, sociais, entre outras.

De que forma a programação de Verão tem sido expandida para além do centro histórico, abrangendo as freguesias e qual foi a intensão desta mesma expansão?

No plano do Unir a cidade, foram criados inúmeros novos “palcos”, como: o Jardim do Alto do Bexiga, o Jardim de Cima, a Mata de Carvalhos das Trigosas, o Jardim dos Leões, O Sacapeito, o Skate Park, Caneiras, associações culturais da periferia da cidade, a par de alguns já antes usados ainda que pontualmente, como a Praceta Cónego Formigão em São Domingos, a Fonte das Figueiras, ou o Jardim da Biblioteca Municipal, a Ribeira de Santarém, entre outros;

Quanto ao Unir o concelho, elegemos como interlocutores fundamentais os Srs. Presidentes de Junta de Freguesia e os respectivos executivos, com os quais fomos conversando, no sentido de promover uma programação cultural adaptada a cada local. 

Quais são os desafios enfrentados ao levar eventos culturais a todo o território do concelho?

O desenvolvimento incluindo o desenvolvimento cultural no território é desigual, como é normal que aconteça. Desigual nas suas componentes, desigual naquilo que as comunidades vêm promovendo, desigual nas suas práticas. Temos exemplos de freguesias com grande dinâmica artística, por exemplo no campo da música e situações, onde as iniciativas se inscrevem mais no âmbito da recreação. Por todo o território, as Festas Populares têm uma dinâmica intensa, sendo importante reconhecer que nos últimos anos, se tem observado uma importante diversificação de temas e de práticas. É, pois, neste território múltiplo e multifacetado que nos movemos e também por isso, se procurou cruzar experiências de apresentação de estímulos estéticos menos presentes na oferta tradicional, com oportunidade de encontro mais prolongado no tempo (participação) com artistas e produtos artísticos. Neste âmbito a oferta de oportunidades de residência artística assume um espaço relevante, até pelo facto de propiciar formação artística, ainda que informal.

Quais são as iniciativas mais emblemáticas previstas para este Verão IN.STR?

É muito difícil responder a esta questão, dado que cada acção foi pensada para um contexto(s) específico(s). Por exemplo, vamos celebrar os 150 anos do compositor Rachmaninov, com um único concerto em Gançaria.

Em todo o caso, de caracter comunitário, destaco o Dançar com …(a) Liberdade, espectáculo a construir em residência artística com a população mais idosa; Um Canto de Liberdade, espectáculo de teatro comunitário, em torno do 25 de Abril; bem como as residências artísticas Rasgo, de Cinema e de Arte Urbana.

Quanto a espectáculos, o projecto Inquieto, uma produção teatral da Associação Poético Paralelo, construída de raiz sobre as vilas de Alcanede, Amiais de Baixo, Pernes e Vale de Santarém, e os concertos Remenber 70, 80, 90, Tributo ao Trovante, o espectáculo de Fogo A Evolução do Homem, Simphonic Rock, Top Singles Portugal, a programação de caracter mais étnico de A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria,  Dino de Santiago, Kumpania Algazarra, para os amantes da música Rock, o Rock da Velha, no Dia Mundial do Rock (15 de Julho) e o concerto da associação Cartaxo Sessions, ainda o concerto Ópera para Todos (produção INATEL), no encerramento do Verão In.Str e as Galas de Danças de Salão.

Um destaque muito especial, vai para o Festival de Estátuas Vivas, no segundo fim de semana de Agosto.

Que critérios estiveram subjacentes à selecção dos eventos culturais que serão incluídos na programação? 

Creio já ter dado informação a este respeito. No entanto, quero aqui destacar a presença dos criadores artísticos do nosso território. Refiro-me a diversas propostas musicais, de dança contemporânea, de teatro, ou ainda a diversas residências artísticas, o regresso do Yoga (através da AMA – Associação Movimento Aberto), bem como a importantes projectos, dos quais destaco: a Serenata Monumental (grupo de Guitarras e Canto de Coimbra), o Encontro de Coros do Ribatejo (Coro do CCS), a Semana do Piano, (Conservatório de Música), a Exposição Descobrir Luísa Andaluz, ou a Programação do Museu Diocesano.

A seu ver, de que forma o IN.STR contribui para promover a coesão social e fortalecer a identidade local?

Os projectos de residência artística de um modo geral têm esse objectivo bem implícito. No entanto, os projectos Inquieto e Um Canto de Liberdade, este último cruzando a participação de cerca de 60 participantes, de todo o concelho, afirma esse objectivo de forma muito clara e fá-lo com recurso a um tema absolutamente decisivo para a nossa sociedade e para a nossa vida colectiva, o tema da Liberdade.

Além da programação de Verão, quais são os outros momentos importantes ao longo do ano nos quais a programação cultural é descentralizada?

Começo por referir a nossa programação dedicada ao publico escolar. Esta é uma prática já com história no nosso concelho. Mas, ao estudar mais de perto o assunto, deparamos com o facto de serem os alunos dos agrupamentos escolares mais próximos da cidade que beneficiam da programação artística dos equipamentos Municipais. Foi por isso que entendemos promover uma aposta na programação artística, mais itinerante, que possa chegar aos Agrupamentos D. Afonso Henriques, que cobre todo o norte do concelho e Alexandre Herculano. Passámos assim a acentuar a dinâmica de ser o teatro, a dança, a biblioteca a ir à escola. 

Depois no que aos outros públicos diz respeito, definimos como calendário tipo, o Março – mês do teatro, o AbrilArte (celebrando a Liberdade), A Iniciativa Verão In.Str, e com uma escala mais contida, o Novembro Mês de Santareno e a celebração do Natal. Este ano, no contexto do FÓS – Festival de Órgão de Santarém, esperamos iniciar uma experiência de descentralização do Festival.

Como é que a Câmara Municipal de Santarém colabora com os agentes culturais do concelho para garantir uma programação cultural articulada e evitar sobreposições?

Desde o início do mandato que na cidade, onde podemos encontrar um conjunto de estruturas culturais e artísticas a funcionar em sistema de oferta de oportunidades permanente ao longo do ano, iniciámos a prática de promover articuladamente a oferta de arte e cultura de forma conversada entre todos os promotores. Normalmente funcionamos por ciclos de trimestre, embora, se observe um certo crescimento da oferta de propostas, o que tem levado algumas vezes, à necessidade de passarmos a uma lógica bimensal.

Fora da cidade, distinguimos diferentes intensidades, consoante a dimensão populacional e de hábitos de cada freguesia, mas procurando um enquadramento mais intenso para as Vilas do concelho, locais onde se agregam números mais alargados de populações. Em todo o caso, todo esse processo se desenvolve em articulação com os/as nossos/as Autarcas das Freguesias. 

Como é que o público tem respondido à programação cultural de Verão em Santarém nos últimos anos?

A resposta do publico tem sido muito agradável. Tem comparecido em grande número e usufruído dos espectáculos. Esse agrado tem estado representado nos inúmeros comentários presentes nas redes sociais, que vamos vendo, por vezes com sugestões que vamos procurando acomodar na programação. Também os comerciantes da cidade, particularmente os do Centro Histórico têm sido particularmente activos, quer com iniciativas, quer com acções concretas, que vamos procurando apoiar. É o caso da exposição / mercado de artesanato, na Rua Serpa Pinto, mas também dos comerciantes da Rua Arco de Manços que vão oferecer Fado todas as quintas-feiras, ou os da Praça Sá da Bandeira, que se propõem complementar a oferta de animação todas as sextas e sábados.

Quais foram os principais resultados alcançados desde o início do projecto In.Santarém em termos de promoção do centro histórico e atracção de visitantes?

Este é um processo. Uma tarefa que nunca está concluída, pois tem de ser continuamente alimentada. Ao longo deste processo, algumas coisas foram sendo conseguidas, voltar a olhar para o Centro Histórico da cidade como um território de desejo e desejado, reforçar o seu entendimento como um local identitário e mobilizador da nossa idiossincrasia, nesta relação com a história, o passado, a paisagem envolvente, mas também os desafios da modernidade. Mas muito há ainda por fazer e o reforço dos mecanismos de oferta de habitação é um deles. Quiçá o fundamental. Quanto à cultura e à arte, o seu papel está a ser cumprido e alegra-nos como antes referi aquela que começa a afirmar-se como uma preocupação dos principais actores do Centro: habitantes, comerciantes e promotores de visitação.

Como é que a programação de Verão tem contribuído para o desenvolvimento económico local, especialmente no sector turístico?

A melhor resposta penso que está na crescente participação dos comerciantes, na animação cultural da cidade. Importa, no entanto, destacar o papel da ACES – Associação de Comerciantes e Empresários de Santarém, que muito tem contribuído para este desiderato, numa colaboração que no caso do In.Str, remonta ao ano do seu nascimento, em 2015.

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