O presidente da Cáritas Portuguesa manifestou a sua preocupação com o aumento do número pessoas que “têm caído em situação de pobreza” durante a pandemia deCovid-19.
“Os recursos são escassos, tanto os recursos humanos, como os recursos materiais, e há aspectos da ajuda para os quais que não estávamos totalmente preparados, nomeadamente aquilo que muitas vezes não tem a ver com a pobreza material”, disse Eugénio Fonseca, numa entrevista a respeito do IV Dia Mundial dos Pobres, que a Igreja Católica celebra no próximo domingo.
O presidente da Cáritas Portuguesa refere que a instituição registou um aumento de 48% nos pedidos de apoio e sublinha que, além dos números, existe um “factor de exclusão” que resulta do confinamento que “leva muitas vezes as pessoas a não estarem apenas confinadas, mas a estarem isoladas”.
“Este ir ao encontro das pessoas, cada comunidade fez o que pôde, mas no sector da acção socio caritativa da Igreja em Portugal o que predomina são as pessoas em idade de risco o que não nos permitiu estarmos tão próximos quanto desejaríamos”, acrescentou.
Eugénio Fonseca destacou que na parte material existiu “uma onda de solidariedade extraordinária”, relativamente aos Bancos Alimentares Contra a Fome, que permitiu “ir valendo na satisfação das necessidades básicas” a cerca de 29 mil pessoas.
A Cáritas Portuguesa chegou ainda a 6 mil pessoas, no âmbito do programa que quer “inverter a curva da pobreza”, através da campanha ‘Heróis doar’ e que “precisa urgentemente de ser reforçada”.
Segundo o responsável, a pobreza necessita de respostas que passam por “medidas politicas-públicas” mas, cuja aplicação, “tem que ter uma metodologia de grande proximidade” o que leva a que as comunidades cristãs ou mesmo a nível interparoquial “se dê maior atenção e se cuide mais do tipo de grupos” que estão constituídos na acção social.
O Governo português anunciou a criação da comissão de coordenação para a elaboração da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, com “individualidades de reconhecido mérito” que vão elaborar o plano com que se pretende “mitigar as desigualdades e garantir condições de vida dignas para todos os cidadãos” e vão ouvir entidades como a Rede Europeia Anti-Pobreza, a Cáritas Portuguesa, a Confederação das Instituições Sociais, a União das Misericórdias Portuguesas.
“Que esta estratégia passe por medidas que levem a que as pessoas não fiquem em situação de empobrecimento rapidamente. Combater a pobreza é incidir sobre o que já existe, combater o empobrecimento é criar condições para que deixem de existir essas mesmas condições”, salientou Eugénio Fonseca.
O presidente da Cáritas Portuguesa alertou para factores como as rendas de casa, “muitas vezes inacessíveis aos salários existentes”, “a condição e acesso a salários dignos”, a igualdade de oportunidades ao Serviço Nacional de Saúde – SNS, uma justiça acessível a todos “mesmo com menos recursos económicos”, a redistribuição do rendimento disponível “através de um novo formato fiscal que não incida tanto nos rendimentos do trabalho mas possa incidir mais nos rendimentos do capital”, o acesso á igualdade de oportunidades a todos os níveis de ensino.
A Igreja Católica assinalou o quarto Dia Mundial dos Pobres no domingo, 15 de Novembro, com o tema ‘Estende a tua mão ao pobre’; Esta iniciativa foi instituída pelo Papa Francisco no contexto do Jubileu da Misericórdia, no penúltimo domingo do Ano Litúrgico.
A partir do tema da mensagem do Papa, o presidente da Cáritas salienta que Francisco pede que se segurem as pessoas.
“O grande desafio mesmo à Igreja é olhar para o pobre não como o culpado, o réu da situação em que se encontra, mas como alguém que foi vítima e depois tem atitudes e formas de estar de um sistema gerador de muitas injustiças e basta ver as desigualdades que existem no mundo”, desenvolveu.