Nuno Labau é o responsável pela dança contemporânea da SRO e convida os alunos, crianças, jovens ou adultos a performances estimulantes. A sua formação é em ballet clássico, mas começou a dançar música contemporânea aos 22 anos, trabalhou com coreógrafos de renome e defende a dança como uma capacidade de exprimir o próprio corpo.

Qual é o conceito que está subjacente a este novo projecto da SRO?
É-me difícil responder a esta pergunta. E é-me difícil porquê, eu simplesmente pedi um espaço à SRO para dar umas aulas de dança Contemporânea, porque fui contactado por uma antiga aluna aqui da região que me disse que queria continuar o seu trabalho comigo, e isso foi o que incentivou o meu pedido a direcção da associação. Depois, a Laura Esperança disse-me que estavam a abrir uma escola de música e era interessante juntar a minha aula de dança com a escola, até porque o trabalho que realizávamos tinha uma linha artística subjacente e por isso fazia sentido. Também me é difícil responder porque não faço parte do motor organizador desta escola, neste momento encontro-me só como professor, mas pelas conversas que temos tido, penso que a pedagogia, ou seja o ensino mais personalizado, direccionado a cada aluno enquanto indivíduo, e as suas capacidades e necessidades específicas é um dos pilares de construção deste projecto. Também neste momento esta aula, serve como um projecto piloto, de onde eventualmente quero construir uma escola de artes performativas, onde se poderá aprender desde teatro e todas as suas variantes, como dança e todas as suas variantes. Para o ano irei apostar em aulas de Ballet (dadas por outro professor, ou professora) mas antes há que angariar fundos para criar as condições necessárias para a boa prática da técnica. Quero dar um pequeno passo de cada vez, não tenho presa para criar um projecto enorme e já com muito sucesso.

Qual tem sido o interesse manifestado pelos participantes?
Como todas as aulas artísticas de cursos livres custam a arrancar. Temos cerca de quatro pessoas interessadas neste momento nas aulas, mas isso vai de encontro à pedagogia que pretendo implementar. Assim que estas aulas foram pensadas, avisei logo que não queria mais de seis alunos por classe, porque quero mesmo concentrar-me nas necessidades de cada um, para que o desenvolvimento seja regular e profícuo, até porque a sala que temos disponível não permite que sejam mais de cada vez, para poder haver deslocações e para que os alunos sintam o prazer de sentir o corpo a mexer, as salas pequenas por vezes são problemáticas a uma boa prática. Sinto que isto vai de encontro aos objectivos da escola e quero que assim continue. Visto que só abrirei duas turmas, quero ter no máximo 12 alunos, seis com uma turma mais nova e seis com uma turma com pessoas a partir dos 18.

Nuno Labau na ‘performance’ “Corpus Rei Publicae”, que criou a convite do projecto municipal Santarém Cultura, para assinalar o centenário do dramaturgo Bernardo Santareno.

Que objectivos se pretendem atingir?
Interessa-me, caso existam alunos suficientes, conseguir fazer coreografias mais académicas que possam ser apresentadas em concursos, criar espectáculos em que se explorem conceitos, como num verdadeiro espectáculo de dança contemporânea, e obviamente preparar os alunos caso queiram seguir este caminho da arte, mas acima de tudo que as pessoas se divirtam e descubram que se podem superar. Eventualmente, pretendo abrir uma companhia de dança em Santarém, que sinto que é mais do que necessário, gostaria que existisse um esforço de aproximação de todas as escolas de dança artística nesse sentido, pois podemos ter ideologias diferentes em relação à arte e ao mundo artístico no geral, mas penso que todos queremos uma actividade artística mais regular e consistente no concelho, podemos lutar por um objectivo comum sem perder a identidade de cada escola.

Qual é a sua opinião em relação ao actual panorama cultural em Santarém?
O que tenho visto é que temos muitos jovens a iniciarem-se na arte, através dos projectos pedagógicos de várias escolas o que é muito bom, sinto que alguns continuam o seu percurso no teatro, na dança nas artes plásticas, mas o concelho não tem forma de as agarrar. Sinto que há a necessidade, visto Santarém ser a capital do distrito, de uma política reguladora e de incentivo aos artistas emergentes, é uma opinião que já tenho dado algumas vezes, para atrair e desenvolver mais e mais a arte contemporânea e os artistas que a executam. Às vezes sinto que estamos a ficar um pouco ultrapassados pelo desenvolvimento em comparação com outras partes do país, porque existem poderes que têm de ser legados aos mais jovens para que a espiral do tempo possa continuar de uma maneira saudável. Sinto também que desde o Pedro Barreiro, que esteve a frente do Teatro Sá da Bandeira, que existe uma melhoria significativa neste sentido. Também sinto que o novo projecto Santarém Cultura dirigido pelo João Aidos tem sido, sem dúvida uma mais valia, para Santarém, que tanto através da programação como do incentivo à criação têm trazido um leque cada vez mais diverso de trabalhos ao Município, embora também pense que por vezes não fazem mais porque se deparam com os poderes já instituídos de associações ou projectos, que infelizmente na minha perspectiva, estão a necessitar de uma grande restruturação. Posto isto, e como tive uma formação numa escola fantástica como o Chapitô eu acredito na arte enquanto ferramenta de aproximação social, e utensílio de combate aos dogmas seculares e dessa forma uma forma de expansão individual e colectiva. Ainda há muito para fazer, mas quero acreditar que estamos no bom caminho.
Quero só acrescentar que tudo o que digo provém de uma perspectiva muito pessoal, e é uma perspectiva limitada pelo meu próprio campo de visão.

Leia também...

“No Reino Unido consegui em três anos o que não consegui em Portugal em 20”

João Hipólito é enfermeiro há quase três décadas, duas delas foram passadas…

O amargo Verão dos nossos amigos de quatro patas

Com a chegada do Verão, os corações humanos aquecem com a promessa…

O Homem antes do Herói: “uma pessoa alegre, bem-disposta, franca e com um enorme sentido de humor”

Natércia recorda Fernando Salgueiro Maia.

A herdade no Alviela e o pergaminho que ia para o lixo

Pergaminho do século XII salvo do lixo em Vale de Figueira.