Santarém vai recriar na próxima semana as colunas militares lideradas por Salgueiro Maia na Revolução de Abril, rumo a Lisboa e no regresso à cidade ribatejana, uma iniciativa simbólica que pretende recordar os “heróis anónimos de 1974”.
A reconstituição das colunas militares, nas palavras do vereador da Cultura da Câmara Municipal de Santarém, Nuno Domingos, “é uma ação relativamente simples, mas com um enorme significado simbólico”.
“Esta iniciativa está relacionada com a questão dos heróis anónimos. É um reconhecer da importância que alguns militares tiveram, em particular o Salgueiro Maia, na mudança do regime”, contou Nuno Domingos à Lusa.
A recriação está dividida em dois momentos, com a saída rumo à capital a acontecer na madrugada de 24 para 25 de abril, na porta de armas da ex-Escola Prática de Cavalaria (EPC).
A marcha até Lisboa faz parte do espetáculo de teatro “Esta é a madrugada que eu esperava”, que envolve uma reconstituição dos momentos que antecederam a saída da coluna militar e conta com a encenação de Rita Lello e texto do Coronel Correia Bernardo, um dos capitães envolvidos no Movimento das Forças Armadas e que planearam com Salgueiro Maia a conquista da liberdade.
O regresso, por seu turno, acontece no dia 27 de abril, com a reconstituição da chegada da coluna militar, através de um pequeno percurso, desde o Jardim da Liberdade até ao Largo da Câmara de Santarém.
Neste dia, vários militares serão convidados pela autarquia a irem às varandas do município, à semelhança do que aconteceu em 1974, quando os oficiais foram aclamados pela população que enchia o largo.
Para a concretização da iniciativa, a Associação Portuguesa dos Veículos Militares Antigos (APVMA) tem vindo a recuperar uma série de viaturas, que também farão parte de uma exposição dedicada ao Exército, no Jardim da Liberdade.
Nuno Domingos descreveu a recuperação dos veículos como um processo difícil, uma vez que a maior parte destas viaturas “são objetos museográficos”.
A reconstituição do regresso a Santarém vai contar com dois veículos militares ligeiros emblemáticos – duas chaimites que foram alvo de um trabalho de restauro pela APVMA.
“A Bula, onde foi transportado o então presidente do Conselho, Marcello Caetano, quando saiu do Quartel do Carmo após a rendição do regime, e Bafatá. Esta última vai ficar em exposição na fachada da ex-Escola Prática de Cavalaria”, revelou Nuno Domingos.
Além do trabalho desenvolvido pela APVMA, a recriação resulta de um longo trabalho de coordenação entre a Câmara e o Exército.
“Do ponto de vista operativo, há cerca de dois anos que andamos a trabalhar nisto. Falámos com o chefe do Estado-Maior do Exército, com o chefe de Estado Nacional das Forças Armadas, com o grupo que coordena os antigos militares da ex-Escola Prática de Cavalaria, com o Serviço de História e Cultura do Exército, com a banda do Exército e com alguns munícipes. É uma organização que pressupõe um conjunto muito alargado de boas vontades”, referiu o vereador.
Após o regresso da coluna militar, está previsto um concerto do carrilhão LVSITANVS, de homenagem a Zeca Afonso e a outros cantores de Abril, como Adriano Correia de Oliveira, Vitorino e Ermelinda Duarte, entre outros, na Praça do Município.
Este carrilhão, a cargo de Ana Elias, tem sete toneladas e é composto por 63 sinos, sendo o maior carrilhão itinerante do mundo.
A autarquia montou uma programação repleta de iniciativas culturais para os 50 anos do 25 de Abril, desde concertos e exposições até espetáculos de teatro, entre 03 e 27 de abril.
Nuno Domingos considera que Santarém é uma das referências no que diz respeito às comemorações e que a diversidade é a principal característica do cartaz: “Queríamos programar um evento que fosse para todos, desde aqueles que gostam mais do Sérgio Godinho ou do Júlio Resende até aqueles que gostam mais, por exemplo, da Bia Ferreira. Procurámos que todas as pessoas se possam rever nesta programação e celebrar a democracia, o desenvolvimento e a descolonização.”