Gastronomia, artesanato e diversos momentos de animação são alguns dos destaques da 42.ª edição do Festival Nacional de Gastronomia de Santarém, que decorre desde ontem, dia 27 de Outubro e terminará a 5 de Novembro e conta pela primeira vez na organização com associações e instituições do concelho. Sob o mote “Tradição com Sabor a Futuro”, esta edição pretende preservar e celebrar as tradições culinárias e gastronómicas do país, aliadas à inovação e modernidade na cozinha. 30 produtores agroalimentares, 20doçarias, 18 stands comerciais e institucionais, 30 artesãos, oito restaurantes permanentes, diversas demonstrações gastronómicas, a presença de nove regiões de vinhos, a Praça Confagri, uma zona dedicada ao vinho (AMPV – Associação de Municípios Portugueses do Vinho), duas cozinhas para demonstrações gastronómicas, espaço de petiscos com chefs de renome e uma área de banquetes com conceituados chefs compõem a Casa do Campino que vai acolher mais uma edição deste Festival.

Nesta edição, haverá um conjunto de iniciativas que vão permitir a consolidação do evento e a capacidade de atração de novos públicos. Destaque para a apresentação da Carta Gastronómica para o Concelho de Santarém, um documento estratégico para alavancar novas gastronomias que ‘bebam’ na fonte da tradição gastronómica do Concelho; a qualificação das estruturas com um layout e condições de acolhimento premium para os visitantes; acções de formação promovidas pela AHRESP; um seminário promovido pela Escola Profissional do Vale do Tejo; experiências Gastronómicas de vanguarda com os mais conceituados Chefes Portugueses em jantares premium; duas zonas dedicadas à restauração com conceitos distintos que cruzam tradição e modernidade, uma zona com quatro restaurantes em que consagrados Chefes de cozinha apresentam um novo olhar sobre a gastronomia Portuguesa e outra onde voltam a apresentar-se alguns dos mais icónicos restaurantes de base tradicional do nosso país.

Reforço, ainda, para a presença de um elevado número de Municípios (cerca de 47) com diversos produtores e expositores de vinho numa parceria com a AMPV, reforçando no Festival uma componente indissociável da gastronomia e promovendo diversas mostras, provas e harmonizações que evidenciam a qualidade e diversidade dos vinhos Portugueses de Norte a Sul do País. Os Municípios da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo voltam também a estar presentes no Festival com um programa de actividades forte

“O Festival Nacional de Gastronomia é hoje um evento consolidado na oferta turística de Santarém, do Ribatejo e do país, o que permite ao Município de Santarém projectar este evento como o maior Festival Gastronómico do País e o único de abrangência Nacional. Pretendemos reforçar a qualidade e, principalmente a ligação ao nosso território e às forças vivas do nosso Concelho, com a grande novidade do envolvimento de associações de grande prestígio e influência como a Associação Comercial e Empresarial e Serviços – ACES, o Círculo Cultural Scalabitano, a Associação de Municípios Portugueses do Vinho e a Confraria da Gastronomia do Ribatejo”, diz João Teixeira Leite, vice-presidente da Câmara Municipal de Santarém com o pelouro do turismo e grandes eventos.

Qual é, na sua perspectiva, o prato forte desta edição do Festival Nacional de Gastronomia?

A tradição com sabor a futuro, o mote da 42ª edição do Festival Nacional de Gastronomia, será o prato forte deste evento, modernidade e tradição estarão de mãos dadas e esta condição irá fortalecer o espírito inovador e dinâmico deste que é o principal evento gastronómico do nosso País.

Vamos ter durante os 10 dias do evento vários motivos que merecerão a nossa visita, chefs, cozinheiras e cozinheiros, em vários momentos, com petiscos, refeições completas, demonstrações gastronómicas, provas de vinho e conferências, tudo isto irá abrilhantar o evento que, recorde-se, foi considerado, em 2021, o evento do ano.

Quais são as expectativas da organização para este ano?

As expectativas são muito elevadas, ano após ano, o evento tem tido aumento do número de visitantes, as melhorias introduzidas nas últimas edições trouxeram novos públicos ao evento, mas também novos parceiros, estes trouxeram a possibilidade de o Festival crescer e trazer dinâmicas que mobilizarão a população em geral.

De que forma o FNG irá, este ano, envolver as forças vivas do concelho, incluindo associações e instituições, na sua organização e execução?

Esta é uma das grandes novidades desta edição. É fundamental que Santarém, a população em geral e as Associações e Instituições em particular vivam com intensidade o Festival Nacional de Gastronomia, foi com este princípio que decidimos envolver a ACES (Associação de Comerciantes de Santarém), o CCS (Círculo Cultural Scalabitano), a AMPV (Associação de Municípios Portugueses do Vinho) e a Confraria Gastronómica do Ribatejo, cada uma destas instituições faz parte da organização, por áreas temáticas irão promover um conjunto de iniciativas e dinâmicas que farão desta edição uma das mais criativas e sobretudo participadas.

Como olha para a evolução do certame ao longo destas 42 edições, e quais foram as maiores mudanças, inovações e conquistas ao longo dos anos?

É exigente manter durante 42 anos um evento com vida e projeção, Santarém tem sabido fazer isso com enorme capacidade e qualidade. Importante relembrar que nos últimos 3 anos, como disse anteriormente, fomos considerados evento do ano e tivemos outra distinção importante, o facto de termos sido considerados um dos 25 melhores festivais gastronómicos da europa, são factos que nos enchem de orgulho e de muita responsabilidade. Estas conquistas são o reconhecimento da vitalidade do Festival e de que as mudanças introduzidas ao longo dos últimos anos provocaram consequências positivas no evento. Chamar ao evento a nova cozinha com a introdução dos Chefs na programação são factores fundamentais, os novos parceiros do evento com a CONFAGRI e a Makro trouxeram a capacidade de envolver muitos produtores de âmbito nacional e no último caso a capacidade de juntar os petiscos aos novos chefs. O reforço do apoio da Repsol Portugal e da Entidade de Turismo do Alentejo e Ribatejo é clarificador e obriga-nos a aumentar a qualidade do evento.

O FNG é uma marca que não se perde, mas ainda se fala de uma certa descaracterização do festival, que perdeu um cariz mais popular. Como responde a isso?

É a evolução natural de um evento que para atrair mais público e mais parceiros tem de inovar e chamar a si a modernidade dos dias de hoje. O Festival mantém uma forte componente popular, vamos ter mais de 50 municípios envolvidos no evento que vão trazer até nós a sua gastronomia, o seu vinho e muito da sua cultura com forte incidência na etnografia. O cariz popular mantém-se, mas aliado à modernidade.

Que estratégias são, então, implementadas para garantir que o festival preserve e promova as tradições culinárias nacionais?

Num caminho começado em 1981 quando, com ousadia e inovação, as gentes de Santarém fundaram o Festival Nacional de Gastronomia, hoje amplamente reconhecido por todos como o “Pai dos Festivais Gastronómicos”, Santarém tomou como sua, a liderança na defesa e na promoção do património gastronómico Português, património este, entretanto considerado pelo Estado Português como um “bem imaterial integrante do património cultural de Portugal”.

Ao longo destes 42 anos de história foram centenas os cozinheiros, os amantes da boa mesa e até os especialistas em gastronomia que passaram por Santarém, tanto para criar, como para provar, mas acima de tudo para trazer a lume a temática da gastronomia em toda a sua pluralidade. Durante o Festival, Santarém, é o palco privilegiado para a mostra dos aromas e sabores do nosso país,  posicionando-se nos panoramas nacional e internacional como a cidade representante dos valores da Gastronomia Nacional. São mais de quatro décadas de mostra da representatividade, diversidade e qualidade excepcional da gastronomia de Portugal, num trabalho de preservação da tradição, da arte de bem cozinhar e de criação de um elo vital entre a tradição e a contemporaneidade da cozinha Portuguesa, é desta forma que, ano após ano, promovemos e sobretudo preservamos as tradições culinários.

O município elaborou uma Carta Gastronómica Concelhia, que será apresentada neste festival. Qual foi o objectivo?

A Carta Gastronómica do Concelho, que será apresentada no dia 29 de Outubro, foi produzida no âmbito da estratégia de afirmação de Santarém como Capital da Gastronomia, pelo consultor gastronómico, o saudoso e amigo Francisco Armando Fernandes e pela Confraria da Gastronomia do Ribatejo em estreita colaboração com os Presidentes de Junta do nosso Concelho e com todos os entrevistados. Tem como objectivo maior valorizar o receituário Scalabitano na gastronomia local e nacional, trazendo maior visibilidade pública aos pratos típicos e procurando despertar a população e a restauração local no sentido de se poder recuperar e elevar este receituário tradicional e os produtos endógenos, privilegiando a qualidade e originalidade da nossa Gastronomia, como marca da identidade local.

A realização da Carta Gastronómica do Concelho de Santarém carrega uma dimensão afectiva sem a qual nada teria sido possível. É muito mais do que uma recolha de receitas tradicionais, é um tributo à riqueza cultural e gastronómica desta cidade histórica e àqueles que a mantêm viva, preservando e reinventando suas tradições, que implicou o levantamento das especialidades gastronómicas características de todas as Freguesias e Uniões de Freguesia do Concelho, dos ingredientes e dos modos de confecção regionais, das histórias e memórias dos cozinheiros cujas vozes ecoam nestas páginas, num esforço desenvolvido com

base na generosidade de todos os envolvidos.

Como é que o festival se tem adaptado às tendências gastronómicas actuais e à evolução dos gostos do público?

Têm sido um caminho que exige muita resiliência, mas também muita flexibilidade, a verdade é que hoje se vive a grande velocidade, as pessoas, na sua generalidade, têm acesso a tudo através da Internet e a oferta na área dos eventos é cada vez maior, por isso, o caminho do Festival têm sido feito com novas experiências e por vezes até de recuperar algumas coisas do passado, como é o caso do que estamos a fazer, em conjunto com a Makro na Cavalariça 1, com os “Petiscosda minha Terra” onde oferecemos  petiscos tradicionais, ao balcão, com um preço muito acessível, tal como há 40 anos, mas com o toque de modernidade que os novos chefes de cozinha lhe dão.

Quais são os principais desafios enfrentados na organização de um certame desta dimensão e como são superados?

Os principais desafios prendem-se justamente com a capacidade de manter o nosso público conectado, hoje temos de comunicar por todos os meios para chegarmos a todos, temos estar na TV, na rádio, nos jornais e claro, com uma presença forte nas redes sociais. É indispensável que, em todas as edições consigamos comunicar com o nosso público de forma clara e apelativa e cada vez de formas mais criativas.

Qual tem sido, para si, a grande mais-valia para a cidade do Festival?

É inegável, quando se fala de Santarém a gastronomia, hoje, é uma referência. Somos um destino turístico de experiências autênticas, com uma oferta diversificada para todos os gostos, ao longo de todo o ano. Falamos do riquíssimo património histórico, cultural, literário, de natureza, a oferta cultural e claro o património gastronómico.

Santarém é um concelho de charme que protagoniza uma notoriedade turística com capacidade para atrair, cativar e fidelizar cada vez mais pessoas, e não podemos esquecer a localização geoestratégica altamente diferenciadora.

O Festival promove uma enorme notoriedade ao nosso território, durante 10 dias seremos palco nacional e os nossos empresários beneficiam, claramente, desta dinâmica que tem reflexo ao longo de todo o ano.

E que impacto tem o festival na promoção de Santarém como a ‘capital nacional da gastronomia’, tanto a nível nacional como internacional?

São os Restaurantes do Concelho que ao longo de todo o ano reforçam Santarém como destino gastronómico de referência. O Festival Nacional de Gastronomia é a celebração da Gastronomia como o todo, de forma transversal, o País inteiro está representado num só evento, podemos provar e saborear Portugal inteiro. A qualidade dos nossos Restaurantes que 365 dias por ano colocam, com entrega, amor e enorme qualidade na mesa dos nossos visitantes e habitantes o melhor da nossa gastronomia é condição fundamental para a estratégia de afirmação de Santarém como Capital Nacional da Gastronomia. A projecção do evento à escala nacional e internacional reforça esse estatuto e tem por isso um importante impacto, mas são os nossos restauradores, cozinheiras e cozinheiros dos nossos restaurantes os parceiros privilegiados para esta estratégia.

O festival auto-sustenta-se?

O Festival é hoje mais do que nunca um evento com capacidade de atrair as grandes marcas, mas sobretudo, para o Município o Festival representa um investimento num importante produto turístico com efeitos multiplicadores muito relevantes na economia local, a notoriedade e projecção de Santarém através deste evento é difícil de quantificar, por essemotivo colocando na balança os factores materiais e imateriais podemos dizer que este evento é altamente produtivo para o Concelho.

Quais são os principais feedbacks recebidos dos visitantes?

São muitos e bastante diversificados, quem já conhece bem o Festival manifesta satisfação de ver o seu crescimento, os novos visitantes, regra geral, ficam impressionados pela enorme diversidade de cozinhas e produtos. É muito interessante verificar que todos os anos temos mais visitantes que vêm de cada vez mais longe, mas que para além destes conseguimos continuar a fidelizar os nossos visitantes mais antigos.

Qual é a mensagem central que o Festival Nacional de Gastronomia pretende transmitir este ano, e como isso é reflectido na programação e nas atracções?

Queremos que esta seja uma edição centrada na partilha, julgo que estamos a dar um importante passo na longevidade do nosso Festival com o envolvimento das Entidades que referi no início desta entrevista. Queremos que esta seja uma parceria que cresça e se fortaleça nas próximas edições, porque acreditamos que juntos somos mais fortes e os contributos de cada uma destas Entidades e de outras que possamos vir a convidar no futuro vão valorizar a oferta do evento e reforçar o sentimento de pertença de todos os Scalabitanos em relação ao Festival. Juntos vamos celebrar este importante património que é a Gastronomia.

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