Especial 130 anos do Jornal Correio do Ribatejo

Com uma decoração típica que o caracteriza e ajuda a contar a sua história, o ‘Quinzena’ cresceu a ver passar os toiros para as corridas em plena Avenida Laurentino. Cresceu com as feiras no campo fora de vila e a espera de toiros era “regada” de pé ou a cavalo à sua porta – um género de ancoradouro de paixões exacerbadas pelas causas mais nobres de um Ribatejano que sempre foi muito mais do que uma região traçada no mapa de Portugal.

Os “petiscos e copinhos” que José “Quinzena” e, mais tarde, Fernando Batista “Quinzena” herdaram acompanham os últimos 150 anos da cidade. E vão marcando gerações. As paredes forradas de cartazes tauromáquicos, capotes, farpas e barretes de campino fixam no tempo dezenas e dezenas de anos de touradas.

“Eu fiquei com o Quinzena da parte do meu pai quando ele morreu… entendi que podia fazer um bocadinho mais pelo Quinzena, não é que o meu pai não o tenha feito. O Quinzena funcionava com petiscos, com uns copinhos, e eu entendi que devia alargar a almoços ou a jantares”, afirma.

“Comecei aqui, [na conhecida Rua do Matadouro] e estive alguns anos só com este espaço. Entretanto, quisemos ir mais além e começamos a fazer festivais gastronómicos e a levar a nossa comida regional e os nossos vinhos para fora de Santarém”, conta Fernando Batista.

“Norte, Algarve, Espanha, e tantos outros sítios onde representamos o Ribatejo e levamos um pouco do Quinzena para fora de Santarém”, refere o proprietário do mais típico restaurante de Santarém que, no último ano, atravessou tempos difíceis.
“Esperemos que esta situação de pandemia seja passageira e possamos voltar a fazer estes eventos”, desabafa Fernando que, contudo, mantém o optimismo e a vontade de continuar a servir a boa comida Ribatejana.

“Quinzena é um nome muito antigo, que já vem do meu bisavô porque as pessoas, quando trabalhavam no campo, passavam por aqui, e geralmente ficavam a dever… pagavam quando recebiam, à quinzena. E assim ficou o “vir pagar à quinzena”. O nome pegou e funcionou um pouco como o nome da casa e temos hoje a Taberna do Quinzena”, explicita.

O segundo Quinzena abriu em 2006 e também abriu um espaço na Zona Industrial: “achávamos que havia muita gente a trabalhar naquela área e nós poderíamos ter uma boa receptividade”, expõe.

Desde o dia 1 de Junho de 2011 que o Restaurante “Taberna do Quinzena” também se encontra no Santarém Hotel, além da sala do restaurante que se encontra todos os dias aberta para almoços e jantares, também existem outras três salas, Lezíria/Alvares Cabral/Ribatejo, que podem ser utilizadas para diversos eventos de grandes dimensões como casamentos, baptizados, comunhões, empresas ou simples grupos de amigos.
Em Março de 2018, o edifício que albergava a antiga Horta da Fonte, que foi, durante décadas, um dos ex-libris da cidade do Cartaxo, mudou para albergar um moderno restaurante do grupo Taberna do Quinzena.

Neste percurso, que Fernando Batista diz ter corrido bem, “tentámos sempre trabalhar com bons preços, mas com qualidade, simpatia para cativar o cliente, e é isso que nós temos vindo a fazer”.

“Estamos a falar de cerca de 70 pessoas a trabalhar no Quinzena, das quais 60 estão agora em casa. São oito espaços”, refere.

“Na base de tudo está a dedicação. São muitos anos… todos os dias. E, depois, não sou eu sozinho que fiz este “sucesso”. Tenho uma equipa atrás de mim que me ajudou a alcançar o objectivo principal que é servir bem o cliente. É essa a nossa intenção diária: é que o cliente venha cá e saia satisfeito. No fundo, temos esta equipa toda a trabalhar para os nossos clientes que são, no fundo, os nossos patrões”, afirma.

Quando lhe questionamos sobre o ‘ingrediente secreto’ da cozinha do Quinzena, Fernando é peremptório: “todos os nossos fornecedores são, regra geral, da zona do Ribatejo. Trabalhamos com produtos com a máxima qualidade para que isso se reflicta no produto que é posto à mesa do cliente. Esse é o compromisso desta casa, embora tenhamos de sacrificar as margens de lucro”.

“Vamos sempre aperfeiçoando a comida, o atendimento ao cliente: a preocupação é com o cliente. Tanto na qualidade, como na simpatia o nosso foco é o cliente”, acrescenta.

Confessando-se um claro adepto da cozinha tradicional, Fernando diz não dispensar “as sopinhas da avó”. “Tudo o que é caseiro e tradicional é melhor, na minha opinião, e foi isso que me levou a abrir espaços take-away nos hipermercados para que as pessoas possam disfrutar nas suas casas de uma boa refeição típica sem perderem tempo”.
A fama da “Taberna do Quinzena” tem-lhe trazido muitos clientes ilustres, mas, garante, todos são tratados da mesma forma: “passaram cá várias personalidades, do mundo da política, mundo artístico, também fizemos muitos eventos fora de Santarém o que faz com que as pessoas – celebridades ou não – fiquem a conhecer a nossa gastronomia e fiquem com interesse de visitar Santarém.

“Já cá esteve a Fernanda Serrano, o Mário Soares… poderia enumerar aqui muita gente, mas estamos sempre prontos para receber todos, quer sejam personalidades conhecidas ou não”, diz, com um sorriso.

“Para nós, é muito gratificante ir a qualquer ponto do País e, depois, verificarmos que essas pessoas nos vêm visitar a Santarém. É sinal que fizemos um bom trabalho”, refere Fernando Batista.

Questionado acerca da importância de Santarém ter o mais antigo e consagrado Festival de Gastronomia, Fernando Quinzena refere que esse facto tem servido para impulsionar a gastronomia na região.

“A Gastronomia é uma marca que nos diz muito. Eu fiz o Festival Nacional da Gastronomia, pela primeira vez, em 1998, considerado o ano da revolução do certame”, recorda.

“O FNG, como qualquer outro festival com muitos anos, tem de se ir aperfeiçoando, aliás, à semelhança do que aconteceu com o Quinzena. É fundamental inovar, se não corre-se o risco de estagnar e parar no tempo. Não se pode hoje fazer o FNG como se fazia há 30 anos atrás, com uns balcões nas cocheiras… Hoje em dia o festival é mais do que isso e está no bom caminho, desde que continue a inovar todas as edições para que não se torne todos os anos a mesma coisa e atraia as pessoas pela novidade”, analisa.

“Eu penso que a restauração da cidade lucra sempre. Em todos estes anos de Festival sempre recebi nos meus estabelecimentos pessoas do País inteiro que, ou vinham à tarde petiscar, ou jantavam no FNG e almoçavam aqui. Para mim, o festival, em termos de estar ou não estar presente, foi sempre benéfico”, afirma Fernando Batista, para quem Santarém tem muito para oferecer: “temos cá tudo menos mar. De resto, temos tudo. O Rio Tejo, monumentos, bons restaurantes, história, estamos perto da capital. Santarém tem tudo para dar as pessoas que vêm de fora”.

“Ser ribatejano é um estado de espírito e não há ‘religiões’ sem os seus ‘templos’ mais sagrados”, refere esta casa centenária que tem no cardápio os saberes e sabores mais tradicionais do Ribatejo: naco de toiro bravo avinhado, magusto com bacalhau assado, coelho à caçador, arroz de peixe ou borrego assado no forno.

Neste último ano, a restauração foi um dos sectores que mais sofreu os impactos da Covid 19, mas Fernando Batista promete não baixar os braços: “A pandemia é má para todos. Tivemos que nos adaptar – não conseguimos fazer mais do que estamos a fazer, que é o ‘take away’ ou distribuição ao domicílio. Esperemos que os números não aumentem para podermos abrir a sério”, desabafa.

“Sou a quarta geração do Quinzena. Tenho um filho com 17 anos e gostava que ele ficasse com a continuidade desta casa. As coisas não estão fáceis para a restauração e penso vai demorar algum tempo a voltar à normalidade. O tempo dirá se o Quinzena tem ou não continuidade”, afirma.

“Há muitas famílias para sustentar ao final do mês, não é fácil sobreviver a isto, e é preciso pensar que o dia de amanhã vai ser melhor”, diz Fernando Batista que deixa uma mensagem: “Aos meus clientes e amigos quero dizer que estamos cá, estamos a vossa espera. Cuidem-se para podermos estar todos juntos num futuro próximo”.

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