Um dos argumentos que usamos com mais frequência, para justificar a nossa baixa
produtividade para produzir riqueza para o país, é o da falta de dimensão.
Somos menos de dez milhões de nacionais, mas de entre estes temos uma considerável
percentagem com idade sénior, logo catalogados como não produtivos. Segundo os dados publicados pela AIMA, em setembro do passado ano, devemos também acrescentar um milhão quinhentos e cinquenta mil almas, que decidiram viver em Portugal, na qualidade de imigrantes.
Esgravatamos aqui e ali, tentamos soluções alternativas, mas a coisa não está fácil. Os
especialistas argumentam que é tudo uma questão de escala, mas os protestantes dos
cartazes e das ruas, insistem em apelar aos quatro dias laborais por semana, quando não ao teletrabalho em permanência, porque o trânsito está um inferno e as opções do transporte publico, especialmente a CP, só aparece, quando não há pontes à vista no calendário, ou o material circulante o permite.
Portanto, diria que estávamos diante de resolver a difícil questão de fazer a quadratura de um círculo, quando a solução saltou em forma de notícia nos telejornais.
Para já, a PJ foi bater à porta de cinco inspectores da autoridade tributária, que estavam
destacados nos portos de Sines, Setúbal e Lisboa, com o encargo de controlarem as
mercadorias que chegavam em contentoras a esses portos, perguntando-lhes por que raio tinham em suas casas grandes quantias em vivo e dizem que eram largas centenas de milhares de verdes notas e todas com sinal de pouco uso.
Aconteceu que, como isto de investigar tem, por vezes, golpes parecidos com o Euromilhões, foi oferecido à PJ por um narcotraficante, como moeda de troca, um vídeo muito explícito, onde era negociada a forma como poderiam entrar toneladas de droga, misturada em mercadorias.
No caso em apreço eram lulas congeladas, temperadas com mil e trezentos quilos de
cocaína…
Como assobiar para o lado rendia aos inspectores dois a três mil euros por cada quilo de droga que passava os portões dos referidos portos e como o esquema já era assim há alguns anos,…. é só fazerem as contas, como dizia aquele outro, que ainda hoje bate com o martelo na ONU, para impor a ordem, como se isso fosse algum dia possível.
Argumentarão os meus leitores que ladrões e policias são tão antigos como o mundo; que nunca ninguém enriqueceu, exclusivamente, usando suor no seu trabalho e eu concordo em pleno com isso. A questão fundamental é que o nosso sistema judicial, concede aos arguidos toda a espécie de garantias, entre as quais a de litigar quase eternamente, até que uma possível condenação, ainda que exemplar, seja considerada definitiva. Enquanto decorrem os longos prazos dos processos, há todas as possibilidades de dissipar ou ocultar os proveitos dos delitos, pelo que o estado acaba com uma mão cheia de nada e outra com coisa nenhuma.
Da vida faustosa de Sócrates, qual será hoje o saldo? E dos actos danosos dos Bes aos seus clientes, como poderá hoje o Ricardo Salgado responder onde está o que restou?
Na reforma que se pede à justiça portuguesa, haverá de se pensar na morosidade dos
processos, na justificação de que os actores dela tenham de dar ao povo, porque é em nome dele que actuam, mas também terá de ser considerado que, especialmente aos que se apropriaram de bens a que não tinham direito, sejam imediatamente impedidos de lhe ter acesso, sob pena de eles desaparecerem na espuma dos dias.