Esta célebre frase da canção de Chico Buarque, o brasileiro que amava Portugal e a sua revolução dos cravos, adequa-se lindamente ao título da nossa conversa desta semana. No momento em que a escrevo, dissolve-se oficialmente a Assembleia da República, ficando a mesma reduzida aos representantes de cada partido que nela tinham assento, para despacho corrente que, diga-se, não deve ser muito até à eleição do novo elenco, após o 10 de Março.

Pois foi bonita a festa pá! Houve a eleição de um novo secretário geral para o PS, outro cenário em festa para o PSD onde se recuperou a AD de boa memória, uma convenção para o Chega e outro encontro magno para o PCP. Mais modesto foi o BE e a IL, que se limitaram a uma série de encontros com os seus apaniguados em cenários de restaurantes, mais ou menos cinzentos, com a presença da comunicação social para o habitual resumo do que se passou, sem o qual não teria sido necessário fazer a despesa a despesa.

Com total tranquilidade, os espectadores televisivos ouviram sem emoção os habituais chorrilhos das promessas expressas pelos seus dirigentes, diligentemente aplaudidas pelos presentes, assim que soava a música ou se agitavam as bandeiras. Sem ser necessário fazer ensaios porque estas coisas dão-se ciclicamente, desde há meio século, em Portugal.

Todos metem a mão no saco do tesouro, como se não houvesse amanhã, também porque nestas alturas, aos que vão a estes encontros, pouco lhes interessa quanto custa cada medida explosiva que sai das bocas dos vendedores de promessas, porque afinal eles foram ali só para os aplaudir e idolatrar.

Apagadas as luzes, tratadas as gargantas da rouquidão adquirida, enroladas as bandeiras e dobradas as faixas, fica aquela situação de vazio, igual à do arraial, que foi bom e animado enquanto durou.

Voltamos agora à realidade nua e crua dos preços em alta, com os compromissos dos juros a dificultarem a vida a muitas famílias, voltamos às filas do SNS e às paralisações da CP, onde o número de greves deste ano, já quase ultrapassam os dias do mês, uma desvergonha, que é quase um caso de polícia.

Vivo há cinquenta anos em democracia, depois de ter frequentado os sete anos no Liceu Sá da Bandeira, onde os diligentes professores me ensinaram o melhor que sabiam. Fui a uma guerra em Angola, fazendo cinco anos nas forças armadas, fui aceitando da vida tudo o que ela me proporcionou, dando a minha força de trabalho e tentando melhorar no que era possível. O 25 de Abril apanhou-me com 31 anos e não posso negar que aqueles tempos foram de entusiasmo transbordante, de generosidades extremas, porque todos sentimos ter o futuro nas nossas mãos. Os meses e os anos mostraram-nos que a população é apenas um meio para que as elites políticas possam atingir um fim.

Ao ter já ultrapassado a barreira dos oitenta, já com muito mundo nas minhas memórias, concluo que não há sistemas políticos perfeitos para o governar. Ainda assim, a democracia, é o menos mau de todos.

Exige, para a sua execução, verdade, rigor, humildade e desapego ao poder. Espírito de missão e verdade.

Uma missão quase tão difícil como ser Deus na terra, porque o poder é como o ácido. Corrompe no seu linguarejar suave e melodioso que se parece com amizade, que envolve e cega.

O mais que nos resta, neste tempo de eleições, é não embarcar no que nos assobiam aos ouvidos, mas apenas pensar por nós, em liberdade e com as nossas convicções. 

Se os candidatos nos explicarem como vão executar o que nos prometem e se os contraditórios forem rebatidos também sem demagogias, já avançaríamos muito.

Essa sim, seria uma verdadeira conquista de Abril!!!

Estão a perceber como se pode ser sénior e, ainda assim, continuar a ter ilusões?

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