Corria o ano de 1891 quando o hoje Correio de Ribatejo iniciou o seu caminho centenário de jornalismo de causas e com princípios.
É importante lembrá-lo neste aniversário dos 129 do jornal, que se celebra em plena crise pandémica.

Nesse ano de 1891 para cuja memória o Correio do Ribatejo contribui, e em especial com a história da cidade de Santarém sempre referenciada nas suas páginas, tiveram lugar alguns dos mais marcantes acontecimentos do séc. XIX português e Europeu.

Em Roma o Papa Leão XIII promulga a encíclica Rerum Novarum com as bases da doutrina social da Igreja Católica, entre as quais a expressão da Comunicação Social.

Em Portugal, na cidade do Porto, o dia 31 de Janeiro assinala a primeira tentativa de implantação da República. Faltavam 58 dias para o Correio do Ribatejo nascer.

Nesse ano morreram Elias Garcia e Latino Coelho, dirigentes do partido Republicano e o escritor Antero de Quental; no Limoeiro, em Lisboa, está preso por crime de abuso de Liberdade de Imprensa o jornalista Heliodoro Salgado.

Ainda em 1891 contraíram-se empréstimos internacionais onde o Estado ofereceu como caução o monopólio do tabaco, acordos e tratados com a Inglaterra sobre os territórios africanos, ainda mais gravosos para Portugal do que o tratado que se seguiu ao Ultimato e o Governo, chefiado por João Crisóstomo cai em consequência desses tratados, mas o Rei volta a encarregar João Crisóstomo de formar Governo.
Realizaram-se congressos do Partido Republicano e do Partido Socialista Português.

A linha do Oeste fica concluída e Oliveira Martins, Trindade Coelho e João da Câmara publicam algumas das suas mais notáveis obras literárias.
A primeira mulher portuguesa é admitida numa Universidade, em Coimbra, na Faculdade de Matemática; novo decreto regulamenta o trabalho das mulheres e dos menores em matérias relacionadas com horário, descanso e higiene e segurança no trabalho.

O horário de trabalho das 8 horas foi, neste ano, consagrado em Lei, ao mesmo tempo que são autorizadas as Associações Operárias ainda que limitadas a questões profissionais.

O primeiro ano de vida do Correio do Ribatejo foi, pois, rico de acontecimentos de grande projecção nacional e internacional.
É esta memória que nos deve ajudar hoje, no meio desta contenda com a pandemia, a perceber que o jornalismo de causas é o que perdura, o que ao longo dos anos vai cimentando o seu lugar na sociedade, nas gerações de leitores que vão passando e enfim no que, hoje, é o mais importante no jornalismo, na confiança dos cidadãos na rectidão e exactidão das noticias que os jornais publicam.

Neste ano de 2020 em que as notícias falsas e a desinformação se assumiram como um vírus contra a sociedade, ultrapassando as barreiras da política e da economia para minar a nossa saúde, assinalar os 129 anos de um jornal em Portugal é reconhecer que só o caminho da confiança no jornalismo profissional editado com autonomia e independência, justifica o lugar que o Correio do Ribatejo, entre outros, ocupa no panorama social, político, económico e cultural português.

Parabéns a todos, jornalistas e outros colaboradores que trabalham e participam no desempenho informativo do Correio do Ribatejo.

João Palmeiro
Presidente da Associação Portuguesa de Imprensa

Leia também...

‘A importância de um ensino superior descentralizado…’, por Ricardo Segurado

Num país altamente centralista como o nosso, pensado quase sempre numa lógica…

O novo feito dos Lobos… por Ricardo Segurado

Marquem nos calendários: a partir de setembro de 2023, Portugal irá disputar…

‘Finalmente…’, por Vítor Barreto

Finalmente os europeus compreenderam o significado da palavra “refugiados”.Durante as últimas décadas,…

‘Uma breve nota ucraniana’, por António Canavarro

A nossa história é feita entre o real e a ficção. Não…