Juan Maria Sellen, Director e Fundador da Companhia Seller Danza

“A dança em Portugal ainda não é considerada como algo que possa ser um futuro” 

Juan Maria Sellen, natural de Badajoz, é dançarino profissional e apresenta um vasto currículo na área da dança. É Director Artístico, Coreógrafo e Fundador da Companhia Seller Danza. 

Em 2019, escolheu Santarém para ficar e dar aulas após percorrer inúmeros países. Foi reconhecido, em 2012, como ‘Artista com Habilitações Excepcionais’, nos Estados Unidos. 

Juan Seller considera que todos devem ter acesso à dança e que através das artes, demonstram-se realidades da vida quotidiana e os sentimentos mais profundos existentes no ser humano.

Juan Maria Seller subiu ao palco pela primeira vez aos cinco anos de idade e desde então decidiu que o seu caminho profissional seria na vertente das artes. Revelou que inicialmente sentia muita vergonha, mas este era o seu propósito de vida. Fundou a companhia de dança em 1992, em Badajoz, e chegou a Santarém com o objectivo de dar a conhecer a dança a pessoas que não tinham possibilidades. 

Desde 2002, lidera a companhia como coreógrafo independente, trabalhando e criando peças coreográficas para outras companhias de dança e teatro em Espanha, Portugal, Porto Rico, Irlanda e Estados Unidos. A Companhia inicialmente colaborou com a Câmara Municipal do Cartaxo e posteriormente com o Conservatório de Música de Santarém, durante três anos. Nos dias de hoje, tem uma parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Santarém (SCMS) e apresenta um programa de formação artístico-profissional onde interage com idosos, mantendo-os activos.

A Companhia Seller Danza forma alunos, a partir dos 10 anos de idade, com o sonho de seguirem a área da dança de forma profissional. Uma escola que evidencia uma formação profissional, mas não descarta a dança como entretenimento. Conta com 15 alunos e com uma vasta oferta formativa. O programa inclui um método pedagógico único – o Método Seller -, que o próprio desenvolveu. Baseia-se no estudo de diferentes técnicas como dança moderna (Graham, Cunningham, Limón, Horton), Fly-Low, Danças Kathakali, Contact-Improv, Técnica Alexander, Flamenco, Release, Técnica Dança Jazz, Expressão Corporal e Artes Marciais.

O Director e Fundador da Companhia Seller Danza afirma que se inspira em situações da vida quotidiana para criar histórias e coreografias: “Tenho a necessidade de explicar e contar alguma coisa. Um coreógrafo deve só coreografar quando realmente tem alguma coisa para dizer. Às vezes oiço histórias e penso como seria realizar a coreografia dessa mesma história”, explicou ao ‘Correio do Ribatejo’.

Juan realça ainda a importância que as artes têm na educação: “Podíamos focar-nos mais na cultura para ajudar outras matérias. A arte seria um complemento magnifico para apoiar as outras matérias”, alega.

A Companhia de Dança vai ter um programa diferenciador. Juan Maria Seller afirmou que em breve vão realizar um projecto com o Lar dos Rapazes da SCMS. 

“Queremos realizar esse projecto com a ideia de poder dar uma oportunidade a algum rapaz que queira seguir este caminho e que seja uma via de trabalho para ele”, frisou. 

Um dos projectos que Seller considera ter sido o que teve mais impacto na história da Companhia de Dança que fundou foi realizado em parceria com o Conservatório de Música de Santarém. Os alunos e professores tiverem a oportunidade de ir a Dublin, na Irlanda, num projecto Erasmus, onde visitaram um festival de dança. Seller refere que gosta que os seus alunos ganhem experiência através de iniciativas como esta e ao pisar vários palcos. 

“Nós gostamos de expor os alunos ao palco para que ganhem experiência. Aqui representamos e ensinamos a vida real que eles vão ter no futuro, porque é a única forma de decidir se querem mesmo continuar neste mundo, que às vezes é complicado”, notou.

Outro motivo de orgulho para a academia Seller Danza foi o facto de dois alunos terem entrado, em 2022, na Escola Superior de Dança de Lisboa. Este ano, Tiago Pais, aluno de 15 anos, entrou também na melhor escola do país: a Escola de Dança do Conservatório Nacional, em Lisboa. “Com a ideia que tínhamos de trazer a dança para pessoas que não tivessem possibilidades, conseguimos fazer com que eles possam fazer o seu percurso”, evidenciou Juan Maria Seller. 

A equipa da Campainha Seller Danza conta também com Roberto Seller, bailarino profissional, que após 10 anos a praticar artes marciais, iniciou a sua formação em teatro, ballet clássico, dança moderna e dança contemporânea, sendo actualmente gerente administrativo e director de ensaio na escola de dança Seller.

A companhia demonstra empenho em promover o acesso às artes, através de uma maior sensibilização sobre a arte da Dança, no sentido da concretização de uma enriquecedora e contínua evolução social, e em articulação estreita com outros profissionais. 

Para o coreógrafo a cidade de Santarém atravessa alguns problemas no que diz respeito ao apoio à cultura: “Muito pouco dinheiro é fornecido à parte da cultura. E é isso que define um povo. Se não temos cultura, não temos critérios próprios. Agradecia mais atenção a esse aspecto. O Teatro Sá da Bandeira é muito pequeno e não há outros espaços alternativos para fazer este tipo de espectáculos”, alertou.

Juan Maria Seller refere que a sua maior ambição neste momento é formar os alunos para serem excelente bailarinos. 

“Depois de tantos anos a dançar a minha maior ambição agora é formar. É dar a possibilidade às pessoas de realmente conhecerem a dança e saberem que podem viver dela. Às vezes há desconhecimento. Um pai, por exemplo, diz que com esta área não se ganha dinheiro e não se consegue viver. Não é verdade. Temos de saber direccionar as coisas”, notou.

Seller viveu em diferentes países e constatou que cada um vê a dança de maneira diferente.

“Acho que a dança em Portugal ainda não é considerada como algo que pode ser um futuro”, salienta com o objectivo de mudar a premissa.

“Quando danço é um momento só meu”

Tiago Pais, natural de Santarém, é aluno da Companhia Seller Danza há cinco anos e devido ao seu talento, esforço e dedicação entrou este ano na maior escola de dança do país. O dançarino ingressou no Curso Secundário da Escola de Dança do Conservatório Nacional, para o 6º ano de dança, que equivale ao 10º ano de escolaridade. 

“Ao início quando fui fazer a audição fiquei um pouco receoso, porque estavam muitos jovens bons a tentar o mesmo que eu. De regresso a casa recebi um email a dizer que tinha entrado na escola. Com o passar do tempo percebi que é um privilégio ter conseguido entrar numa escola que tem um grande reconhecimento em Portugal”, salienta Tiago Pais.

Deu os seus primeiros passos na dança aos 10 anos de idade e refere que o professor Juan Maria Seller foi fundamental para o seu percurso. “Foi uma pessoa que puxou muito por mim. Incentivou-me muito para continuar e, de certa forma, experimentar uma coisa diferente. Uma audição para entrar numa escola”, revelou.

O dançarino dedica cerca de oito horas por semana a treinar. “Quando danço é um momento só meu. É onde eu consigo demonstrar aquilo que eu sinto e penso. Demonstro os meus sentimentos”, revela Tiago Pais ao concretizar o sonho de ambicionar ser bailarino profissional. RV

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