Jorge Frazão, que recentemente tomou posse como Comandante dos Bombeiros Voluntários de Pernes, apresenta uma visão clara e estratégica para o futuro da corporação. Com uma sólida experiência na estrutura de comando, sublinha a importância da continuidade das boas práticas, ao mesmo tempo que destaca a necessidade de adaptação às novas realidades, como a evolução tecnológica e as alterações climáticas. Apostando na formação contínua dos bombeiros e na criação de sinergias com a comunidade e empresas locais, o novo comandante pretende fortalecer a capacidade de resposta da corporação, enquanto enfrenta o desafio de atrair e reter novos voluntários num contexto cada vez mais exigente.

Recentemente tomou posse como Comandante dos Bombeiros Voluntários de Pernes. Quais são as suas prioridades para este novo desafio?

Tomei posse como Comandante no dia 03 de Julho. Já fazia parte desta estrutura de comando, como adjunto, tendo, por isso, um conhecimento profundo e muito realista do ponto de partida (estado actual) e do estado desejado. Assim, respondendo directamente à sua pergunta, as minhas prioridades passam pela manutenção das boas práticas até aqui realizadas, que foram muitas, estão à vista e são amplamente reconhecidas. Não obstante, importa continuar a investir na capacitação contínua dos nossos bombeiros, não esquecendo que o contexto actual é marcado por uma rápida evolução tecnológica, alterações climáticas, novos riscos e, consequentemente, novos desafios. É, portanto, necessário acompanhar, diversificar e especializar. Costumo dizer que, para desenvolver e requalificar pessoas, é fundamental ter uma visão clara sobre as competências necessárias e quais aquelas que, eventualmente, possam estar a tornar-se obsoletas. Tenho ainda como prioridade apostar na imagem e comunicação (interna e externa), criar maior proximidade ao cidadão, às empresas e instituições. Trabalhar em rede, criar sinergias, comunicar bem e ser proactivo.

Que estratégias pretende implementar para atrair e reter novos voluntários na vossa corporação?

Esse é um tema muito interessante, que me preocupa e que me é particularmente caro até pela minha formação académica em gestão de recursos humanos. Tanto é assim que aproveito para anunciar que lancei recentemente um desafio ao Senhor Comandante Sub-regional de Emergência e Protecção Civil e a todos os comandantes dos CB ‘s da Sub-região da Lezíria do Tejo: a organização de um seminário subordinado ao tema. Sugeri mesmo o título: RAR: Recrutar, Avaliar e Reter. Gostaria muito que acontecesse ainda este ano, preferencialmente em Santarém. Aquilo que hoje se designa como salário emocional deve ser trabalhado para a retenção de talento. Promover uma cultura positiva e de respeito, segurança e saúde numa actividade que, todos sabemos, comporta riscos e desgaste, o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e a promoção do reconhecimento e valorização das pessoas serão seguramente um bom ponto de partida.

Quais são as principais dificuldades que enfrenta e como pretende superá-las?

Honestamente, não sinto grandes dificuldades, nem aprecio muito o termo devido à carga negativa que comporta. Chamar-lhe-ia, se me permite, desafios. Tenho o desafio de seguir o enorme legado deixado pelo Comandante José Viegas (uma referência no país) e de não decepcionar quem acreditou e apostou em mim. Tenho o desafio de ser criativo, de liderar pelo exemplo, de inspirar, de criar novos líderes, de planear, antecipar e ser um catalisador da aprendizagem e melhoria contínua.

Como avalia a capacidade actual da vossa corporação para responder a emergências?

O nosso Corpo de Bombeiros está, à data, muito bem apetrechado de meios e recursos, tecnicamente preparado e com uma resposta muito profissional às diversas tipologias de socorro.

Que medidas estão a ser tomadas para melhorar a formação e a preparação dos bombeiros voluntários de Pernes?

Estão a ser tomadas medidas que passam pela qualificação e certificação dos bombeiros em diversas áreas, bem como pela melhoria das suas competências. A formação e a aprendizagem são investimentos estratégicos e fundamentais para as organizações. Acredito que o foco nas pessoas, no seu bem-estar e na sua aprendizagem impacta directamente nos resultados, nomeadamente na qualidade do serviço prestado.

Quais são as principais parcerias que têm estabelecido para melhorar os recursos e as capacidades da corporação?

Neste momento, temos algumas parcerias estratégicas com empresas e instituições locais, mas queremos ampliar esse número. Por exemplo, há determinadas áreas de formação (muito específicas) que podem ser dadas em Pernes e abertas a todos. Bons acessos, excelente localização, boas condições em termos de espaço físico e infra-estruturas de apoio. É essencial continuarmos a procurar inovar e robustecer as parcerias, motivando outras entidades a juntarem-se a nós e aos nossos projectos.

Como vê a relação entre a vossa corporação e as entidades locais e nacionais e as outras corporações do concelho?

Esta Associação e o seu Corpo de Bombeiros têm, ao longo dos anos, conseguido granjear o respeito e a consideração de instituições locais e nacionais. Sabem que podem contar connosco, com o nosso rigor e a nossa dedicação. Com os Corpos de Bombeiros do concelho, o relacionamento tem sido positivo, de interacção e companheirismo. Mas podemos sempre melhorar no que respeita ao desenvolvimento de actividades conjuntas, acções de team building e reuniões de trabalho. Já reuni com os comandos da Companhia Sapadores Bombeiros de Santarém e com os Voluntários de Alcanede. Falta-me apenas reunir com o comando dos Bombeiros Voluntários de Santarém, reunião que tenciono agendar para a próxima semana. Estas reuniões foram bastante positivas, com debates, identificação de problemas comuns e procura de soluções conjuntas. É um trabalho de equipa.

Como tem sido a resposta da comunidade local ao trabalho dos bombeiros voluntários de Pernes?

Aqui vou ser um pouco crítico. A comunidade local, tenho a certeza, valoriza muito o nosso trabalho. Poderia haver uma maior presença e ligação? Claro que sim. Basta ver que, a título de exemplo, as reuniões da Assembleia Geral são cada vez menos participadas. Mas provavelmente também necessitamos de criar condições e fazer diferente para que esse envolvimento renasça. As pessoas andam absorvidas no seu quotidiano, num ritmo muito acelerado.

Que apoio adicional considera necessário para melhorar as condições de trabalho e a eficácia dos bombeiros voluntários de Pernes?

As nossas necessidades são transversais a todos. Urge dar uma carreira e um estatuto remuneratório aos bombeiros profissionais das Associações. Mas também é necessário criar um Estatuto do Bombeiro Voluntário, criar mecanismos que motivem e atraiam. Regalias sociais, fiscais, seguros com melhores coberturas. Neste momento, não fosse o Regulamento Municipal de Concessão de Regalias Sociais aos Bombeiros do concelho de Santarém, e não haveria nada para oferecer. Apenas a comum medalha de assiduidade na lapela pelos bons serviços prestados. Parece-me curto.

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