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Paulo Jorge de Sousa, nasceu no Sardoal em 1964. Licenciado em Fotografia, é Técnico Superior de Fotografia na Câmara Municipal de Sardoal, local onde trabalha desde 1986.

Até ao próximo dia 27 de Maio, a galeria do Centro Cultural Gil Vicente, no Sardoal, acolhe a exposição de fotografia “Paixão e Luz”, de sua autoria.

Qual é a temática principal da sua exposição “Paixão e Luz”?

Esta exposição centra-se em fotografias dos anos 80 e 90 do século passado, constituindo ao mesmo tempo as primeiras fotografias de que há memória desta manifestação religiosa em Sardoal, que, segundo a imprensa regional de 1890, já referia a mesma como de realização secular. Fazem igualmente parte do meu início na fotografia. Comecei a fotografar em 1986 e sem as preocupações documentais que tenho agora. Na altura interessava-me explorar a técnica e a estética e encontrar um caminho que me pudesse ajudar a encontrar uma linguagem fotográfica própria. Ao mesmo tempo também me movia algum experimentalismo à volta do uso das películas em condições de baixa luminosidade.

Nesta Procissão, que se realiza sempre à noite, era muito difícil fotografar sem flash, desafio que me obrigava a usar películas a preto e branco de alta sensibilidade e muitas das vezes “puxadas” ou seja, usadas como se fossem mais sensíveis, compensando essa falta de luz na revelação em laboratório. Claro que este processo aumentava significativamente a visibilidade do “grão”, mas isso, para mim, era um mal menor.

Como foi o processo de escolha das fotografias que compõem a exposição?

Foi difícil e demorou algum tempo. Dos inúmeros negativos digitalizados na altura da pandemia, era necessário agora encontrar um fio condutor, um discurso expositivo, definir por onde começar e qual o caminho mais adequado para isso. Entretanto a ideia foi amadurecendo e optei pelas que estão expostas. Inicia com uma série de retratos de pessoas que já não estão entre nós, depois um breve resumo da procissão até chegar ao Convento e depois a volta até à Igreja da Misericórdia, lugar de onde saiu.

Como descreve a relação entre a fotografia e a religiosidade?

É uma relação normal como em qualquer outro tipo de reportagem fotográfica. Há que respeitar a forma como a religiosidade se manifesta, não ser muito intrusivo e tentar sempre ser o mais transparente possível aos olhos das pessoas de modo que nem se apercebam que eu estou ali a fotografar.

Qual é a sua abordagem fotográfica em relação à Semana Santa?

Neste momento é apenas uma abordagem em forma de reportagem, com um lado criativo sempre presente. Claro que pelo meio faço mais algumas para uso pessoal.

Que mensagem pretende transmitir através das suas fotografias?

Eu só pretendo mostrar determinado acontecimento, depois as pessoas que vêm as imagens é que as podem interpretar de maneiras diferentes, cada pessoa tem uma visão própria fruto das suas vivencias e da sua vida. Sem ser em reportagem faço as fotografias que gosto independentemente da reação posterior que as pessoas possam mostrar.

Como foi o processo de preparação para a exposição?

Há sempre um processo mental e um processo prático. O primeiro é invisível e só meu, o outro já envolve outras áreas e outras pessoas. Mas foi ver as imagens que tinha, ver que tipo de catálogo mais se ajustava, pensar nos formatos de impressão e depois ajudar na sua montagem.

Como se sente ao ver as suas obras expostas?

É curioso. A preparação para esta exposição fez-me recuar muito anos e voltar ao passado, ao meu passado. Fez-me recordar muitas coisas e muitas histórias e agora, ali na exposição, vejo um bocado de mim, do quer fui e do que sou e vejo que este trabalho fez muita gente pensar o mesmo, viajar até aos seus passados. E isso é muito compensador.

Quais foram as principais influências artísticas na sua carreira fotográfica?

Cartier Bresson, Abbas, Gageiro, Robert Frank, Alfredo Cunha e tantos outros. Eu vejo muita fotografia e não parei no tempo, acompanho a fotografia dita contemporânea, em que há sempre um discurso que pode refletir uma ideia, um pensamento, uma teoria, um estado de alma ou qualquer outra coisa. Por isso, a toda a hora estamos a receber novas influências e novas janelas para a nossa fotografia. No entanto penso ter desenvolvido, até agora, uma identidade própria para a minha linguagem fotográfica.

Como descreve o seu processo criativo?

É um processo normal penso eu, olho, vejo, penso e faço a fotografia.

Qual é a importância da luz na sua fotografia?

Tem toda a importância, sem luz não há fotografia. E o grande desafio é sabê-la usar da forma que a achamos mais adequada para algum efeito ou particularidade que queiramos realçar.

Como escolhe os locais e momentos para fotografar?

Geralmente não escolho, aparecem ou fazem parte das minhas viagens, caminhadas ou destinos. Se for em contexto mais fotojornalístico aí sim, há um motivo e é ele que me chama.

Como lida com os desafios técnicos da fotografia?

Lido bem e são isso mesmo, desafios. Obrigam-me a analisar as coisas antes de as fazer e de encontrar soluções para que fiquem do meu agrado e que cumpram os objectivos para que foram criadas.

Que conselhos daria a jovens fotógrafos que estão a começar?

Sobretudo que nunca esqueçam que a fotografia se faz com a cabeça e não com os equipamentos.

Qual é o papel da fotografia na sociedade actual?

O papel da fotografia na actualidade é vencer a desinformação ou as notícias falsas e credibilizar quem produz a informação. Noutros campos, como a fotografia de cariz mais pessoal e artístico é poder estabelecer uma ligação entre quem a faz e quem a vê. Mas este assunto daria pano para mangas.

Que projectos futuros tem em mente?

Muitos, mas em pedaços. Há ideias que estão a ser exploradas, outras estão a ser amadurecidas, mas não tenho nenhum em fase final para poder anunciar agora.

O que o motiva a continuar a fotografar?

O gosto pela fotografia e o prazer que me dá em me desafiar constantemente quer seja para comunicar ou simplesmente para jogar com a luz, as formas ou outra coisa qualquer.

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