Há 50 anos, um grupo de jovens liderado pelo professor Cândido de Azevedo dava os primeiros passos na ginástica de competição em Santarém. Luís Arrais, então um adolescente curioso e destemido, era um desses jovens. Hoje, enquanto presidente da Federação de Ginástica de Portugal (FGP), celebra o legado de meio século de dedicação à modalidade. Em entrevista ao Correio do Ribatejo, Arrais reflecte sobre o percurso da ginástica em Santarém, os desafios do primeiro mandato e as expectativas para o futuro, num relato entrelaçado de memórias, desafios superados e ambições renovadas. Luís Arrais, que já foi seleccionador nacional de trampolins, exerceu o cargo de vice-presidente da FGP entre 2012 e 2020, e ocupa desde 2021 a presidência do organismo federativo, cujas eleições para o quadriénio 2025-2028 estão marcadas para 15 de Dezembro.

Recue connosco aos seus primeiros passos na ginástica de competição em Santarém. Como recorda esses tempos?

Parece que foi ontem, mas já passaram 50 anos. A ginástica de competição começou em Santarém em 1974, com a chegada do professor Cândido de Azevedo, logo após o 25 de Abril. Ele trouxe-nos um gosto pela modalidade que rapidamente nos uniu. Lembro-me de que os primeiros treinos foram muito básicos, com um mini-trampolim e pouco mais. Mesmo assim, para nós, era tudo. Criámos um grupo muito coeso, com uma amizade que perdura até hoje. Durante os intervalos das aulas, corríamos para o ginásio do seminário e passávamos lá horas, fascinados por aquele mundo novo.

Como evoluiu a ginástica de competição em Santarém ao longo destas cinco décadas?

Foi um percurso cheio de altos e baixos. No início, formámos núcleos de ginástica artística pelo distrito, sob a orientação do professor Cândido. Tínhamos competições regionais e distritais que fomentaram um movimento muito forte. Porém, quando perdemos o espaço no ginásio do seminário, enfrentámos tempos difíceis. Voltámos ao mini-trampolim, mudámos de instalações várias vezes e adaptámo-nos como podíamos. Mais tarde, com a introdução dos trampolins, o movimento cresceu. Santarém deu ao país dois dos quatro ginastas olímpicos portugueses nesta disciplina, o que mostra a força que a ginástica ganhou.

Como presidente da Federação de Ginástica de Portugal, que desafios identifica para a ginástica no país?

O maior desafio é o sedentarismo das novas gerações. Portugal está entre os países com menor prática de desporto regular, e as novas tecnologias não ajudam. Além disso, há a concorrência do futebol, que domina as preferências. Contudo, acredito que a ginástica, sendo uma das modalidades mais completas, tem um enorme potencial. O nosso trabalho é convencer mais pessoas disso, promovendo a prática e desenvolvendo infra-estruturas.

Que balanço faz do seu primeiro mandato à frente da FGP?

Muito positivo. Conseguimos bater recordes de filiados e obtivemos resultados internacionais que nunca tínhamos alcançado, como títulos de campeões do mundo e da Europa. Foi um ciclo fantástico, com progressos em várias disciplinas. Também consolidámos as finanças da federação, o que é sempre um desafio. Claro que nem tudo correu como esperávamos, mas isso faz parte do processo. Nos últimos quatro anos o número de ginastas filiados cresceu 17% face ao quadriénio anterior e que foi feito um forte investimento em infra-estruturas para garantir melhores condições de treino aos atletas.

Este compromisso com os nossos ginastas, ao longo deste mandato, traduziu-se em 223 medalhas internacionais, com destaque para os títulos de campeões do mundo e da Europa. Foram também organizadas 25 grandes competições internacionais, com destaque para dois Campeonatos do Mundo, dois Campeonatos da Europa e 18 Taças do Mundo.

O momento mais alto aconteceu em Paris’2024, onde Filipa Martins se tornou a primeira portuguesa a disputar uma final olímpica de ginástica artística, tendo terminado em 20.º lugar no concurso geral, enquanto Gabriel Albuquerque obteve o melhor resultado de sempre em trampolins, ao ser quinto classificado.

Quais são as suas expectativas para o futuro da ginástica?

São elevadas. Queremos continuar a crescer e ter ginastas finalistas em campeonatos da Europa e do mundo em todas as disciplinas, não apenas nas olímpicas. Estamos a trabalhar para isso, investindo na promoção da modalidade e desenvolvendo iniciativas como a nossa Ginástica TV, que já tem um impacto considerável. O meu sonho é que, noa próximos anos, a ginástica portuguesa esteja ainda mais consolidada e reconhecida, tanto a nível nacional como internacional.

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