Maria Izilda de Castro Ribeiro, morreu com 13 anos, vítima de uma grave leucemia, no dia 24 de Maio de 1911, às 15 horas, nos braços de seu irmão António, em Guimarães. Após sua morte, seu irmão Constantino emigrou para o Brasil, para tentar melhorar de vida, numa época, em que existia um grande fluxo de emigração portuguesa para o Brasil. Passados poucos anos, a família de Izildinha perdeu outro filho, José. Este foi sepultado num túmulo longínquo do jazigo da família, como acontecera com Izildinha.  Depois de alguns anos, a família Castro Ribeiro trasladou os restos mortais de José, para o túmulo da família, em Póvoa de Lanhoso.  O irmão Constantino que vivia no Brasil, ao saber do ocorrido, indignou-se com o facto, de a família não ter trasladado também, o corpo de Izildinha , e solicitou que o mesmo fosse feito.  

   Nesse tempo, Constantino já era um empresário de sucesso, apesar dos primeiros anos no Brasil, durante a década de 20, terem sido difíceis e laboriosos, tanto no Rio de Janeiro, como em São Paulo.  Após muito trabalho e abnegação, Constantino Castro Ribeiro, comprou uma pequena indústria, quase falida, em Monte Alto, no Estado de São Paulo, e transformou-a num grande polo industrial.  Foi em Monte Alto que conheceu Rosinha, com quem casou. Aguerrida, e sempre ao lado do marido, Rosinha foi o apoio necessário para o crescimento comercial de Constantino. De início fabricavam marmelada e outros doces de frutas produzidos na região. Com o avanço da tecnologia, diminuta na época, mas adquirida por Castro Ribeiro, começaram a produção de feijoada enlatada, grão de bico temperado, e até doces de frutas, não típicas da região, como o damasco e o pêssego. 

  Constituíram um magnificente património, em Monte Alto. Não tiveram filhos, mas, Constantino falava muito da sua falecida irmã Izildinha, a Rosinha. Com o tempo, a mulher de Constantino começou a sonhar com Izildinha.  Através dos sonhos, contava ao marido pormenores sobre Izildinha, como se tivesse vivido com ela, em Portugal. Uma ocasião, após promoverem uma grande festa no polo industrial Castro Ribeiro, de madrugada, Izildinha assomou a Rosinha, alertando para o início de um incêndio, num dos pavilhões da fábrica. Acordou o marido, e contou-lhe o alerta enviado por Izildinha. Constantino dirigiu-se para a fábrica e, comprovou que era verdade. O incêndio foi combatido, e uma tragédia evitada. As conexões metafísicas entre Rosinha e Izildinha tornaram-se recorrentes. Rosinha sabia detalhes sobre a infância do marido e de Izildinha, em Portugal, o que deixava Constantino, perplexo e cismado. Decidiu então, levar o corpo de Izildinha para o Brasil, pedindo permissão à família para procedeu à trasladação.

   A família Castro Ribeiro, concordou com a transladação, e procedeu-se à exumação.  No dia 1 de Agosto de 1950, 39 anos após sua morte, o túmulo de Izildinha foi aberto. Ao exumarem o corpo, verificaram atónitos, que a menina estava intacta, incorrupta, assim como o seu vestido, e as flores, ainda viçosas, no caixão. Depressa a novidade se espalhou, despertando o interesse e a curiosidade do povo. A família transferiu o corpo de Izildinha para o túmulo da família. A história do mito popular, e fenómeno de fé, principiou nesse momento à Menina  Izildinha. Constantino, quando soube do ocorrido, quis agilizar rapidamente o processo de trasladação, e levar o corpo de Izildinha para o Brasil. Após muita relutância do povo português, Castro Ribeiro conseguiu levar o corpo da menina para o Brasil.

   Quando o corpo de Izildinha chegou ao Porto de Santos, por exigência da legislação alfandegária, a urna foi aberta, confirmando o milagre ocorrido: o corpo, as vestes e flores intactas.  Na cidade foi feriado, e a multidão acompanhou o cortejo fúnebre, que seguiu para o Cemitério de São Paulo, aguardando o término da construção do seu Mausoléu. O túmulo tornou-se ponto de peregrinação e centenas de graças, principalmente relacionadas à cura de crianças, que começaram a ser atribuídas à Menina Izildinha.No dia 8 de Março de 1958, o corpo da Menina Izildinha foi trasladado para Monte Alto, onde o então, Comendador Castro Ribeiro morava e, mandou erigir um grande mausoléu, com valiosos mármores e trabalhos em bronze, retratando a vida da irmã. Foi relatado que uma multidão de dez mil pessoas com rosas brancas, receberam o corpo de Izilda. 

   O culto à Menina Izildinha consolidou-se.  A tradição tomou forma, e até hoje as pessoas agradecem as graças alcançadas deixando flores no mausoléu, da portuguesa Menina Izildinha. O mausoléu recebe em média 700 pessoas por mês, quer em romarias ou visitas. Flores brancas são depositadas com agradecimentos por graças alcançadas ou pedidos. Por decisão judicial, os seus restos mortais pertencem aos habitantes de Monte Alto, e a sua manutenção é da responsabilidade do “Educandário Izildinha”, que dá apoio e assistência a centenas de crianças.

   O povo transformou a MEMORÁVEL menina portuguesa, em “Anjo do Senhor”, uma “santa” contemplada fora das igrejas, mas sempre perto do seu âmago; da crença e carinho popular. Este culto independentemente de qualquer envolvência é de primeira instância relacionada com a forma, como cada um de nós, crê e acredita. A cantora Rita Lee, era devota da Menina Izildinha. A época de maior peregrinação ao mausoléu de Izildinha, em Monte Alto, ocorre em Junho, durante dez dias, quando se recorda o aniversário de Izilda, a menina portuguesa que viveu uma vida simples e oculta, mas que transformou num mito brasileiro!

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