Cartaxo – 1 de Maio, às 16 horas. Corrida à Portuguesa. Cavaleiros: João Salgueiro, Rui Fernandes, João Salgueiro da Costa e Duarte Fernandes (Praticante); Forcados: Amadores de Coruche, de Cascais e do Cartaxo; Ganadaria: Passanha; Director de Corrida: Manuel Gama; Veterinário: José Luís Cruz; Tempo: Ameno; Público: ¾ da Lotação da Praça.

Em dia de festa, a Praça de Toiros do Cartaxo registou uma boa afluência de público para assistir a uma corrida à portuguesa cujo cartel era, de facto, muito aliciante. Talvez por isso tivesse faltado público em Vila Franca, onde o cartel também era forte, embora mais visto. Isto de se realizarem duas corridas em praças que disputam praticamente o mesmo público, nunca pode dar bom resultado, e todos sabemos que Vila Franca é terra de muitos aficionados, mas estes apreciam mais a tauromaquia de rua e o ambiente das tertúlias do que ir à “taquilla” e encher as bancadas da carismática “Palha Blanco”.

A Associação que agora assume a gestão do tauródromo cartaxeiro apostou num cartel diferente, promovendo o regresso do consagrado João Salgueiro, que tanto tem ainda para oferecer ao toureio, e suscitou o confronto entre marialvas de duas linhas estéticas distintas – os Salgueiro e os Fernandes. Em tempo de escassez de poder de compra os aficionados têm de seleccionar muito bem as corridas a que assistem, privilegiando, sempre que possível, aquelas que oferecem mais motivos de interesse.

Acresce que os toiros de Passanha também impõem respeito e transmitem quase sempre muita emoção, o que, como se sabe, é um dos condimentos essenciais do toureio e um dos grandes atractivos para a maioria dos aficionados. E os que saíram à arena do Cartaxo nesta tarde não frustraram as expectativas dos aficionados mais conhecedores, merecendo os quatro últimos uma nota alta quanto a apresentação, e quanto às condições de lide apenas o segundo da ordem saiu mais complicado. Quando os toiros saem bem o espectáculo engrandece-se muito e foi o que aconteceu nesta excelente tarde de toureio e de toiros.

Sem desdouro para ninguém, o grande aliciante desta corrida assentava no “regresso” de João Salgueiro, toureiro de excelentes recursos técnicos e artísticos, que privilegia os cites de frente e as sortes nos terrenos de maior compromisso. Dá gosto ver tourear João Salgueiro, especialmente porque é um cavaleiro que talha a obra à frente do pano, ou seja, não impinge na arena a lide que preparou em casa, pois bem sabemos os imponderáveis que um toiro pode oferecer.

A elegância do seu toureio, o repouso das lides, templando os andamentos do toiro com as suas montadas, mantendo tudo uma expressão tão harmoniosa, fazendo parecer que é fácil o que é deveras difícil. Mas, esse é o sortilégio das figuras do toureio, pelo que marcam um tempo e se tornam referenciais para os seus pares que queiram, ou possam, seguir-lhe os trilhos do sucesso. Dominando a técnica como poucos, sendo valoroso como os mais ousados e tendo uma sensibilidade estética apenas acessível aos génios, de João Salgueiro só se aguardam triunfos pautados pela qualidade do seu labor. Esta tarde ficou memorável não só pelo seu regresso, que se espera que seja mais efectivo do que em anteriores ocasiões, mas essencialmente pelo facto de haver demonstrado a quem eventualmente o duvidasse que o marialva de Valada mantém intactas todas as suas potencialidades, agora até mais amadurecidas, o que nestas coisas da arte não é de somenos importância. O triunfo de João Salgueiro constituiu mais um rasgo de esperança no futuro do toureio equestre.

Rui Fernandes, que vem triunfando nas arenas espanholas onde amiúde se apresenta, não teve sorte com o toiro que lhe coube lidar. Toiro incómodo, que não atacava no centro da sorte e que era muito andarilho, o que dificultou a tarefa do cavaleiro da Caparica. Porém, Rui Fernandes tem muito ofício e está bem montado, pelo que facilmente se adaptou às más condições do seu oponente e desenhou uma lide muito agradável, temerosa e arrojada, colocando a ferragem em sortes muito emotivas. Rui Fernandes pôs no toiro o que ele não tinha, e demonstrou assim que todos os toiros, mesmo os maus, podem permitir o bom desempenho de quem os enfrente, o que exige muito valor e muito saber.

João Salgueiro da Costa terá encarado esta corrida com um sentimento de felicidade por poder alternar com seu pai, mas também de muita responsabilidade, pois o facto de carregar o sobrenome de Salgueiro não lhe facilita a vida. Para mais, depois do grande êxito de seu pai na primeira lide da tarde. Talvez por isso, o jovem marialva de Valada se empenhou profundamente para fazer tudo bem feito. O segundo ferro comprido não ficou bem colocado, do que se penitenciou, mas nem este aspecto o diminuiu no seu empenho, pelo que a lide se desenrolou num nível técnico sempre crescente, confirmando o apuro de forma que temos apreciado nas suas últimas actuações. João Salgueiro da Costa honrou os pergaminhos da sua dinastia toureira e terá sentido o triunfo de seu pai como mais um grande estímulo para seguir neste rumo ao estrelato.

Duarte Fernandes é ainda um jovem toureiro, porém quem o apreciar sente que não é a alternativa que tem qualquer efeito no seu labor, tamanhas são as suas potencialidades técnicas e artísticas, na linha de toureio de seu tio, a que, contudo, empresta uma expressão muito peculiar, bem patente no risco inerente aos terrenos que pisa e na emoção com que crava a ferragem. Já ninguém duvidava das capacidades deste jovem marialva, mas a sua actuação no Cartaxo poderá ter esclarecido ainda algumas dúvidas a quem as tivesse. Vai ser uma grande figura!

Somos dos aficionados que não apreciam muito as lides a duo, embora reconhecendo que há circunstâncias e protagonistas que bem podem constituir a excepção a esta regra. E nesta tão agradável tarde tudo o justificou, devendo referir-se que o empenho dos quatro cavaleiros e o acerto com que desenharam as respectivas lides a duo, constituiu um dos momentos altos desta corrida. Para tal muito contribuiu o facto de estes marialvas trabalharem muito em conjunto, o que lhes permite estarem perfeitamente identificados com o estilo da cada um, para além de, igualmente, os toiros terem facilitado muito o labor de todos.

 Nestas lides a duo não é justo analisar individualmente o labor de cada toureiro, para mais quando todos estiveram em tão elevado plano técnico, mas cumpre-nos destacar o entendimento perfeito que resultou numa lide harmoniosa, dinâmica e alegre, mas, outrossim, séria e emotiva. Parabéns a todos.

Como se sabe os “Passanhas” nunca são fáceis, nem cómodos, para os rapazes da jaqueta de ramagens, pois, para além do seu poder, também devemos ter em conta o mau génio de quem não se quer deixar vencer. Não espanta, assim, que apenas uma pega tenha sido consumada ao primeiro intento e que para pegar os seis toiros da corrida tivessem sido necessárias dezanove tentativas.

 Pelos Amadores de Coruche foram solistas Francisco Carvalho, que brindou a sua sorte à memória do primeiro Cabo do Grupo, João Costa Pereira, falecido no ano passado, consumando só ao terceiro intento, depois de sofrer violentos derrotes nas duas primeiras intervenções, e David Canejo, que se estreava nas arenas, concretizando no quinto Passanha da tarde a pega à quinta tentativa, com algum desacerto das ajudas, o que não é habitual neste Grupo, que apresentou muita gente jovem.

 Pelos Amadores de Cascais, Afonso Tomás da Cruz, que concretizou a sua sorte à segunda tentativa, e João Maria Galamba consumou à primeira tentativa uma excelente pega, patenteando elevada técnica e muito valor, com ajuda eficaz e coesa do Grupo.

Pelo Grupo anfitrião, foram solistas Bernardo Sá, que se fechou com valor e determinação à quinta tentativa, e José Ribeiro, que se fechou à terceira, com o Grupo a ajudar com galhardia.

Nota muito positiva para o labor dos peões-de-brega que coadjuvaram as lides e colaboraram muito activamente na colocação dos toiros para as pegas, e uma palavra de apreço para os campinos João Inácio “Janica” e Manuel Gordo, que recolheram os toiros a cavalo com a competência e destreza que lhes é peculiar.

 Manuel Gama, bem assessorado pelo médico veterinário Dr. José Luís Cruz, dirigiu com acerto e afición esta agradável corrida

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