Almeno,
Permite-me tratar-te assim, chegaste à minha/nossa companhia, nos anos 80, quando o teu trabalho em Televisão, possibilitou a tua entrada nas nossa vidas. A tua carreira principiou no Minho, na tua prezada cidade natal, Braga, onde nascestes no dia 17 de Outubro de 1959. Cedo a paixão pelo Teatro, despertou em ti. Ainda estudavas no Liceu Sá de Miranda, quando fundaste três grupos de Teatro, entre os quais, o Teatro Universitário do Minho. Declaraste:” A minha vida é o teatro!” Nunca mais paraste, o palco foi a tua forma de vida, a expressão mais duradora e feliz do cânone da tua liberdade. Estreaste profissionalmente, em Lisboa no Teatro da Comuna, sob a direção de João Mota, teu espírito livre do teatro independente consagrou-se. No Teatro da Cornucópia trabalhaste com Luís Miguel Cintra, Christine Laurent e Luís Assis, onde interpretaste peças de William Shakespeare, Beaumarchais e Francisco de Holanda, sempre com o estímulo livre e enamorado.
Eras jovem, esguio, irradiavas talento, empatia e simpatia, não tardou, entrares nas nossas casas, através da “Caixa Mágica”, a Televisão tem este sortilégio, trazer os artistas para perto de nós. Tão perto, que passam a fazer parte do nosso quotidiano, parte de nós, com as histórias das vossas personagens. Lembras-te Almeno, foi assim com o teu “Sérgio Vieira” de “Desencontros”, a novela que começou a ser exibida às 19 horas, todavia, devido ao seu sucesso e a pedido do público, passou a ser transmitida em horário nobre. Um marco, para a produção e atores portugueses. E ficámos encantados com a história da tua personagem, e de “Margarida” (Sofia Sá da Bandeira), que ao se encontrarem no comboio, despertaram uma paixão, que levantou muitas questões pertinentes da sociedade atual, e decididamente apaixonou o público pelo “casal”.
A partir de então, foste ator regular na Televisão integrando elenco de séries e novelas. No Cinema brilhaste em longas-metragens e telefilmes. Ao longo destas últimas quatro décadas, estiveste no palco como ator, produtor, realizador, autor e encenador, dedicado, empenhado, e outorgando sempre o teu distintivo teatral. Embora nunca tenhas procurado ser uma figura mediática, conquistaste admiração pela autenticidade e verdade emocional, das tuas interpretações. Saciaste os palcos de Teatro e os ecrãs de Cinema e Televisão com a tua arte e técnica requintada, humildade e entendimento, voz com tom alto, franco, que buscava liberdade e justiça, disseminava bem-querer e afetos, no mundo artístico português: “Desde a primeira vez que vi uma peça de teatro, quis experimentar, mas também gosto muito de ver representar”.
Prezado pelas gerações mais velhas e mais novas, irradiavas simpatia e talento tornaste-te um dos maiores nomes da tua geração, a “pessoa mais integra (…) que marcou a vida de muitos, a candura em pessoa”, como descreveu o teu querido amigo, José Raposo. Foste sempre respeitador do público e dos colegas. O teu exemplo de civismo e integridade, para quem a Liberdade, é o maior de todos os valores!
Estimado Almeno, o teu vasto legado perdurará, está connosco público e artistas, que te bem-queremos e honramos. O teu nome perpetuará na memória artística nacional, porque estarás sempre presente, através do teu paradigma, legado, extraordinário sorriso, e olhar esperançoso e iluminado. Um abraço à tua filha, Francisca. Um abraço, à tua querida mulher, Patrícia, com quem partilhaste o palco e a vida.
Almeno Gonçalves, és, e serás sempre MEMORÁVEL!
