António Alves Redol foi recordado sexta-feira à tarde no âmbito da Festa das Artes e das Tradições Populares do Mundo que decorre até domingo na Casa do Campino.
Ludgero Mendes, presidente do Grupo Académico de Danças Ribatejanas e Rita Pote, directora do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Glória do Ribatejo foram os oradores da sessão que recordou a “dimensão do Homem e do Escritor” neo-realista Alves Redol e a sua faceta de “Escritor Antropólogo”, bem como o 80.º aniversário da publicação do ensaio etnográfico “Glória – Uma Aldeia do Ribatejo” que Redol escreveu no ano de 1938, resultante da investigação que levou a cabo “nesta singular aldeia ribatejana”, no dizer de Ludgero Mendes.
O director do Festival ‘Celestino Graça’ lembrou ao público presente, algum que se deslocou de outros distritos do país só para ouvir falar do escritor homenageado, que Redol foi o percursor do denominado “método etnográfico” que utilizou para desenvolver este estudo sobre Glória do Ribatejo e cujos pressupostos haviam sido enunciados por Bronislaw Malinowski na introdução ao livro “Os Argonautas do Pacífico Ocidental” (1922).
“A evidência do seu método de trabalho de campo, no contacto directo com as comunidades que estudou, está patente em quase toda a sua obra literária, pelo que é indissociável a rara sensibilidade do escritor ficcionista e a lente antropológica com que observava os protagonistas dos seus livros,” nota Ludgero Mendes.
Segundo Ludgero Mendes, Redol foi viver para a Glória para conhecer “aquela gente estranha”, exemplo da “singularidade da cultura gloriana”, sendo reconhecida e elogiada a sua “preocupação social e humana” dessas comunidades.
“Alves Redol tem sido muito esquecido e é um escritor incontornável, de uma sensibilidade extraordinária. Cada página é um hino ao bem escrever e ele não pode ficar esquecido”, refere o director do Grupo Académico que anunciou, no decorrer da conferência, que o Festival do próximo ano assinalará a passagem de 50 anos sobre a morte do escritor (1969).
Por sua vez, Rita Pote recordou a sua entrada para o Rancho de Glória do Ribatejo, com apenas sete anos de idade, grupo que nunca mais abandonou.
“O Rancho tem a preocupação de ir de encontro às raízes e pretendemos estudar a cultura que converge na singularidade que nos distingue dos outros”, afirmou a directora do Rancho da Glória.
Rita Pote explicou aos presentes os trajes e a “arte do pormenor”, bem visível nos inúmeros “lenços de namorados” de diferentes épocas, em exposição na Casa do Campino, cujos símbolos “não são casuais”: “as pombinhas sinal de pureza, as chaves que abrem os corações, os ramos num vaso, símbolos da masculinidade e feminilidade, onde o profano e o sagrado se cruzam, símbolos divulgados de geração em geração pela via oral”, informou.
“Qualquer um destes lenços é um poema”, frisou.
“Hoje os lenços já não se oferecem aos namorados, mas o sentimento gloriano persiste”, nota.
Em exposição estão ainda retratos da autoria de Manuel Quintas, que mostram os rostos de mulheres da Glória do Ribatejo. Há dois anos eram 136 as mulheres que ainda usavam o traje da Glória.
“Entendemos homenageá-las com estes quadros tendo em conta que a mulher é o centro de toda a cultura gloriana e permite a quem não conheça estas mulheres encontrar-se com elas”, salienta Rita Pote.
Na reta final do colóquio foi lamentada a ausência do escritor Alves Redol dos programas escolares e notada a urgência na reedição de “Glória – Uma Aldeia do Ribatejo”.
Antecedendo a homenagem a Alves Redol foi inaugurado o Salão de Fotografia ‘O Ribatejo e as Suas Gentes”, cujas fotos podem ser apreciadas na entrada da Casa do Campino.
A exposição dos lenços e dos rostos das gentes de Glória pode também ser visitada até amanhã, domingo, na Casa do Campino, durante o 59.º Festival Celestino Graça que esta manhã dedicou um ‘Flash Mob’ ao fandango, que se prolonga pela tarde com a III Mostra de Fandangos do Ribatejo (17h00) e à noite (22h00) a Gala de Folclore ‘O Mundo a Cantar e a Dançar’, com a presença de todos os grupos estrangeiros presentes no Festival, oriundos do México, Brasil, Polónia e Ucrânia.
Amanhã, domingo, o Festival entra no último dia com um Grupo de Concertinas” que actuará na Casa do Campino pelas 14h00 e a Gala de Encerramento do Festival, a partir das 17h00.

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