Raul Lopes, natural de Santarém, é formado em Arquitetura, porém não foi a área que seguiu profissionalmente. Desde muito novo que demonstrava um enorme gosto por roupas e foi na casa da sua avó que descobriu uma boneca que lhe despertou a paixão pela moda. Cria bonecas personalizadas ao gosto do público desde 2015 e intitula-se como “The Doll Stylist”, em português, “O Estilista de Bonecas”.

Começou a costurar à mão as suas primeiras criações devido ao escasso acesso a roupas e acessórios quando era criança.

Gostava de idealizar a carreira, criar a casa, as roupas e os penteados de cada boneca. Actualmente, entre criações a título individual, exposições e encomendas de clientes, soma mais de 100 trabalhos no seu portfólio. Para o estilista as bonecas são um estímulo à imaginação e criatividade. Inspira-se em pessoas, filmes, eventos, ambientes, desfiles, entre outros e refere que “não existem limites para fontes de inspiração”.

Com que idade descobriu que queria ser estilista?

O gosto por roupas vem desde muito novo. Não sei identificar ‘’O’’ momento ou idade em que aconteceu. Em criança ocupava o meu tempo a desenhar figuras que via na televisão e a brincar com Lego e Playmobil, até que descobri uma boneca num baú em casa da minha avó. Talvez terá sido esse o momento em que surgiu o interesse por criar roupas.

Lembro-me de ter ficado completamente rendido à beleza e glamour daquele brinquedo. A representação de uma mulher adulta, sofisticada, com um longo cabelo loiro, vestida com um vestido rosa e prata, uma estola com plumas e uma touca com lantejoulas. Recordo-me que nunca tinha visto nada igual.

E como é que surgiu o gosto por criar peças únicas, em especial para bonecas?

As bonecas foram em criança um enorme estímulo à imaginação e criatividade. Podia idealizar a carreira, criar a casa, as roupas, os penteados… Mesmo não tendo qualquer objeção por parte dos meus pais em brincar com bonecas, o acesso a roupas e acessórios era muito escasso. Como tal, comecei a costurar à mão as minhas primeiras criações. Recorri novamente ao baú da avó e criei os meus primeiros vestidos, saias e tops, que ainda hoje tenho guardados.

E assim começou, da vontade de ter um guarda-roupa diverso, cheguei à criatividade e costura.

Quantas criações estima ter feito até aos dias de hoje?

Por incrível que pareça, não consigo precisar o número exato, mas são mais de 100, seguramente. Entre criações a título individual, exposições, encomendas de clientes, somam-se muitas criações.

Qual foi o trabalho que lhe deu mais satisfação fazer?

Felizmente tenho bastantes. No entanto, posso destacar a minha primeira criação como Doll Stylist, as Doce, com as bonecas vestidas como as cantoras no Festival da Canção em 1982, com o tema ‘’Bem Bom’’.

Foi um projecto delicioso de executar, revisitar aquelas quatro mulheres tão arrojadas e audazes, que sempre se apresentavam com uma imagem polida e cuidada, e cujas canções ainda hoje são relembradas e apreciadas. Adorei fazer-lhes essa homenagem.

Qual foi o trabalho mais desafiante?

Foram as bonecas para oferecer a um conjunto de mulheres que se destacaram na sociedade portuguesa nas mais diversas áreas, desde o desporto, televisão, música, artes, etc. A marca das bonecas pretendia homenagear essas mulheres numa entrega de prémios, oferecendo uma boneca personalizada à imagem de cada uma. Foi um projecto de grande responsabilidade e que se repetiu durante três anos. É outro dos que guardo até hoje como dos mais especiais.

Criou alguma boneca associada ao Ribatejo?

Sim. Em 2015 criei um conjunto de bonecos intitulados ‘’Lusitana Paixão’’ que, embora não seja um traje exclusivo à cidade de Santarém, encontra-se muito associado ao Ribatejo, em especial à Golegã: o de cavaleiro (a) à portuguesa. Foi um trabalho que teve como base uma pesquisa sobre todos os componentes do traje masculino e feminino para que nenhum detalhe fosse esquecido.

Tive como inspiração a D. Maria do Carmo Infante da Câmara, cuja beleza e elegância na Feira da Golegã sempre me fascinaram.

Como é o processo de criação de uma boneca?

Existem duas vertentes, que apenas diferem no primeiro passo, nomeadamente uma criação a título individual, ou uma encomenda. No primeiro caso, começa sempre por reunir um conjunto de ideias e desenhar. No caso de uma encomenda, as imagens são fornecidas pela (o) cliente e é a partir das mesmas que avanço para o passo seguinte. Terminado o passo 1, procuro a (o) boneca (o) mais adequada (o) para o projecto e compro os tecidos e demais aviamentos necessários. Em seguida dou início ao desenho dos moldes e a criação de protótipos em pano cru para verificar se os mesmos necessitam de alguma retificação. Dependendo da complexidade do projeto, por vezes são executados três ou mais protótipos até chegar ao efeito desejado.

Uma vez chegado ao resultado pretendido, executo a roupa no tecido final. Por fim, seguem-se a personalização dos acessórios, rosto e cabelos.

Quais são as suas inspirações no mundo da moda?

Sem sombra de dúvida a Chanel. Gosto de alguns criadores contemporâneos, como por exemplo o Daniel Roseberry (diretor criativo da Schiaparelli), ou a Maria Grazie Chiuri (directora criativa da Dior), porém é nos clássicos que encontro as minhas grandes inspirações.

Tem outros projectos em carteira que gostaria de dar à estampa?

Sim. Neste momento encontro-me a trabalhar num novo projeto que difere de tudo o que fiz até então. É uma nova fase, um novo desafio. Estou a criar uma coleção cápsula destinada a colecionadores, composta por roupas, acessórios e peças de mobiliário.

Qual é a/o boneca/o que ainda falta criar?

Quero há muito fazer um boneco de homenagem a António Variações. Um projeto que tem ficado ‘’na gaveta’’, mas que quero muito fazer.

Que conselhos dá a quem pretende seguir os seus passos?

Muito trabalho, dedicação e resiliência, mas sobretudo gostar daquilo que se faz. Divulgar o trabalho nas mais diversas plataformas digitais e meios de comunicação social. Criar uma base de clientes sólida.

Cria bonecas personalizadas ao gosto do público?

Sim, representa aliás 85% da minha atividade. Por norma as (os) minhas (meus) clientes procuram os meus serviços para adquirirem uma (um) boneca (o) à sua imagem. Também tenho clientes que pretendem um presente exclusivo e único para alguém especial, como foi o caso de

uma filha para a sua mãe. Foi um trabalho muito giro de fazer, não só a personalização da boneca, como todos os acessórios (e foram muitos) que replicavam os que a mãe usa. Entretanto tornou-se uma das minhas maiores e mais regulares clientes.

Como é que o público pode encontrar os seus serviços?

Podem encontrar-me através das minhas redes sociais: The Doll Stylist (facebook) e @the.doll.stylist.pt (instagram).

Rita Valério

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