Peça fundamental no ‘combate’ à pandemia causada pelo Covid- 19, os Centros de Saúde da região contam com “profissionais altamente motivados” que acumulam já um grande capital de saber uma vez que, muitos deles, já passaram por situações de outras epidemias, “sendo a da “Gripe A” aquela onde houve maior exigência organizativa”. Quem o diz é Carlos Ferreira, director executivo do ACES Lezíria, que, nesta entrevista ao Correio do Ribatejo, pede que a população se resguarde ao máximo de forma a travar a propagação do vírus: “as medidas já estão interiorizadas, mas só são efectivas se aplicadas”, diz, alertando: Eu próprio, enquanto cidadão nascido e criado na cidade de Santarém, ao falar com muita gente, verifico que as pessoas estão informadas, no entanto observo é que não aplicam, continuo a ver aglomeradas de pessoas e o sentimento de que “isso cá a mim não chega”

Qual é, neste momento, a situação no ACES Lezíria, relativamente ao surto COVID-19?
A gestão dos mecanismos de controlo da epidemia está concedida às Autoridades de Saúde no âmbito das suas funções e competências, que lhes estão atribuídas pelo Decreto-Lei nº 82/2009, de 2 de Abril e legislação complementar. Existe uma linha hierárquica bem definida e tipificada para as situações de emergência que vai para além do ACES a quem compete a gestão da situação e desta em particular. Como é evidente, existem ligações que são indispensáveis do ponto de vista funcional, entre os órgãos de Administração do ACES, nomeadamente o Director Executivo e a Presidente do Conselho Clínico com as Autoridades de Saúde, onde a complementaridade, partilha de informação e o apoio instrumental são sempre necessários e imperativos. Acresce que estes trabalhadores no seu dia-a-dia integram a Unidade de Saúde Pública do ACES, pelo que muitas das tarefas a esta unidade exigida terão que ser equacionadas em termos de priorização.

Em termos de pessoal? Estão motivados?
No que concerne ao que exerce as funções de Autoridade de Saúde a questão da motivação nem se coloca. Ela é evidente e implícita. O problema com que se confrontam não resulta da falta de motivação, mas do número de solicitações que, reconheço, exige esforço. Todos nós temos limites, mesmo quando os tentamos ultrapassar. Em relação aos trabalhadores das nossas 25 unidades, dispersas pelos mais de 3 500 km2, ela tem que existir. É para isso que existem os serviços, contudo percebo perfeitamente que são humanos e que como tal terão evidentemente receios. Sei que fazem tudo para dar as melhores respostas. Porém, não nos podemos esquecer que muitos deles já passaram por situações de outras epidemias, sendo a da “Gripe A” aquela onde houve maior exigência organizativa e como tal existem memórias.

Que medidas foram tomadas em relação aos Centros de Saúde?
Podemos dividi-las em duas partes: As que foram desencadeadas para os trabalhadores, que resultaram de medidas formativas, do estabelecimento dum plano de contingência muito preciso para o ACES e para cada uma das unidades, além de outras específicas de acordo com particularidades de cada local. Para a população, os nossos 200 mil utentes, foram dadas orientações de actuação para as unidades de saúde e divulgadas na comunicação social, local e regional.

Existirão limitações em termos de acesso a consultas programadas e outros actos médicos?
A resposta insere-se na pergunta anterior. O que foi pedido foi que os utentes dos designados grupos mais vulneráveis tivessem as suas consultas, que têm espaço próprio no agendamento das unidades, desmarcadas nos próximos 15 dias, exceptuando-se as entendidas clinicamente como imprescindíveis. Os utentes que careçam de renovação de receituário, por medicação crónica, neste contexto devem preferencialmente recorrer a contactos online, sendo que receberão no seu telemóvel ou por e-mail a devida prescrição (código). Estes tempos de consulta ficam disponíveis para os utentes com doença aguda que se apresentem nas unidades, onde se pretende resposta o mais célere possível. Consideramos ainda que todos os utentes que necessitem de recorrer aos nossos serviços não se devem fazer acompanhar, ou se isso for essencial por apenas uma pessoa.

Considera que as medidas tomadas pelas Autarquias da região foram adequadas e atempadas?
A esta pergunta a resposta é: Sim. Senti uma enorme preocupação e implícita proactividade. Eu próprio tive oportunidade de colaborar com várias das autarquias e de sentir e de compreender esse sentimento.

Esta é altura para evitar alarmismos, mas devemos tomar todas as precauções. Quais as medidas de autoprotecção que recomenda?
Elas têm sido muito divulgadas e o papel de toda a comunicação social tem que ser reconhecido. Têm feito um verdadeiro trabalho de serviço público (não esperava outra coisa). Evitando ser redundante ao falar das medidas de autoprotecção que admito que já estão interiorizadas, julgo que será mais importante referir que elas existem, mas que só são efectivas se aplicadas. Eu próprio, enquanto cidadão nascido e criado na cidade de Santarém, ao falar com muita gente, verifico que as pessoas estão informadas, no entanto observo é que não aplicam, continuo a ver aglomeradas de pessoas e o sentimento de que “isso cá a mim não chega”.
Na prática, é a validação do sentir latino, que “a culpa é dos outros, eles que se preocupem, eu não tenho nada a ver com isso”.

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