Os deputados da Assembleia Municipal (AM) de Santarém – com excepção para os dois eleitos do ‘Mais Santarém’ – aprovaram, na sessão de sexta-feira, dia 4 de Janeiro, o Plano Estratégico de Valorização Turística para o concelho de Santarém.
A larga maioria dos eleitos teceu elogios ao documento, deixando apenas reparos para questões de pormenor, como a “falta de ligação aos concelhos vizinhos” ou a inscrição da Tauromaquia como um eixo a potenciar no concelho: questões enunciadas pelos eleitos da CDU e Bloco de Esquerda.
Na generalidade, o plano, tal como havia acontecido na reunião camarária, passou com os deputados a desejarem que as medidas sejam implementadas no terreno de forma célere.
Em particular, este Plano Estratégico de Valorização Turística prevê a criação de sete produtos que aproveitem o potencial oferecido pelo património histórico, gastronómico, cultural, natural e paisagístico da região.
O documento, elaborado no âmbito do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido nos últimos anos pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo nos concelhos da Lezíria, vem definir uma “linha estratégica” para um trabalho que tem vindo a ser realizado “mais ou menos avulso”, conforme referiu o presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, na apresentação da proposta.
O plano preconiza a realização de cerca de meia centena de acções ao longo dos próximos cinco anos, afirmando o autarca que algumas das medidas estão já a ser trabalhadas.
O documento, ao qual o Correio do Ribatejo teve acesso, conclui que Santarém possui uma “vocação turística eminentemente histórico-cultural, mas também religiosa”, ao mesmo tempo que reconhece a “reduzida atractividade de grande parte do espólio existente”.
Apontam-se as potencialidades e a falta de aposta na atractividade do património natural, em particular do rio Tejo e da zona que integra o Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros, a escassa oferta hoteleira, o número reduzido de agentes de animação turística, a restauração “muito concentrada e com carência de qualificação e aposta na autenticidade gastronómica regional”.
Com base na análise realizada, os responsáveis pelo estudo apontam um conjunto de acções que visam melhorar a atractividade turística do concelho, com a criação de roteiros e rotas, condições de visitação dos monumentos e igrejas, programação regular de eventos culturais e de animação, além da afirmação como capital da gastronomia, com a criação de uma academia de formação especializada e a realização de residências criativas.
Ricardo Gonçalves afirmou que várias destas vertentes têm vindo a ser trabalhadas, referindo em particular a preocupação em reabrir o museu de S. João de Alporão ou a Igreja de Santa Iria, ambos a necessitarem de intervenção que tem de ser articulada com a Direcção-Geral do Património Cultural.
O autarca apontou igualmente a contratação recente de uma empresa que está a analisar toda a programação cultural do concelho e que irá trabalhar na sua divulgação, bem como a requalificação de vários espaços do centro histórico, devido a financiamento comunitários no âmbito do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano.
O município destacou também o “corredor verde” que está a ser trabalhado com o concelho vizinho de Rio Maior, o contributo que a recentemente inaugurada rede de pontos de ‘wifi’ no centro histórico dará para uma plataforma de realidade virtual e a criação de uma nova imagem para o turismo.
O plano sugere que o espaço do antigo quartel da Escola Prática de Cavalaria seja transformado num “parque de cidade”, aproveitando as estruturas existentes, nomeadamente para a criação de um centro equestre, e que o antigo presídio militar acolha um centro de arte, ciência e tecnologia ou um “mega-estúdio cinematográfico”.
Para o campo Emílio Infante da Câmara propõe-se um espaço verde dedicado às artes, com a criação de uma Casa das Artes e de Espectáculos e um museu do campino e do cavalo, aproveitando a Casa do Campino para a instalação de uma academia especializada na formação em artes gastronómicas.
No norte do concelho, sugere-se que o património natural das Serras d’Aire e Candeeiros, que inclui a jazida de pegadas de dinossáurios de Vale de Meios, e inúmeras pedreiras desactivadas, seja candidatado a Geoparque da UNESCO e aproveitado para turismo na natureza.
Para o rio Tejo, além do aproveitamento para desportos náuticos, o município refere o potencial da requalificação dos bairros e aldeias ribeirinhas, a criação de uma rede de aldeias avieiras, a criação de um centro interpretativo e de um “comboio turístico” Lisboa/Santarém.
Ricardo Gonçalves afirmou que o plano “é muito ambicioso”, pelo que não poderá ser concretizado “todo de uma vez”, e que, sendo um “documento aberto”, é “sempre possível melhorar” e “adaptar a realidades exógenas”, nomeadamente as decorrentes dos fundos comunitários.
Procura turística tem aumentado
Santarém possui actualmente 38 unidades de alojamento e 752 camas, um crescimento de mais 22 instalações (138%), sobretudo de alojamento local, e de 225 camas (43%), relativamente a 2013, segundo dados do município.
Este crescimento da oferta turística no concelho deriva em grande parte de uma realidade vivida em todo o país, com o crescimento do turismo, que tem levado a um aumento do investimento nesta área.
“Sabemos que uma parte resulta da pressão que actualmente existe sobre Lisboa, mas também há procura por Santarém, pelo património e pela beleza natural”, afirma o presidente da autarquia, Ricardo Gonçalves, salientando o facto de a cidade ser cruzada por “duas rotas bastante importantes”, os Caminhos de Santiago (para o qual o município concebeu um carimbo próprio) e os de Fátima.
As unidades de alojamento local passaram das seis existentes em 2013 para 26 no final de 2017, aumentando o número de camas neste segmento das 33 para as 238, havendo mais duas instalações de turismo rural (de seis para oito, com o número de camas a subir das 73 para as 93) e mantendo-se os quatro hotéis registados no concelho, que têm uma oferta de 421 camas.
Em 2017 foram submetidos ao município, para apreciação, 19 projectos para alojamento local e para turismo rural, e três pedidos de informação prévia para unidades hoteleiras no centro histórico da cidade e ainda um pedido de alteração fora do centro histórico.
Este interesse de investidores deixa o autarca “bastante optimista relativamente ao futuro”, pois são sinal de um interesse crescente pelo concelho.
Dados do Instituto Nacional de Estatística mostram um crescimento de 33% das dormidas no concelho (de 43.155 em 2012/13, valores de Setembro a Setembro, para as 57.444 em 2015/16) e um ligeiro aumento da estadia média (de 1,7 dias para 1,8).