A Associação Nacional de Laboratórios Clínicos (ANL) manifestou-se hoje contra a internalização dos serviços de análises clínicas nas Unidades Locais de Saúde (ULS), tendo afirmado que tal constitui um “retrocesso grave” na “segurança, liberdade de escolha e na concorrência”.
Em comunicado, a ANL afirmou hoje a sua “oposição a este processo” e “ao atual modelo de financiamento” das ULS, em posição tornada pública depois de ter “tomado conhecimento que a Unidade Local de Saúde (ULS) do Médio Tejo se prepara para internalizar grande parte dos serviços de análises clínicas”.
A ANL considera que a internalização das análises nas ULS “retiram direitos dos utentes e põem em causa a segurança e qualidade, o acesso e a liberdade de escolha”.
A posição pública da ANL decorre dos projetos contemplados no plano de desenvolvimento” da ULS Médio Tejo, apresentado em 29 de janeiro em Tomar e onde o presidente do conselho de administração, Casimiro Ramos, destacou “a internalização de grande parte das análises clínicas, radiologia convencional e TAC dos utentes do Médio Tejo”, em processo que já está em curso “com a instalação de postos de recolha para análises clínicas em oito unidades de cuidados de saúde primários”.
Questionado sobre as preocupações da ANL, Casimiro Ramos, disse hoje à Lusa que “a projeção de internalização de análises clínicas no primeiro ano de atividade da ULS Médio Tejo é de apenas um terço dos exames prescritos pelos cuidados de saúde primários”, correspondendo a uma poupança 1,756 milhões de euros, ou 409 mil análises” clínicas.
“Este é um passo possível após os avultados investimentos realizados no Laboratório de Patologia Clínica da Unidade Hospitalar da ULS Médio Tejo de Tomar durante a pandemia – mais de 300.000 euros de investimento que permitiram uma enorme diferenciação técnica e autonomização da instituição, que chegou a realizar dois mil testes de Covid-19 diários para toda a região de Lisboa e Vale do Tejo, com uma qualidade inquestionável”, notou.
O gestor da ULS Médio Tejo referiu ainda que “a implementação de postos de colheita descentralizados” nas unidades de cuidados de saúde primários “vem dar uma resposta de proximidade, aumentando o acesso, e responde a uma antiga reivindicação dos utentes que, assim, não necessitam de se deslocar a um qualquer outro local externo e podem assim realizar as análises prescritas pelo seu médico de família/ médico assistente no centro de saúde, com a integração imediata dos resultados na sua ficha – permitindo mais rápidos diagnósticos e encaminhamentos”, sendo esta “a grande mais-valia para o SNS e para os utentes”.
O diretor-geral da ANL, Nuno Marques, citado no comunicado divulgado hoje, reitera que, “num setor em que mais de 96% dos pontos de acesso são pontos não públicos, obrigar os utentes a só poderem realizar as suas análises clínicas nos locais da ULS constitui um retrocesso grave na segurança e qualidade dos atos, na liberdade de escolha dos utentes e na concorrência”.
O responsável afirma ainda que “os laboratórios e os postos de colheitas das ULS não se encontram licenciados, não cumprem regras de qualidade, e os utentes passam a ser impedidos de acederem, como até agora, à rede existente e de proximidade de laboratórios clínicos”, tendo indicado que “estes processos de internalização produzem prejuízos graves para os utentes e colocam em causa a sustentabilidade dos laboratórios de análises clínicas, que empregam mais de 15.000 colaboradores”.