A associação empresarial da região de Santarém – Nersant aprovou as linhas estratégicas e um orçamento de 1,9 milhões de euros (ME) para 2024, tendo decidido vender o seu pavilhão de feiras/exposições para resolver dívidas de cerca de 2 ME.

“Encontrei uma associação, não vou esconder, endividada, tem um conjunto de dívidas com alguma importância, umas garantidas por hipoteca, outras não, e que naturalmente preocupam qualquer gestor”, disse à Lusa o presidente, António Pedroso Leal.

Eleito em Agosto de 2023, o dirigente disse ter encontrado uma associação num “fim de ciclo daquilo que são os projectos financiados”, o que definiu como “problemático”, porque “fecha projectos e tem que se repor dinheiro e fazer pagamentos”.

Para pagar as dívidas, Pedroso Leal pretende recorrer ao capital da associação, que está representado por valores imobiliários avaliados em 8 ME, património que “pode ser vendido ou hipotecado”, em caso de necessidade.

É o caso do pavilhão de feiras da Nersant, em Torres Novas, com uma área de exposição de 3.500 metros quadrados (m2) e que conta no seu interior com um restaurante, um auditório com 270 lugares, bilheteira, espaço de recepção, cafetaria, refeitório, wc, uma startup, uma sala de formação, uma sala multiusos e ainda sete salas para incubação de empresas.

Segundo o responsável, este imóvel “está avaliado pelas Finanças em 1,9 ME”, o que permitiria resolver no imediato dívidas com atrasos.

“Estamos, naturalmente, a gerir a dívida. Como não somos nenhum Estado, somos uma entidade privada, temos mais dificuldade” e “essa é a preocupação que temos neste momento”, reiterou, tendo indicado que a associação “tem claramente condições para resolver o problema”, o que passará por “dispor dos bens”.

Nesse sentido, Pedroso Leal, que iniciou em Agosto um mandato válido para três anos, disse à Lusa estar em conversações com entidades públicas, nomeadamente o “poder político local”, e com entidades privadas, tendo afirmado que o município de Torres Novas seria o parceiro ideal.

“A direcção da Nersant está a tentar vender e está a tentar comercializar o pavilhão de algumas formas. Uma delas é que o poder local assuma e fique com ele porque, no fundo, é um património de Torres Novas.

Sendo um património de Torres Novas, beneficia o concelho”, defendeu. “Se o poder político local olhar para aquilo como uma oportunidade de fazer crescer e dinamizar muita coisa aqui no concelho, ganhamos todos. Ganha o concelho porque tem um espaço e um parceiro

para dinamizar. Nós dinamizamos. Se essa não for a vontade do poder local, é evidente que passa pela aquisição de um privado, que depois dinamizará de acordo com os seus próprios interesses”, alertou o dirigente da Nersant.

Assegurado já ter recebido manifestações de interesse, Pedroso Leal disse, no entanto, que a Nersant “não está para dar ou vender o pavilhão ao desbarato”.

“Neste momento passa pelo pavilhão a solução financeira da associação, não vale a pena escondê-lo. As coisas são transparentes e estão à vista”, mas por valores “na ordem de grandeza da avaliação das Finanças” (1,9 ME), frisou.

O dirigente insistiu que “a sustentabilidade da associação” (…) passa por “rentabilizar-se a si própria” e defendeu que a Nersant “não pode estar dependente toda a vida do património que ela própria tem” para resolver o actual problema de défice.

“Temos condições actualmente de ultrapassar as dificuldades de uma forma suave, quanto mais breve melhor (…) E planeá-lo passa por esses dois vectores. Ou o sector público olha para isso ou o privado olha para isso e temos a solução do problema”, concluiu.

Associação empresarial de Santarém aposta nas acessibilidades e internacionalização

A melhoria das acessibilidades, com uma nova travessia sobre o Tejo, o incremento das energias renováveis, com o projecto Ribatejo Verde, e um reforço da internacionalização são apostas da nova direcção da associação empresarial da região de Santarém – Nersant.

Em declarações à Lusa, o presidente da Nersant, António Pedroso Leal, destacou que o orçamento para 2024, de 1,9 milhões de euros (ME), “claramente superior ao do ano passado (de 1,5 ME), define “duas grandes áreas de investimento” para as empresas da região.

“Uma delas é a internacionalização, pretendemos continuar o papel da internacionalização em vários países, sobretudo da Europa, onde a estabilidade política e económica se mantém, e, por outro lado, manter apoio àquilo que é o nível interno das nossas empresas, promover o nosso tecido empresarial, realizar formações e promover o empreendedorismo, que é o nosso ‘core business’”, indicou Pedroso Leal, de 63 anos.

Segundo o dirigente, “é muito nessa área, da promoção das empresas, dos produtos da região” que vão investir, passando a “grande estratégia” pela aproximação e parcerias com institutos politécnicos para a formação profissional.

Outra das apostas da associação empresarial passa pela “sustentabilidade ambiental” e pela “preservação da natureza”, tendo Pedroso Leal defendido uma “energia verde e sem poluição”.

“E essa preocupação, quando falamos em Ribatejo Verde, é uma preocupação que deve estar presente nos empresários da nossa região, porque a economia não é o lucro desenfreado, é o lucro a pensar naquilo que vem a seguir”, defendeu.

Ao nível político, disse ter tido “algumas abordagens com os deputados da região, dos vários partidos”, no sentido de lhes “dar elementos necessários para que tomem posição relativamente à região e que a defendam”, como uma nova travessia sobre o Tejo, na zona entre Chamusca e Abrantes, entre outras.

“O que a Nersant tem como preocupação é exactamente as grandes acessibilidades. Eu olho para a Chamusca e vejo uma ponte que necessita claramente se ser substituída (…). Por outro lado, o interior tem custos associados com a utilização das portagens. Há que olhar para esses custos associados às empresas”, sinalizou.

O dirigente defendeu ainda a criação da uma nova NUT II (Nomenclatura de Unidade Territorial) que agregue numa só região, para efeitos de candidaturas de projectos, as sub-regiões do Médio Tejo, da Lezíria e do Oeste, ao contrário do actual modelo de financiamento, em que umas empresas do mesmo distrito concorrem aos apoios do Alentejo e outras aos do Centro.

Com sede em Torres Novas, a Nersant conta hoje com 3.100 associados, entre micro, PME´s e grandes empresas, que representam “mais de 90% do Valor Acrescentado Bruto (VAB) da região de Santarém” e “tem um peso no Produto Interno Bruto (PIB) nacional de 4,05%”, indicou o gestor.

“Em 10 anos, foram criadas 750 empresas novas (…) Dessas empresas, 92% mantiveram- se em actividade ao fim de dois anos. É uma das melhores taxas a nível nacional. Sessenta e um milhões de euros foi o volume de negócios que essas 750 empresas geraram. Foram 1.287 postos de trabalho”, destacou Pedroso Leal.

“Para a próxima estatística, no lugar de termos 750 empresas, temos 1.500. Portanto, a aposta é sempre criar e multiplicar”, afirmou.

Para este ano estão programadas “duas ou três grandes actividades”, como uma gala de distinção de empresários, uma feira do imobiliário e um ‘boot camps’ para promover as empresas do Médio Tejo e da Lezíria do Tejo.

“Queremos ser os agentes aglutinadores desta relação entre empresas, comunicação social, institutos politécnicos e o poder político local, regional e nacional. É nesta simbiose que vamos desenvolver as nossas actividades para os próximos três anos”, concluiu.

No âmbito da rede Startup Ribatejo, a Nersant dispõe actualmente de incubadoras de empresas em Abrantes, Torres Novas, Alcanena, Ourém e Santarém.

Com 24 funcionários, a Nersant, além da sede, em Torres Novas, dispõe de núcleos em Abrantes, Ourém, Santarém, Cartaxo e Benavente, numa “política de proximidade às empresas”.

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