A “autobiografia não autorizada” de Mário Viegas foi editada este mês pela Tradisom, e vai ser apresentada em Lisboa na quarta-feira, numa versão que inclui quatro CD com gravações inéditas do actor que teria feito 75 anos em novembro.
Perto de 28 anos depois da edição fotocopiada que o actor e encenador elaborou em 15 dias e distribuiu por amigos, e de uma edição ‘fac similada’ editada pela Câmara Municipal de Cascais com uma tiragem muito reduzida, já depois da morte do actor, em 01 de abril de 1996, “Mário Viegas – Auto-photo biografia (não autorizada)” chega agora às livrarias, assinalando os 75 anos de nascimento do autor, que se completaram no passado dia 10 de novembro.
Com uma tiragem de 1.000 exemplares e editado em formato pouco mais pequeno do que o A3 original, o livro, em capa dura, contém ainda “como suplemento” quatro CD, dois dos quais com as gravações de um café-concerto que o ator fez no Porto, em 1986, e em que ensina ao público como recitar poesia, e outro com uma gravação do ator no dia em que cumpriu 9 anos, disse à agência Lusa o editor da obra, José Moças.
“É impressionante”, frisou o editor da Tradisom, acrescentando que aquela gravação – tal como outras em que o ator surge a ler em voz alta, deitado de barriga para baixo para poder controlar o diafragma – denota a “genialidade” do artista, que viria a morrer, em 1996, aos 47 anos.
Recortes de jornais, bandas desenhadas feitas pelo ator em criança, entrevistas a jornais quando já adulto, fotografias, entre muitos objetos artísticos, constam da obra que terá a primeira apresentação na quarta-feira, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e que terá nova apresentação dois dias depois, em Santarém, cidade natal de Mário Viegas, numa iniciativa que, para a irmão do ator, Maria Hélia Viegas, tem “uma importância enorme”.
“Porque, ele, nos seus 75 anos, anda por aí, ainda está no ar. No ar das rádios, no ar da televisão”, disse Maria Hélia Viegas, em entrevista à agência Lusa, considerando a obra “o presente de anos para o irmão” de quem foi cúmplice na construção de peças, realização de figurinos ou na elaboração de um jornal que fizeram para vender na vizinhança em Santarém.
“Dos seus 75 anos é este presente que nós podemos oferecer para ele estar cá connosco e continuar connosco”, frisou a irmã de Mário Viegas.
O livro editado agora pela Tradisom acaba por ser também uma demonstração do amor que o ator tinha pelo teatro, sobre o qual dizia que foi sempre a sua “vida” e a sua “morte”.
A récita com que Mário Viegas se estreou em palco, interpretando um anjo em 23 de dezembro de 1962, ou a estreia profissional, ainda na década de 1960, são outros episódios da vida do ator retratados no livro, editado tal como o artesanal elaborado pelo ator, no ano em que acabaria por se candidatar às eleições presidenciais de 1996.
“Mário Viegas – Auto-photo biografia (não autorizada)” que agora chega às bancas é assim um “retrato fiel” do pretendido pelo artista que a elaborou em 15 dias já depois de saber “que tinha a morte à espreita”, sublinhou a irmã.
Por isso, e apesar de não ser a primeira vez que a obra é editada depois de o irmão “ter partido”, Maria Hélia Viegas sublinhou que nenhuma das edições anteriores teve “o impacto” que terá esta.
A irmã continua a “vê-lo sentado, de perna cruzada”. “Com aquele ar que bem lhe conheço, com aquele sorrisinho”, acrescentou, sublinhando a “pessoa excelente do ponto de vista humano, com uma bondade e generosidade imensa”.
Textos de autores que faziam parte da vida pessoal e profissional de Mário Viegas, entre os quais António Barahona, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny, Mário Henrique Leiria, Fernando Pessoa e seus heterónimos, Bernardo Santareno, Miguel Rovisco, Raul de Carvalho, Luis Miguel Nava, Mécia de Sena ou Luiz Pacheco, constam também da obra agora editada.
Tal como José Carlos Alvarez, que prefacia a obra e que classifica a original de Mário Viegas “um incunábulo”, Maria Hélia Viegas sublinha a “atualidade” do livro elaborado pelo irmão.
“Extremamente organizado com as coisas do teatro, da sua vida e de tudo a que conferia importância”, Mário Viegas era completamente despreocupado em relação a outras, daí que não fosse de estranhar que “aparecesse com uma meia de cada cor calçada”.
“Se o público conseguir ouvir algum espetáculo do ‘Europa não! Portugal nunca!’, que é dos últimos que fez quando se candidatou para a Presidência da República, está tudo lá, até o ‘Manifesto anti-Cavaco’, que não podia estar mais atual”, concluiu Maria Hélia Viegas.
Com perto de 700 exemplares já vendidos, José Moças não conta vir a fazer nova reedição do livro, porque foi uma edição “muito cara”.
Depois de Lisboa e Santarém, o livro vai também ser apresentado em Coimbra, no sábado, no Convento São Francisco.