Na véspera de Natal, Santarém vive uma tradição singular que completa este ano quatro décadas. O Bar Ribatejo torna-se palco de um encontro único onde a amizade, a nostalgia e as memórias se entrelaçam. Centenas de pessoas reúnem-se para celebrar o que chamam carinhosamente de “o Natal dos Rapazes”, marcada pela simplicidade e pela partilha de minis.

O começo de tudo remonta a um pequeno grupo de amigos que, na década de 80 decidiu transformar a véspera de Natal numa ocasião especial. Inicialmente, eram apenas cinco ou dez pessoas, até que o Bar Ribatejo se tornou o ponto de encontro definitivo. Hoje, a tradição é perpetuada não apenas pelos pioneiros, mas também pelos seus filhos e netos, fortalecendo os laços entre gerações.

O evento, que no início era frequentado exclusivamente por homens, tem vindo a abrir espaço para a presença de mulheres, mostrando como a tradição evolui sem perder a sua essência. 

Para os participantes, este encontro transcende o simples convívio. Representa um regresso às raízes, às amizades que resistem ao tempo e às distâncias. Muitos dos frequentadores vivem fora de Santarém, mas fazem questão de regressar à cidade natal para esta celebração tão especial.

“Esta é uma tradição que queremos manter e partilhar. Convidamos todos a virem ao Bar Ribatejo, a beber uma mini e a sentir a verdadeira essência da amizade”, conclui um participante. Em Santarém, a véspera de Natal é sinónimo de convivência e alegria, onde cada mini partilhada conta uma história de laços que o tempo não desfez.

Manuel, Otília e Joana Duarte partilharam memórias sobre a história e a relevância da tradição natalícia no Bar Ribatejo, que este ano completou 40 anos.

Como surgiu esta tradição tão especial?

Tudo começou no final dos anos 70, princípios de 80. Na época, havia um grupo de amigos, toureiros, bandarilheiros e forcados que vinham assistir às touradas espanholas aqui no café. Tínhamos uma televisão que apanhava os canais de Espanha. Aos poucos, este grupo começou a reunir-se regularmente, e, eventualmente, passaram a vir também na véspera de Natal para agradecer e confraternizar.

Era tudo muito simples. Eles juntavam-se, vinham com os amigos e traziam aquela alegria. Com o tempo, a festa tornou-se uma tradição que atraiu cada vez mais pessoas.

Porque é conhecida como o “Natal dos Rapazes”?

Originalmente, era um encontro exclusivo de homens. Eram os rapazes que se juntavam, amigos de longa data. Hoje, claro, a tradição evoluiu e já temos muitas mulheres a participar. Ainda assim, o nome manteve-se, porque simboliza essa essência inicial. Este ano, uma amiga nossa comentou que pensava que apenas os homens assinavam o livro de presenças. Fiquei contente por ver como esta tradição se abriu a todos.

Qual é o significado de ver gerações diferentes juntas nesta celebração?

É maravilhoso. Ver os pais que trazem os filhos e depois os netos é emocionante. Cada geração deixa a sua marca. Temos um livro de registos onde as pessoas assinam. Quando olhamos para ele, percebemos a evolução: os miúdos que pediam um chupa agora pedem uma mini (risos).

Há alguma história ou momento marcante ao longo destas quatro décadas?

Durante a pandemia, foi um desafio manter a festa. Criámos um sistema de takeaway para que a tradição não fosse interrompida. Foi curioso ver como todos se adaptaram, mesmo em tempos difíceis. Lembro-me também de um episódio divertido: uma vez, um grupo veio num carro funerário. Abriram as cortinas e saíram para a festa! É essa mistura de irreverência e amizade que torna este evento tão especial.

Como descrevem a importância desta tradição para Santarém?

Esta festa é um ponto de encontro. Pessoas que não se vêem durante o ano todo regressam para este momento. Para nós, é como uma grande família. Abdicamos do jantar de Natal em casa para garantir que tudo corre bem aqui, mas é algo que fazemos com orgulho e dedicação.

E para o futuro, o que esperam desta tradição?

Queremos continuar a manter esta tradição viva. Não importa os desafios que possam surgir, estaremos sempre aqui no dia 24 de Dezembro para celebrar. Como dizemos: “Venham beber uma mini connosco e sentir a verdadeira essência da amizade.”

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