A Câmara de Abrantes pretende ver realizadas ações de abate de javalis nas áreas urbanas, tendo o presidente do município manifestado a sua preocupação com o crescente número de avistamentos e de animais que circulam na cidade.
“Esta é uma matéria que nos preocupa e que não é nova, com avistamentos nas áreas urbanas do concelho há mais de uma década, mas que, nos últimos quatro a cinco anos, têm sido cada vez mais frequentes os relatos de avistamentos de javalis no centro da cidade” de Abrantes, disse hoje à Lusa o presidente da autarquia, tendo indicado o receio de “possíveis ataques dos animais, caso se sintam ameaçados”, além de fazerem “perigar a segurança rodoviária”.
Tendo feito notar “não haver registos de ataques” de javalis a pessoas, em Abrantes, Manuel Jorge Valamatos (PS) defendeu, no entanto, a necessidade de criar uma “estratégia” e um “enquadramento legal” capaz de “mitigar a presença excessiva de animais desta espécie” dentro da cidade.
“Têm sido emitidas licenças por parte do ICNF [Instituto de Conservação da Natureza e Florestas] para abates pontuais de javalis nas zonas de caça e, aí, tem havido intervenção por parte das associações de caçadores”, observou, lembrando, no entanto, que “não são emitidas licenças para dar tiros dentro das cidades”.
Contudo, afirmou, “atendendo a estes avistamentos, à frequência que acontecem, e à quantidade de animais, o ICNF entende que, de forma articulada com as forças de segurança, com as associações de caçadores e com uma metodologia e uma estratégia”, tal possa suceder.
“Estamos a falar de tiros, com caçadores posicionados em zonas urbanas e, num trabalho concertado, estamos a delinear uma estratégia para que sejam emitidas licenças por parte do ICNF e para que, nas zonas que são municipais, possa haver aqui alguma ação em concreto de abate destes animais, capaz de mitigar a presença e a quantidade excessiva dentro da própria cidade”, indicou Valamatos, que não apontou uma data em concreto para tal ação.
Além da preocupação com a excessiva quantidade de javalis nas áreas urbanas, também os agricultores de Abrantes já manifestaram a sua preocupação com as áreas rurais e falam numa “praga” que tem causado “prejuízos avultados” na agricultura.
“Nas culturas do milho, e em outras, há prejuízos avultados com a praga dos javalis, com uma grande densidade de indivíduos que encontram nos milheirais um habitat com humidade e onde estragam tudo, com quebras de produção muito significativas, a par dos estragos que causam nas pequenas hortas”, afirmou à Lusa Luís Damas, presidente da associação de agricultores, tendo referido ainda o “impacto que causam nas outras espécies”, a par do “risco da peste suína para a saúde pública”.
Também a Anpromis – Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo já se manifestou, tendo indicado, num relatório apresentado em julho, que os prejuízos provocados por javalis na cultura do milho atingiram, no ano passado, oito milhões de euros.
Segundo a entidade, o “aumento descontrolado da população de javalis que se tem verificado nos últimos anos no nosso país está a causar avultados e crescentes prejuízos no setor agrícola nacional”, tendo a Anpromis, num levantamento efetuado, concluído que “os prejuízos provocados pelos javalis nas searas de milho dos seus associados representaram, em 2022, um valor extremamente elevado, a rondar os 8,0 milhões de euros”.