Foi inaugurada, no passado dia 18, no Fórum Mário Viegas, do Centro Cultural Regional de Santarém, a exposição “Caminhos de Salgueiro Maia”, uma mostra que reúne trabalhos de alunos e professores da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e das Belas-Artes de Lodz na Polónia e com a Academia das Belas-Artes de Bolonha.

A inauguração foi acompanhada pelo lançamento do livro “Chiado, Carmo, Paris e os Caminhos de Salgueiro Maia”, coordenado por José Quaresma, seguido de uma conferência que teve como intervenientes o Coronel Correia Bernardo e o vereador da Cultura na Câmara de Santarém, Nuno Domingos.

A “Revolução dos Cravos” não foi obra de um único homem, mas sim de todo o povo português, civil ou militar. Da mesma forma, vários foram os militares envolvidos na sua concretização. 

No entanto, nenhum outro representa hoje o “espírito do 25 de Abril” como Salgueiro Maia, segundo afirmou Correia Bernardo.

Talvez por ter sido ele o comandante directo da coluna que marchou de Santarém até Lisboa, no cerco que determinou a rendição de uma ditadura de mais de quatro décadas. 

“Era dono de um carácter e personalidade íntegros, qualidades que em si já encerram os valores de um país que se ambicionava construir”, afirmou ainda.

“Era uma pessoa de carácter forte e um grande poder de decisão. Mas também era dócil, muito alegre. Gostava de ajudar os outros e de reunir os amigos por qualquer motivo”, contou.

Quando Salgueiro Maia regressa da Guiné, em Outubro de 1973, passa a integrar a comissão coordenadora do Movimento das Forças Armadas (MFA) como um dos três delegados da Cavalaria. A ele foi dada a missão de comandar a coluna militar que, partindo de Santarém, se uniria às demais unidades em Lisboa. 

“Foi uma Revolução que todo o mundo admirou porque os militares não mataram ninguém e não tomaram o poder para si – os civis é que ficaram com o poder. O nosso 25 de Abril correu o mundo e inspirou um movimento de democratização em vários países. O nosso objetivo no MFA era mudar o regime, implantar a democracia e a liberdade e acabar com a guerra. Eram os três dês – Democratizar. Descolonizar e Desenvolver”, considerou Correia Bernardo.

Numa comunicação emotiva, o vereador da Cultura na Câmara de Santarém, Nuno Domingos recordou que passaram já 32 anos sobre a data em que o “nosso eterno Capitão” nos deixou. 

“Parece que foi ontem. De tal maneira parece que foi ontem que ainda temos nos nossos ouvidos, a sua voz forte, bem timbrada e aquela risada límpida e clara retumbante de alegria. Parece também que foi ontem que nos encontrámos nas manhãs de 25 de Abril, no Jardim da República, para ver a animação das crianças a viver a alegria de pintar a liberdade, enquanto os palhaços do Veto Teatro Oficina, conduziam a criançada pelas delícias da brincadeira”, rememorou.

“Ali desenhámos as visitas à Escola Prática de Cavalaria, nos finais de manhã de cada dia 25 de Abril. Da primeira vez quiseste oferecer um lanche às crianças. A enchente, foi tal que tivemos que fazer três turnos e o lanche mal chegou para o primeiro. E a cara das pessoas, a sua curiosidade, as perguntas mais variadas e a tuas respostas sempre pacientes de cicerone daquelas visitas tão especiais.

A visita terminava no “teu” Museu e era ver o espanto de todos face aos conteúdos que a exposição oferecia: a história da Cavalaria, desde a Pré-História, até à actualidade. Surpreendidos, questionavam como foi possível, como se conseguiu? e tu apenas respondias: isto ajuda-me a dar a instrução”, confidenciou.

“Parece que foi ontem”, continuou, porque “estás presente e vamos procurando escutar a tua voz em cada momento, a cada assunto, a cada projeto a cada vez que nos vemos confrontados com a necessidade de decidir o melhor para a nossa vida colectiva”, disse ainda.

No seu discurso, o responsável afirmou: “Celebrando Abril, e a defesa das suas causas, a começar pelos três Ds: “Democratizar”, “Descolonizar” e “Desenvolver”, colocando a Liberdade e os “direitos”, à igualdade de género, de orientação sexual, de opinião, e o combate pela sua defesa, lutando contra o racismo e a xenofobia, por exemplo, no cerne das nossas preocupações e elegendo um plano, onde a cultura, a arte e a criatividade tenham um papel de relevo e de constante intervenção”. 

“Assinalamos meio século sobre a data em que nos devolveste a liberdade. Parece que foi ontem. Parece que foi ontem e, no entanto, tanta coisa aconteceu. Obrigado, Maia. Obrigado pela lição de vida, de democracia e de liberdade”, terminou.

“Caminhos de Salgueiro Maia” estará patente no Fórum Actor Mário Viegas de até 10 de Maio, de segunda a sexta das 14h30 às 18h30 e aos sábados das 10h às 13h.

A iniciativa integra-se nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril em Santarém.

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