Esta semana dei comigo a abrir a gaveta onde guardo os papéis dos “projectos para a Cidade” que colecciono, religiosamente, como homem de fé, em quase 25 anos de jornalismo. É a tal que já só abre com a célebre tática da faca a forçar a fechadura, tanto é o amor por esta terra que nos enche gavetas de sonhos e projectos – e os bolsos dos projectistas – de uma vontade amarelecida pelo tempo.
Sei lá, só para que percebam, dei comigo a ler, entre muitos, a anunciada “Requalificação Urbana e Ambiental do Campo Infante da Câmara”, num estudo da Profabril, de Dezembro de 1995, pomposamente denominado “Plano Estratégico da Cidade de Santarém”; passei os olhos pela candidatura ao Programa Polis, de Maio de 2001, em que se pedia um “centro cívico” para aquela área, com “uma forte componente social e recreativa, através da implementação de diversos equipamentos e novos espaços verdes”; continuei pelo “relatório”, de Abril de 2002, do atelier de Arquitectura e Desenho Urbano Pompílio Souto, Lda, também sobre o “processo de requalificação do Campo Infante da Câmara”, com “estratégias” e “pressupostos”, onde se apregoa um “modelo de cidade” e de “unidade urbanística”; revi o “Estudo de Ocupação para a área envolvente ao Campo Infante da Câmara”, de Janeiro de 2007, requerido pela nossa autarquia à Sociedade de Arquitectura Capinha Lopes e Associados, que previa, entre outros equipamentos, habitação, uma biblioteca, um edifício para a nossa Câmara, um hotel, zonas comerciais, uma arena multiusos… (A planta, bem bonita por sinal, mas com uma densidade de construção exagerada, estendeu-se em demasia e até me roubou espaço para tomar estas notas).
Mais hora e meia a ler papelada e os sonhos voltaram para a gaveta novamente. Fechá-la foi, mais uma vez, um castigo.
Agora foi a vez da associação Mais Santarém entregar na Câmara 12 propostas para reabilitar o Campo Emílio Infante da Câmara, resultantes de um processo de debate que envolveu 30 personalidades do Concelho. A ‘batata’ está agora, afinal, onde sempre esteve: nas mãos da Câmara.
Entre propostas, estudos e projectos, remendos aqui e ali, aguardamos um plano global que dê em obra, finalmente, e não vá parar à gaveta dos meus sonhos. A tal que já nem abre, ao fim de quase 25 anos de profissão.
João Paulo Narciso