Há atores ficam no leque dos inesquecíveis pela sua enorme capacidade de avizinharem aos espectadores através da representação, voz, postura e carisma. O ator Carlos Daniel continua presente na nossa memória. Estreou-se em 1969 tendo trabalhado em diversas Companhias Teatrais e Grupos Cénicos. Em Televisão colaborou em novelas, teatro e programas de poesia. Também participou em dois filmes portugueses. Em 1978 integrou o elenco do Teatro Nacional D. Maria II, onde permaneceu até à sua morte, em 1996, com 44 anos. 

A Televisão tem a capacidade fantástica de aproximar e memorar todos aqueles que passam pela “caixinha mágica”, e recordamos o ator pelas suas participações em novelas nomeadamente na novela da Globo co-produzida pela RTP, “Pedra sobre Pedra”,“Desencontros” e “Passerelle” que está novamente em exibição na RTP Memória. Ator único pela sua expressividade e simplicidade, um artista gracioso, de olhar comunicativo, detentor de uma voz inconfundível, fez parte de uma geração de artistas (muitos ainda no ativo), inolvidáveis pela sua carreira, presença em palco e competência na Arte e Cultura portuguesa. Talentoso, homem culto, admirado e respeitado por toda a classe artística, pautou a sua vida sempre com descrição. 

Carlos Daniel da Silva Gonçalves Fernando nasceu em Lisboa no bairro da Ajuda, no dia 11 de Maio de 1952. Cresceu numa família de funcionários públicos, apenas uma tia-avó estava ligada às Artes; era pianista e cantava. As muitas histórias contadas por esta tia-avó, fascinaram o jovem e aguçaram a curiosidade e fantasia artística.  Carlos optou pela vida artística, ainda adolescente, frequentou a Escola de Teatro do Conservatório de Lisboa, e com apenas 17 anos estreou-se na peça “Antígona de Sófocles, no palco do Teatro Popular de Lisboa e, um ano mais, entrou para a Companhia Metrull. 

Formou-se com honra no Curso Superior de Teatro e Encenação do Conservatório de Lisboa. Elegante, face expressiva, rosto inteligente, tinha uma certa nobreza na postura e atitude, aos 20 anos foi para o elenco do Teatro Experimental de Cascais (TEC), estreando-se como profissional na peça “Fuenteovejuna” em 1973 com encenação de Carlos Avilez. Com labor, abnegação, disciplina, com o seu enorme amor pelo Teatro, e talento provou que a aparência ou beldade não tem de ser o reflexo de uma pessoa superficial, tornando-se num ator admirável.

A Revolução de Abril livrou Carlos Daniel da necessidade de participar na guerra colonial, que não estava disposto a anuir. Juntamente com outros colegas fundou o Teatro de Animação de Setúbal. A reabertura do Teatro D. Maria II em 1978, catorze anos após o incêndio que o destruíra quase por completo, permitiu-lhe a segurança e estabilidade profissional que almejava. Foi no Nacional D. Maria II que teve a possibilidade de representar representando várias peças, das quais se destacam as seguintes: “Alfageme de Santarém”, “Felizmente há Luar”, “As Alegres Comadres de Windsor e Ricardo II” ,”O Traço Imaginário” de Molière, “Tragédia da Rua das Flores” “Pedro o Cru,” “Longa Viagem para a Noite” , e “As Fúrias”, “O Gebo e a Sombra”, “Mãe Coragem e os Seus Filhos”.  Com a representação de “D. Juan” de Molière, dirigido pelo francês Jean-Marie Villegier, foi solicitado pelo encenador, a representar em francês, na Comédie de Caen “Les Galanteries” do Duc d’Ossone, de Jean de Mairet. Esta oportunidade abriu-lhe portas para uma carreira internacional.

Artista de inegáveis recursos, na Televisão, Carlos Daniel participou em programas de teatro, de poesia, em telenovelas “Chuva na Areia”, “Passerelle”, “Pedra Sobre Pedra” e “Desencontros” e ainda séries, para além de no Cinema, ter dado corpo ao rei triste e louco D. Afonso VI no filme “O Processo do Rei” e ao operário suburbano de “O Fim do Mundo”. Gostava de viajar e trabalhar fora do país, todavia, acabava sempre por voltar a Portugal pela saudade, pelas raízes, pela referência. No auge da sua carreira num insólito momento, é tomado por um implacável ataque cardíaco fulminante em Abril de 1996. Deixou a classe artística e o país, em choque com o seu repentino desaparecimento. Quase trinta anos após o seu desaparecimento, Carlos Daniel continua MEMORÁVEL, presente na galeria dos artistas inolvidáveis pela sua postura, trato e elegância, demonstrou e confirmou que os grandes artistas são aqueles que são inesquecíveis pela sua dedicação e empenho elevando a Cultura e Arte do país!

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