Não podia deixar de publicamente expressar algo sobre uma questão, agora tornada pública: a proposta de resolução de um Nome para o Hospital Distrital de Santarém.

Preâmbulo:
Um Hospital é uma estrutura de base estritamente social, onde o seu maior valor são OS DOENTES, e logo a seguir, o conjunto de Profissionais de Apoio e Administração, de Técnicos de Enfermagem, de Laboratório, de Exames Radiológicos, de Farmácia e de Médicos.

Não é o edifício que dá valor social ao Hospital, mas sim, o Doente, porque nele reside a existência de motivação para a prestação de um trabalho de excelência e de prestígio. Esta questão não é perceptível por muitas pessoas, que crêem ser o Médico o verdadeiro valor de um Hospital. Sê-lo-á se o Doente confiar e procurar Serviços que comprovadamente lhes dêem o que lhes falta: SAÚDE…

Breve resumo histórico:

De 1426 a 1834
[…] O Hospital de Jesus Cristo terá sido fundado por João Afonso, Médico, em 1426 portanto, de criação anterior à da Santa Casa da Misericórdia de Santarém, cujos primeiros estatutos datam de Julho de 1503 e onde mais tarde é integrado…O Hospital…situava-se num espaço definido pelas actuais ruas de João Afonso, travessa da Roda e o chamado Canto da Cruz. A sua fachada principal, com a igreja ao centro, estava virada para a Rua Direita do Arco de Manços até 1834, ano em que foi transferido para o extinto Convento de S. Francisco, conhecido pelo Convento de Nossa Senhora do Sítio, no actual Largo Cândido dos Reis onde laborou até à inauguração do Hospital Distrital, em 1986. […]
[…] Este Hospital foi fundado em 1426, no reinado de D. João I, pelo Conselheiro de El Rei, João Afonso que, em seu testamento de 6 de Dezembro de 1426, doou todos os seus bens…e fundou um hospital com a denominação de Jesus Cristo. […]
[…] Perpetuando a memória de tão justo varão, chamava-lhe o povo, o Hospital de João Afonso. […]

De 1834 a 1974
O primeiro período do Hospital de Jesus Cristo, sob gestão da Santa Casa da Misericórdia de Santarém, teve, portanto um período de 560 anos ao serviço da população de Santarém sendo 408 anos no Canto da Cruz e 134 no Convento de Nª Sr.ª de Jesus do Sítio.
Assim, […] O Hospital de Jesus Cristo passa em 1834 para o Convento de Nª Srª de Jesus do Sítio, no antigo Largo das Amoreiras, actualmente designado por Largo Cândido dos Reis, aí se mantendo em funcionamento até à inauguração do novo Hospital Distrital de Santarém, em 1986. […]
A título de curiosidade, relembro que […] entre 1958 e 1968 tiveram assistência Médica registada, no Hospital de Jesus Cristo, um total de 673 doentes […] provenientes de todo o Distrito.

De 1974 a 1986
Com o 25 de Abril de 1974, o Hospital de Jesus Cristo passa para a administração do Estado Português. Não deixou de ser fracturante esta transição, criando na estrutura do Hospital de Jesus Cristo intensas questões políticas, que duraram alguns anos.

Estava em curso a criação do que seria o Serviço Nacional de Saúde. Na Comunidade, pela mão de Albergaria Martins (Director de Saúde do Distrito) e de Arnaldo Sampaio (Director Geral de Saúde) o Centro de Saúde da Chamusca estava incluído num modelo nacional de estruturas do que viriam a ser os Centros de Saúde.

Contudo será de relembrar que o Velho Hospital carecia de renovação e rejuvenescimento do seu quadro de Pessoal. De facto, as Enfermarias eram espaços amplos de 30 camas, as condições de apoio eram antigas e obsoletas, os meios de trabalho eram deficientes, mesmo que, sem dúvida, houvesse um bom padrão geral de serviços. A comunidade Médica do Hospital trabalhava, praticamente, em regime de voluntariado, o apoio de Enfermagem era quase inexistente e fornecido pelas Irmãs e, as instalações, careciam de reestruturação, quer a nível estrutural quer de conforto e dotação técnica.

Com o apoio, dedicação e solicitação do Amigo José Manuel Gonçalves Nogueira, o Senhor Professor Doutor José Manuel Pinto Correia, Filho de Médico, natural de Tremês e Catedrático na Faculdade de Medicina de Lisboa e Internista no Hospital de Santa Maria, nas suas deslocações à terra natal aos fins-de-semana, começou a fazer Visita Clínica ao Hospital aos Sábados de manhã, onde se inteirava das situações mais complicadas, e onde decidia da ida a Lisboa de Doentes dos nossos Serviços. Aí começou um intercâmbio e um apoio aos nossos Doentes e aos Médicos em Formação. Assim se iniciaram técnicas novas e colocaram ao serviço dos doentes: Biópsias Hepáticas, Mielogramas, Hemoculturas, Peritoneoscopias, Ecografias, Broncoscopias, Gastroduodenoscopias, etc., etc…

Entre 1976 e 1980 a presença e colaboração voluntária e graciosa no Hospital de Santarém do Professor Pinto Correia foi fundamental e extremamente importante na criação de estruturas de apoio no Hospital de Santa Maria, a saber: Serviços de Medicina Interna, Serviço de Pneumologia (Prof. Dr. Tomé Vilar), Anatomia Patológica (Prof, Amélia Batista), Urologia (Prof, Silva Carvalho), Unidade de Tratamentos Intensivos Coronários, etc. Estes Serviços abriram-se ao Hospital de Santarém, pela mão do Ex.º Sr. Dr. José Manuel Gonçalves Nogueira.

Relembro vários nomes (que me perdoem pela omissão de algum) de dedicados Técnicos e Médicos então ao serviço do Hospital: Ramiro Nobre, José Manuel Gonçalves Nogueira, Lima, Ferreira da Costa, Barbosa, Trancas, Fagulha, Esperto, Antonieta, Guerreiro Nunes, Carlota Frazão, Piedade, Fidalgo, Barros e Cunha, Catela, Mário Costa, Mário Puga, Guerreiro Nunes, Carlos Verdete, Novo, Odete Mota, Terra, etc.
A necessidade de criar pessoal da área de Enfermagem levou a que, a breve trecho, fosse criado no Colégio Andaluz, um Curso de Enfermagem mas que só viria a fornecer profissionais tecnicamente bem habilitados, cerca de 1977/8 (?).

Entretanto, com o SNS em curso, estruturava-se a vinda de novos Médicos em formação para o Hospital, onde estiveram, como pioneiros a nível nacional, após os primeiros exames nacionais de acesso à Especialidade, a saudosa Graça Marona, o Francisco Rufino e eu próprio.

Entretanto os Policlínicos que, ano após ano, rejuvenesceram o quadro Médico, foram criando uma vida e uma qualidade de prestação de cuidados médicos completamente novos. Entre eles, pedindo desculpa por qualquer omissão, estavam: Martinho de Rosário, Pinto Correia, Alexandrina Quintino, Jorge Zamith, Sousa e Silva, etc., que foram sempre enriquecendo, anualmente, com novos valores que vinham por cá exercer o Serviço Médico à Periferia (Policlínica). Foram anos de crescimento em excelente qualidade da prestação de cuidados Médicos e de Enfermagem no Hospital de Santarém.

A equipa de apoio às instalações relembram José Brás e José Neves, que encetaram a reestruturação faseada das instalações que durou, praticamente, até à saída para o Hospital Novo.

Ainda no Hospital “Velho”, outros valores vieram enriquecer a prestação de Serviços, provenientes de Hospitais Centrais e que por cá ficaram, entre outros: Graça Ferreira, João Roque, José Barbosa, Pinguinha, França, Manuel João Gomes, Terra, etc.

A construção e a transferência para o Hospital Novo em 1986, foi atribulada com permeio de várias alterações e inaugurações, tendo sido com o Administrador Silveira Ribeiro e o Sr. Enfermeiro Monteiro, que se procederam à transferência gradual de Serviços: Maternidade e Urgência inicialmente e depois a Medicina 1.

Do Hospital Novo […] Os programas e projectos relativos à sua construção remontam ao ano de 1974 e na sua versão inicial previam a criação de uma unidade com lotação, primeiro de 250 e, mais tarde, de 350 camas. Um ano mais tarde, em 1975, uma nova versão do projecto passou a prever uma lotação de 502 camas.[…] […] A construção do Hospital teve início no primeiro trimestre de 1978, tendo então a lotação sido alterada para 484 camas, devido à transformação de uma unidade de Internamento em Quartos Particulares, não previstos inicialmente. No entanto, a necessidade de expansão dos serviços e a instalação de novas especialidades inicialmente não consideradas, levaram a um novo aumento da lotação, desta vez para 513 camas, utilizando a mesma área de Internamento.[…] […] Tendo iniciado a sua actividade, no ano de 1985, com 240 camas, o Hospital conta actualmente com uma lotação de 372 camas, das quais 176 estão afectas à área médica, 125 à Cirurgia, 18 à Psiquiatria e Saúde Mental, 47 ao departamento da Mulher e Criança e 6 à Unidade de Cuidados Intensivos. […]

O Professor Dr. Pinto Correia representa a semente, germinada com elevados valores, do que é, hoje o Hospital Distrital de Santarém. Fazemo-lo sem quaisquer intenções que não sejam o tributo a um Médico de Santarém, que prematuramente nos deixou, que representa uma mais-valia de imenso valor na formação e apoio à estrutura do actual Hospital de Santarém. Apresentamos a todos os Ribatejanos a nossa fundamentação sem pretender ir contra qualquer opinião, e que não representa nenhum tipo de intenção obscura ou de inveja em relação a outras iniciativas que se querem abertas, participadas e isentas.
Santarém em 8 de Dezembro de 2020

Victor Bezerra – Medicina Interna – Ordem dos Médicos – Nº 13415

Leia também...

‘Carta à minha mãe’, por Pedro Carvalho

Querida mãe,Desde o dia 20 de agosto de 2017, aconteceram muitas coisas…

‘Morrer sozinho’, por Pedro Santos

Opinião.

‘Morrer de Amor’, por Teresa Lopes Moreira

Este fim-de-semana cumpre-se o ritual secular de homenagear os defuntos. Os cemitérios…

Da passadeira vermelha para a passadeira da estrada

Atravessar uma estrada tem riscos e é matéria da educação básica de…