O Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT) e a Santa Casa da Misericórdia de Abrantes (SCMA) assinaram esta segunda-feira um protocolo de cooperação inovador no âmbito da hospitalização domiciliária, que vai permitir levar este modelo alternativo de hospitalização, com assistência médica e cuidados de saúde diferenciados e de proximidade, aos 105 utentes do Lar da Misericórdia de Abrantes.
Ao longo deste ano, o CHMT vai expandir este modelo de funcionamento e cuidados de saúde de proximidade com os lares de terceira idade da região do Médio Tejo. Ontem mesmo, este projecto de articulação em rede com o CHMT já foi apresentado à Santa Casa da Misericórdia de Mação, cuja Estrutura Residencial de Idosos (ERPI) acolhe 46 utentes, à Santa Casa da Misericórdia do Sardoal, cuja ERPI é a residência de 44 idosos, e ainda a nove lares de terceira idade geridos de forma privada da cidade de Abrantes.
A grande mais-valia deste modelo é a prestação dos cuidados de saúde personalizados aos idosos que residem nos lares, sem expor os utentes aos diversos riscos associados ao seu internamento hospitalar. Por outro, a hospitalização domiciliária destes utentes liberta a pressão assistencial dos serviços de urgência e do internamento hospitalar da instituição, optimizando recursos para poder aumentar a actividade cirúrgica. Também na componente de internamento em enfermaria hospitalar, haverá maior eficiência, com mais camas disponíveis para doentes agudos.
No âmbito deste protocolo, a partir desta semana, sempre que um utente idoso do Lar da Misericórdia de Abrantes tiver uma alteração do seu estado de saúde, a equipa da Unidade de Hospitalização Domiciliária (UHD) do CHMT vai ser a primeira linha de resposta de cuidados de saúde e não o Serviço de Urgência Médico-Cirúrgica de Abrantes. Se estiver em causa doença aguda ou risco de vida iminente, mantém-se a referenciação para o atendimento do Serviço de Urgência através da rede de emergência pré-hospitalar.
Através desta estreita articulação entre o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e o sector social na resposta aos cuidados da saúde da terceira idade, a qualidade de resposta e de acesso dos cuidados de saúde prestados à população idosa é potenciada. A referenciação dos utentes do lar da Misericórdia de Abrantes vai ser realizada através de uma estreita cooperação e canais de comunicação abertos entre as instituições. Sempre que é identificado um problema de saúde com um dos utentes, o médico ou enfermeiro da instituição reporta-o directamente para a linha de atendimento permanente da UHD do CHMT, solicitando a avaliação do doente por parte desta equipa.
Se essa avaliação cumpre todos os critérios de admissão em regime de Hospitalização Domiciliária, o idoso passa a ser utente do CHMT, passando a ter a visita diária da equipa médica e de enfermagem do Hospital. Aos fins de semana e feriados, a equipa da UHD do CHMT encontra-se de prevenção a partir da Unidade de Abrantes, mas está sempre contactável, através de uma linha de telefone dedicada, permanentemente ligada, 24 horas por dia.
Se existir alguma situação urgente, ou um agravamento do quadro do utente do lar da Misericórdia de Abrantes, basta que um dos enfermeiros ou auxiliares do lar activem o contacto telefónico para que a equipa de Hospitalização Domiciliária se desloque de imediato ao Lar da Misericórdia para avaliar o paciente. Se necessário, este será transportado e submetido a internamento hospitalar tradicional na Unidade Hospitalar de Abrantes do CHMT. Pode, no entanto, ser apenas necessário ajustar o plano de tratamentos e manter o doente no seu ambiente – ou seja, no lar.
Fátima Pimenta, Directora do Serviço de Medicina Interna do CHMT, e Coordenadora da Unidade de Hospitalização Domiciliária do CHMT explica a mecânica deste protocolo: “Os cuidados médicos que vamos prestar no lar são idênticos aos que prestaríamos numa enfermaria de hospital, mas com maior proximidade e com toda ou mais segurança associada, já que na Urgência de um Hospital há um grande risco de infecções e qualquer idoso encara estes ambientes como hostis, havendo quadros de desorientação, maiores riscos de quedas, entre outros. Em quatro anos de hospitalização domiciliária do CHMT só temos a reportar elogios e nenhuma queixa”, refere a clínica, com satisfação no trabalho desenvolvido.
Fátima Pimenta recorda que o projecto de alargamento do projecto da Hospitalização Domiciliária à sociedade civil e, nomeadamente, ao terceiro sector, foi uma ideia que se sucedeu praticamente após a sua criação: “Este protocolo é uma ideia que surgiu desde 2019, pouco tempo depois da criação da Unidade de Hospitalização Domiciliária do CHMT. No entanto, a Covid-19, e as limitações que impos nos lares de terceira idade, impediu-nos de avançar. Aquilo que se pretende é retirar do hospital e sobretudo das urgências hospitalares, os doentes com patologias que precisam de cuidados médicos e de enfermagem diários, mas que não necessitam de ocupar uma cama de internamento de agudos”, explica.
“Na hospitalização domiciliária, o idoso mantém-se no seu ambiente e a equipa médica e de enfermagem está mais presente. São cuidados de proximidade centrados no doente. Se o doente precisa de fazer análises, a equipa da UHD faz a colheita – não precisa de ir ao hospital. Se é preciso realizar determinado exame no hospital, ou ser avaliado por uma especialidade, o CHMT trata do transporte e acompanhamento de ida e de volta. É inegável a mais-valia para todos”, conclui Fátima Pimenta.
Por seu lado, o Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes, João Manuel Pombo, manifestou o seu agradecimento e orgulho por esta entidade ser a primeira a estabelecer este tipo de parceria com o CHMT: “O nosso objectivo é criarmos condições para que todos os nossos utentes se sintam como se estivessem em casa. Tudo o que seja para melhorar a vida dos nossos idosos estamos disponíveis para colaborar e deixamos o nosso agradecimento ao CHMT para nos desafiar para esta parceria”.
Casimiro Ramos, Presidente do Conselho de Administração do CHMT, partilhou a visão estratégica para 2023: “Estamos a dar início a uma estratégia que exige esforço dos profissionais da equipa da Hospitalização Domiciliária, mas que pretende minimizar a afluência ao Serviço de Urgência da Unidade de Abrantes, resolvendo o problema a montante, sem comprometer o acesso a cuidados de saúde e aumentando a satisfação dos cuidados prestados por parte do utente”, afirmou. O responsável enalteceu o papel das estruturas residenciais para idosos: “Os lares são famílias de suporte. Temos de actuar em conjunto para enfrentar a realidade demográfica do país – que se reflete na procura das urgências hospitalares também. Este é o primeiro de muitos protocolos que vamos celebrar”, garante Casimiro Ramos, que remata: “A saúde dos nossos utentes faz-se também fora das quatro paredes do centro hospitalar. Prevenção, Proximidade e Acesso são os pilares que queremos para a Saúde do Médio Tejo”.