A Associação Comercial e Empresarial de Santarém (ACES) está a lançar, nesta quadra natalícia, uma campanha onde coloca o comércio tradicional no centro das atenções dos consumidores.
Denominada ‘Neste Natal Compre Local’, a iniciativa pretende chamar a atenção para o valor acrescentado de uma compra feita no comércio tradicional, conhecido pela sua qualidade e proximidade.
David Dias, vice-presidente da ACES, esclarece, em entrevista ao Correio do Ribatejo, que campanha nasce para “dar visibilidade” aos comerciantes e empresários do Centro Histórico (CH) da cidade e, igualmente, do comércio do concelho de Santarém.
“Esta campanha vai ser transversal em todos os concelhos nos quais somos representativos”, refere o responsável que, na passada quarta-feira, 11 de Novembro, escolheu o emblemático Largo do Seminário como “ponto de lançamento” da campanha ‘Neste Natal compre Local’.
“Esta iniciativa surge com o intuito de que a comunidade perceba que existimos e faz todo o sentido comprarem no comércio tradicional. Porque este ano, o dinheiro vale um pouco mais: vale um posto de trabalho, vale uma empresa aberta, vale uma família com algum conforto neste Natal”, apelou.
“Com este tipo de campanha”, prosseguiu, “queremos incentivar a toda a comunidade a adquirir as suas prendas de Natal no comércio local. Isto é transversal a todos os concelhos que representamos”, reforça.
“Queremos é que os nossos associados e não associados, os comerciantes e pequenos empresários, não encerrem neste trimestre. Que consigam sobreviver até ao pós-covid”, acrescenta David Dias.
Nesta quadra natalícia, um pouco por todas as montras do comércio tradicional, vai figurar a frase “Neste Natal compre Local”, sendo que existirá um sorteio com três prémios por cada concelho onde a ACES tem representatividade.
“Ao longo deste mês e meio, vamos ainda lançar outras iniciativas para incentivar e relembrar as pessoas que devem consumir localmente”, conclui David Dias.
“A sua comunidade precisa de si!”
“A sua comunidade precisa de si!”. É este o apelo que a ACES está a lançar, através de publicações em jornais regionais e redes sociais. Uma espécie de manifesto que deixa um apelo claro: “Façam as vossas compras no comércio local”.
“Ao Longo da história, o povo Português já enfrentou grandes batalhas, grandes dificuldades e da nossa forma e do nosso jeito Lusitano, fomos sempre continuando com a matriz que nos define, a de um povo que sabe receber, de um povo amável, caloroso, com sentimento, com alma, e nós em especial, com o Ribatejo que nos sopra a força extra quando mais necessitamos”, refere ainda a associação”, pode ler-se no comunicado.
“Somos uma maravilhosa região, cheia de costumes e tradições, temos a genuinidade das nossas gentes e da nossa cultura em cada rua, em cada loja, em cada cara que dá nome a um negócio. São as nossas famílias, os nossos amigos, os nossos vizinhos, são as nossas gentes, os Ribatejanos e todos aqueles que nesta maravilhosa região decidiram fazer as suas vidas em família”, acrescenta esta carta aberta, deixando o apelo: “Hoje mais que nunca, precisamos do vosso apoio, para que não deixem o nosso comércio, restauração e serviços morrer, apelamos a todos que não abandonem o comércio das nossas gentes. Vamos ser criativos e descobrir formas de as coisas funcionarem, usando meios de comunicação, procurando serviços de entrega, sugerindo ao amigo aquela loja que você tão bem conhece. Vamos, cada um de nós, ser um representante das nossas gentes, vamos ajudar nesta caminhada, vamos em conjunto fazer uma corrente #natalcomprelocal nas nossas redes sociais, vamos fazer com que nenhum dos nossos amigos se esqueça do nosso apelo, para que, quando tudo isto passar, voltarmos a ter as nossas lojas ao invés de as ver partir com esta pandemia”.
“Nós acreditamos nas nossas gentes, e foi, com essa convicção que no longínquo ano de 1875 esta Associação foi constituída para cuidar do comércio, para empregar pessoas, para fazer parte das nossas famílias, para ser parte integrante desta comunidade e é do alto da nossa antiguidade, que sabemos que só existe um caminho possível, é aquele em que andamos lado a lado, é aquele em que não deixamos ninguém ficar para trás”, refere a associação, concluindo: “ quando tudo acabar, os grandes centros comerciais vão permanecer, as Amazon, ebay e Alibaba também, mas a loja da esquina da nossa rua pode não sobreviver, caso nós deixemos de lá fazer as nossas compras. Por essa razão não se esqueça que neste Natal Compre Local”.
Comerciantes mantém a esperança
Os comerciantes do Centro Histórico de Santarém vêm com agrado esta campanha dinamizada pela associação e prometem, apesar das contrariedades, não baixar os braços e manter as lojas de portas abertas.
“Andamos aqui ao sabor do vírus. Confinamento e não confinamento… não sei”, desabafa Raquel Monteiro, proprietária da Ourivesaria Monteiro, na Rua Serpa Pinto.
Apesar disso, esta comerciante do Centro Histórico de Santarém acredita que que as pessoas “vão comprar na mesma, por mais que não se esteja ao pé das pessoas queridas pelo menos queremos fazer lé chegar um miminho”.
Em relação à iniciativa da ACES, Raquel Monteiro, considera que esta campanha facilita imenso o trabalho de divulgação e promoção: “fica tudo uniforme, é tudo mais fácil. Há o sorteio de prémios, e facilita-me todo o trabalho para atrair pessoas”, declarou ao Correio do Ribatejo.
“Eu julgo que esta campanha de Natal da ACES é uma boa iniciativa, está a unir mais que nunca os comerciantes. Está a fazer com que os comerciantes comuniquem uns com os outros e que incentivem os clientes a comprar mais no comercio tradicional”, afirma Nuno Graça, da Loja das Tradições.
“Apesar desta crise eu acredito que até vai ter sucesso. Agora, temos que esperar para ver”, diz o proprietário desta loja de vinhos no Largo do Seminário.
Ao nível de vendas, este comerciante acredita que existirão algumas quebras em termos de volume, mas os clientes poderão optar pela qualidade: “no meu caso, dos vinhos, em vez de vender cinco ou seis para um jantar grande, se calhar poderei vender um ou dois. Uma coisa mais pequena, mas com outra qualidade”, refere.
Tal como os outros canais de retalho, a venda directa foi impactada pela crise da Covid-19, com as empresas a verem-se forçadas a repensar as suas estratégias e rapidamente implementar mudanças.
A pandemia aconteceu num momento em que a venda directa estava já a enfrentar alguns desafios, nomeadamente, continuar a atrair clientes e modelar a sua experiência de compra em torno da sua própria conveniência.
No contexto da Covid-19, os principais operadores de venda directa lançaram múltiplas estratégias de modo a complementar o papel dos vendedores, nomeadamente, através da aposta na digitalização e, neste caso, o comércio tradicional acompanhou a tendência.
“Temos reforçado a componente digital”, diz Nuno Graça, acrescentando que as vendas no site já representam uma parte significativa do negócio. Para além disso, a Loja das Tradições, desde o início do ano, realiza entregas em casa, para além de uma forte aposta nas redes sociais.
“O comércio tradicional tem que ser optimista”
O comércio tradicional constitui um património insubstituível na afirmação de qualquer cidade ou vila do país. É parte integrante da memória colectiva das populações: a maior parte das localidades desenvolve-se a partir de zonas existentes de comércio tradicional, que foi e será sempre o motor da economia local.
Que o diga Joaquim Cristiano, proprietário da ‘Casa dos Fatos’, uma das mais antigas lojas da cidade. Também ele vê com bons olhos esta iniciativa da ACES: “é sempre uma mais-valia. É importante chamar pessoas ao CH. Infelizmente, como sabemos, a pandemia tem tirado bastante gente do centro. Poderá ser que, este ano, com os condicionamentos, que as pessoas façam as suas compras no comercio tradicional”, vaticina.
“O Centro Histórico e o comércio tradicional precisam de ajuda. Vivemos todos com alguma dificuldade”, diz Joaquim Cristiano, confessando ter algum receio que os consumidores se retraiam nesta quadra.
“Tenho dificuldade em perspectivar esta quadra, porque não sei como vai evoluir a pandemia. Se aumenta, se se consegue controlar… Mas independentemente disso, as pessoas têm receio de gastar dinheiro”, afirma.
“Não se sabe o dia de amanhã e não sabemos o tempo que pode demorar este problema”, acrescenta, mostrando, contudo, algum optimismo: “Claro que temos que ser optimistas. O comércio tradicional tem que ser optimista. Um comerciante que não seja optimista não pode ser comerciante”, conclui.
Também Rita Camoez, da loja Cavalinho de Madeira saúda a iniciativa da Associação Comercial: “a acção é boa e é bom que, aqui, no comércio tradicional se façam este tipo de estas iniciativas para chamar mais gente, até para não sermos esquecidos aqui no CH”.
“Estamos a viver uma época bastante complicada. Até derivado à pandemia, temos receio, acho que não sou só eu… Todos os comerciantes localmente, aqui na cidade, têm esse receio, mas temos que pensar positivo e sempre a chamar as pessoas para os nossos espaços”, diz.
Teresa Lamy, da Boutique Vip, partilha esta opinião: “esta campanha é uma tentativa de fazer acontecer qualquer coisa e esperemos que resulte. Este ano está tudo muito complicado, mas a esperança é a ultima coisa a morrer”, declara.
Numa época do ano que, em termos de vendas, representa cerca de 30 por centro da facturação do comércio tradicional, Teresa Lamy perspectiva quebras significativas: “Sem a pandemia, tudo correria bem. Agora, com isto, é complicado. As pessoas não saem de casa. Santarém tem pouca gente, passamos dias sem ver ninguém na cidade. Mas ainda tenho esperança”, declara.
FILIPE MENDES