Corria agosto e a abertura de um Skatepark no Campo Emílio Infante da Câmara tornou-se num dos motivos de discussão na velha Scalabis.

Um Skatapark é por natureza um espaço construído para a prática de desportos de skate, mas também patins em linha e BMX. São em regra construídos com uma variedade de obstáculos, rampas, corrimãos, caixas e outros elementos para permitir a realização de manobras e truques de forma segura e controlada.

Um skatepark é uma área própria para a realização destes desportos, fornecendo o ambiente adequado para melhoria do nível de habilidade dos utilizadores. Para além disso, acabam por se tornar espaços da “comunidade skater”, permitindo ali reunirem-se, criarem laços sociais, aprenderem uns com os outros e, fundamentalmente, terem um espaço próprio para a prática das suas modalidades. Acresce que a atividade física exercida contribui para a melhoria da saúde, exigindo esforço físico, equilíbrio e coordenação. A juntar a isso, estas áreas devem ser projetadas para estimular a criatividade, em interação com os elementos do parque e, quando construídos com qualidade e cumprindo as regras impostas para a modalidade, podem tornar-se em espaços para a realização de eventos e competições.

No espaço urbano da cidade de Santarém não existem muitas áreas para a prática e utilização em segurança do skate, existe um skatepark na Rua Brigadeiro Lino Dias Valente, próximo do Hospital, mas de pequena dimensão e reduzidos elementos, pelo que áreas menos aconselhadas, como o Largo do Seminário, são muitas vezes os locais erradamente e indevidamente utilizados.

Desde logo, porque são colocadas em risco as pessoas que ali se encontram, os skaters, mas também pelo risco de dano no património público, pelo que a ideia de se construir um skatepark, há anos solicitada pela comunidade skatista, é uma boa ideia.

O que falhou?

Falharam várias coisas. A começar, e infelizmente como continua a persistir: falhou o planeamento. Esse maldito que persiste em ser o busílis desta cidade.

Uma cidade que tem áreas de excelência para a construção de estruturas de referência, para a sua vivência e para a comunidade e que continua a tomar opções na gestão do espaço público, deficientemente construídas como esta.

Estando agora a decorrer um inquérito por parte da Câmara Municipal de Santarém, cujas conclusões se aguardam que sejam tornadas públicas e não sejam mandadas para as calendas, há questões que devem ser esclarecidas.

Desde logo, o montante do investimento de quase 75 mil euros numa estrutura identificada como temporária e a forma como todo o processo foi desenvolvido.

Será que a Autarquia está com uma saúde financeira assim tão pujante que lhe permite fazer obras deste montante para uma utilização temporária?

Recaindo a localização no antigo Campo da Feira, desprovido de sombras e nas traseiras de um restaurante onde inclusive foi pintado um mural, isso significa que o parque estará naquele local quanto tempo? 1 ano? 5? 10?

O espaço foi objeto de vistoria pelos serviços da Câmara previamente à sua inauguração e da abertura ao público?

As indicações sobre as regras de utilização do parque, porque motivo não foram colocadas? E porque não havia em local bem visível, letreiros ou avisos com as indicações de obrigatoriedade de utilização de equipamento de proteção adequado como capacete, cotoveleiras e joelheiras e a recomendação de não utilização do equipamento por crianças com idade inferior a seis anos?

Bebedouros e pontos de recolha de resíduos sólidos, foram pensados?

Veremos o que nos dizem as conclusões do inquérito. Quando vierem.

E quais as justificações para o aparente incumprimento a que a Lei obrigava, nomeadamente o Decreto-Lei n.º 203/2015, de 17 de setembro, que aprovou o regulamento que estabelece as condições de segurança a observar na localização, implantação, conceção e organização funcional dos espaços de jogo e recreio, respetivo equipamento e superfícies de impacto.

Nesse momento logo se verá quais as medidas que serão tomadas para alterar e melhorar a construção do park.

E também que assunção de responsabilidades vão retirar os envolvidos.

Principalmente por parte daqueles que são pagos para serem responsáveis pela gestão da Autarquia.

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