Celebra o Correio do Ribatejo 129 anos de existência. Bonita idade, a merecer os maiores aplausos e parabéns.

Já escrevi antes e retomo agora que a história de um jornal é a história do tempo a que se reporta e que reporta, a história das notícias que oferece e das causas que defende e, é neste campo, o das causas, que mais gosto de pensar o nosso Correio. Permitam-me que me cite a mim próprio, quando nestas páginas escrevi:

Num rápido vislumbre vem-me à memoria evocar a causa republicana, pela qual João Arruda tanto lutou e o jornal bem ecoou nos seus números dos primeiros anos.

Vem-me também à memória a causa da defesa da identidade do Ribatejo, causa maior que levou inclusive João Arruda a mudar o nome do jornal de Correio da Estremadura, para Correio do Ribatejo, abrindo nas suas páginas amplo debate sobre este tema, envolvendo tudo e todos nesta causa, encontrando líderes e fazedores de opinião, fazendo aliados nos campos políticos, sociais e institucionais, num movimento que se viu coroado de êxito na reforma administrativa de 1936 que consagrou a instituição da Província do Ribatejo.

Com o devir dos tempos, e a invasão do digital nas nossas casas, fácil, confortável, à distância de um enter, a informação chega-nos cada vez em mais e maiores catadupas, mas também, cada vez com menos seriedade, fiabilidade e independência.

Sou do tempo em que uma notícia, qualquer notícia, era imediatamente reportada pela rádio, mostrada pela televisão e explicada pelos jornais. Habituei-me a saber quem me estava a explicar o quê e até muitas vezes essa apresentação era completada com uma declaração de interesse do respetivo jornalista.

Hoje, na tal catadupa de informação, somos bombardeados com notícias falsas, com especulações interesseiras, com populismos quantas vezes bacocos e patetas, para não lhes atribuir outros adjetivos e, é nesta hora que a voz identificada de quem escreve, ou diz, ou reporta, de quem se preocupa com ouvir as outras partes, exercendo o contraditório, se torna crucial à construção de uma opinião: a nossa.

Condição particularmente acrescida de importância, no omento em que privados de algumas das nossas sagradas liberdades e confinados a casa, mais suscetíveis nos tornamos à ação e à influencia desses fazedores de opiniões interesseiras, ou simplesmente grosseiras.

… e neste campo, a voz do Correio do Ribatejo, tem sido uma luz brilhante na defesa da transparência e da verdade, num tempo, este que vivemos, quantas vezes inexplicável e inadmissivelmente obscuro e obscurecido.
Neste aniversário do Correio do Ribatejo que saúdo e a cuja celebração me associo, o voto que deixo é o de que a família do jornal que muito me honro de integrar, cumprindo o seu desígnio ancestral, se possa manter unida em torno desta causa, que sempre foi sua e continuar a ecoar bem alto, na defesa de um jornalismo sério, ponderado, em que as contrapartes são ouvidas e em que a opinião dos seus jornalistas e cronistas se afirme cada vez mais respeitável e respeitada.

Parabéns Correio do Ribatejo e obrigado. Muito obrigado.

Nuno Domingos

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