Agora sabemos bem, o que é ter medo de sair à rua. Infelizmente esta situação absurda que vivemos durante o confinamento covid-19 fez-nos entender que é possível que na rua haja perigos que não vemos, mas sabemos que estão lá e nos podem magoar.

Sabemos agora o que é ter medo de trazer para a nossa casa, a nossa família algo que lhes faça mal, que os magoe, mesmo que a nós não nos afete.
Sabemos agora tod@s como é desagradável usar sempre uma máscara, para nossa própria proteção em público.

Sabemos bem como custa não poder dar aquele beijo, aquele abraço, manter a distância socialmente exigida.

Para muitas pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais (LGBTI) esta não é uma situação nova, é o seu dia-a-dia em Portugal e principalmente em muitos outros países.

Um estudo publicado a 14 de maio, pela Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA), revela uma realidade assustadora: seis em cada dez pessoas LGBTI na Europa não dão a mão ao companheiro do mesmo sexo na rua por medo de assédio ou agressão. “Muitas pessoas LGBTI continuam a viver nas sombras, com medo de serem ridicularizadas, discriminadas ou até atacadas” explicou o diretor da agência, Michael O’Flaherty. “Apesar de alguns países terem avançado na igualdade LGBTI, os resultados do nosso estudo revelam que houve muito poucos progressos reais, deixando muitas pessoas vulneráveis”. É uma realidade que não pode continuar. Dia 9 de Maio realizou-se on line, devido à situação pandémica, a primeira MOS, Marcha do Orgulho LGBT de Santarém (talvez a primeira neste formato a nível mundial). As Marchas LGBTI, que ocorrem essencialmente durante o mês de Junho, em homenagem aos motins de Stonewall, em 1969, são importantes momentos de visibilidade social, reivindicação de igualdade legal e celebração das nossas lutas e vidas. Orgulho por oposição à vergonha que muitas vezes a sociedade nos fez sentir.

Em tempos de incertezas, e perante um cenário mundial cinzento, é essencial rasgar o silêncio e aumentar o compromisso das instituições democráticas para com os direitos LGBTI.

O Bloco de Esquerda associa-se a este momento reafirmando o seu compromisso com uma estratégia pública de saúde que inclua as pessoas LGBTI, defendendo a inclusão curricular de temáticas de não discriminação e igualdade nas escolas e propondo a criação de uma rede de centros LGBT nas principais cidades do país, em parceria com as autarquias e associações. Defendemos ainda uma lei-quadro antidiscriminação que garanta a igualdade em todos os campos da vida quotidiana.

Nas palavras do Manifesto da MOS: “Marchamos porque queremos romper com o conservadorismo de um Distrito em que não ser heterossexual continua (ainda) a ter custos pessoais e profissionais severos.
Marchamos porque os direitos e garantias das pessoas LGBTI+ são uma parte significativa de uma agenda urgente e mais vasta, a do respeito pelos Direitos e garantias de todxs.”

Estamos, todos e todas, em Marcha por uma sociedade em que a diversidade sexual, e todas as outras, não tenham que se esconder atrás de máscaras.

O amor, todos os amores, devem ser vividos sem máscaras, respirar livremente, atrever-se a abraços e beijos, nas casas mas também nas ruas!
É tempo de desconfinar o amor e sair do armário do silêncio e do medo. Só assim as cores do arco-íris, símbolo de harmonia e diversidade, brilharão nos céus de um distrito e um país mais livres e democráticos.

*https://www.cig.gov.pt/2020/05/fra-apresenta-estudo-long-way-to-go-for-lgbti-equality/
**https://www.facebook.com/marchaorgulhosantarem/
***https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Rebeli%C3%A3o_de_Stonewall

Fabíola Cardoso – Deputada do BE eleita por Santarém

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