Santarém, cidade de associativismo e a resistência à ditadura de Salazar, sem esquecer os seus sapateiros, foram temas que estiveram em foco, no passado dia 6 de Maio, num evento que encheu o salão da Sociedade Recreativa Operária.
Aconteceu na homenagem que esta coletividade promoveu a um seu antigo presidente, Diamantino de Jesus Faustino, sapateiro, que foi preso pela PIDE em 1946 e 1949.
A homenagem constou de um debate, em que o tempo foi escasso para todas as pessoas que queriam participar.
Houve um momento musical, a cargo dos scalabitanos André Gomes, Maria Calisto e Clara Curado.
E o ponto culminante deu-se com a inauguração de um retrato de Diamantino Faustino, o qual foi descerrado pelo vereador da cultura da Câmara Municipal de Santarém, Nuno Domingos, acompanhando nesse ato três gerações de sobrinhas de Diamantino Faustino e ainda um afilhado deste.
Marcaram presença a União Desportiva de Santarém e a associação «Identidade e Memória», do Vale de Santarém, representadas, respectivamente, pelo presidente da assembleia geral, Mário Amoroso, e pelo presidente da direção, Manuel Sá. Também vários partidos políticos compareceram, nomeadamente o BE, o PAN e o PCP.
Quem foi Diamantino Faustino?
Além de presidente da Sociedade Recreativa Operária, Diamantino Faustino foi dirigente de um dos clubes que deram origem à atual União Desportiva de Santarém. O antigo “Sport Grupo União Operária”. E foi um dos principais obreiros do Campo de Jogos Chã das Padeiras, na sua primeira versão, inaugurada em 1946.
Na área da cultura, e também na década de quarenta, Diamantino Faustino foi um dos responsáveis pelo “Prémio Literário Ribatejano”. Também delegado da SRO no “Grupo de Coordenação Cultural”, uma experiência de dinamização e democratização cultural, que juntou à época diversas associações de Santarém e ainda de Almeirim e Alpiarça.
Nascido em Santarém, em 1914, aqui veio a falecer com apenas 35 anos de idade, três meses depois de sair da prisão política do Forte de Peniche.
Era o tempo da ditadura de Salazar, e Diamantino Faustino foi condenado em tribunal acusado de “propaganda subversiva”. Apenas por ser militante do PCP, então proibido e na clandestinidade, e por distribuir alguns exemplares do jornal Avante, que também era proibido na altura.
Além do Forte de Peniche, também esteve encarcerado nas prisões políticas do Aljube, em Lisboa, e de Caxias, em Oeiras.
A Sociedade Recreativa Operária prestou-lhe esta homenagem apontando-o como “um símbolo do associativismo e da resistência popular à ditadura fascista de Salazar, na cidade de Santarém e no Ribatejo”.