Em alerta perante a vulnerabilidade do principal grupo de risco da Covid-19, os lares de idosos passaram a adoptar novas práticas de protecção para os seus residentes, entre elas a restrição de contacto físico, e a suspensão das visitas de familiares por tempo indeterminado.

Para tentar minimizar a carga emocional das normas contra a doença e com as visitas aos lares interditas, ou altamente condicionadas, a Misericórdia de Vila Nova da Barquinha encontrou uma forma de promover o reencontro entre familiares e utentes.

Diz o ditado que, ‘Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai à Maomé’ e é assim que nasceu, a 13 de Outubro último, o projecto “Amor sobre Rodas”: Todos os dias são agendadas visitas com pequenos grupos de utentes para proporcionar ‘tempo de qualidade’ com os seus familiares.
No regresso, passam sempre na casa de um utente de centro de dia, que permanece encerrado, para matar saudades e integrá-los minimamente nas rotinas.

A saudade diminuiu com a ajuda de chamadas de vídeo, mas, “o aspecto emocional de ver e sentir estava a faltar”, conta Inês Coutinho, directora técnica da SCM de Vila Nova da Barquinha.

“Os utentes já tinham hábitos criados e possuíamos um grande fluxo de visitas. Eles acabaram de sentir esta solidão repentina”, conta.

“Resolvemos tentar colmatar esta falta das visitas porque os nossos idodos sentiam muita falta de verem as suas famílias. Começámos logo com as videochamadas, de forma a haver aqui algum contacto, nem que fosse visual, para tentar minimizar essa lacuna, mas cedo percebemos que não era suficiente”, explicou.

“Pontualmente, íamos fazendo algumas saídas com pequenos grupos, na carrinha do centro de dia, e surgiu a ideia de, em vez de sairmos para apenas uma volta e para eles verem o exterior, passássemos a realizar as visitas. Agendamos com os familiares, com todas as medidas de segurança, e vamos ao exterior”, referiu a responsável.

Desde que o projecto se fez à estrada, ainda não parou. A iniciativa tem tido um “enorme sucesso”, como resume Inês Coutinho: “as pessoas têm aderido muito bem, e gostam imenso e nós acabamos por fazer a ligação com os utentes do Centro de Dia que também estão em casa para manter o contacto”.

“Nas primeiras vezes, foi uma completa surpresa: não sabiam para o que iam. E foi muito impactante. No final de cada uma destas visitas, era combinado entre todos que não podiam dizer nada. E ninguém contou”, recordou ao Correio do Ribatejo.

“Toda a primeira volta decorreu em surpresa absoluta. E isso mexeu um pouco com todos nós, ao vermos a reacção deles”, relatou.

Agora que estes passeios viraram rotina, os utentes passaram, nas visitas, a levar um postal com uma frase, ou uma foto sua para entregarem aos familiares, uma estratégia que torna “cada uma das viagens diferente e especial”.

“As famílias eram muito participativas e a saudade era imensa. As pessoas ficaram extremamente felizes e é isso que nos faz continuar, diariamente. Ainda não parámos nenhum dia”, reforça Inês.

A equipa que vai na carrinha do Centro de Dia é sempre a mesma: uma ajudante domiciliária e uma animadora que promovem estes reencontros que têm corrido sobre rodas.

A viver “tempos difíceis”, a instituição tem tentando manter-se “mais unida do que nunca”, segundo atesta Inês Coutinho, confessando que o trabalho “tem sido desgastante emocionalmente”.

Por isso, a Santa Casa da Barquinha lançou recentemente um projecto dirigido aos funcionários “para colmatar este período de exigências”.
Diversas actividades como musicoterapia, pintura e leitura e até um cadeirão de relaxamento estão agora à disposição das funcionárias durante as pausas para que possam abstrair-se um pouco das dificuldades quotidianas.

“Tentamos sempre trazer motivação às pessoas, que dão tudo de si e dão o seu melhor”, explicita, concluindo: “agora, aqui, somos tudo para todos. Cada vez mais família, e temos que estar sempre bem”.

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