A ScalabisCup, competição internacional de trampolim, DMT e tumbling, trouxe na sua edição de 2019 a Santarém, 670 atletas de 23 países, afirmando-se assim como um dos maiores eventos mundiais da modalidade. Fernando Gaspar, presidente e treinador do clube escalabitano faz o balanço da competição e explica a importância do evento na cidade de Santarém.

Como nasceu a competição internacional de trampolins Scalabiscup?

A SCALABISCUP, nasce do desafio lançado pelo ex-treinador e presidente do clube, Luis Arrais, para que o Gimno Clube de Santarém (GCS) organizasse uma prova internacional em Santarém que fizesse jus ao histórico da modalidade no distrito, pois à altura, os três representantes portugueses aos Jogos Olímpicos em Ginástica de Trampolins eram todos provenientes de clubes do distrito: Nuno Merino (Tomar), Ana Rente (Tomar) e Diogo Ganchinho (S. Estevão).

A competição iniciou em 2012, como regista a evolução da mesma até aos dias de hoje?

Tem sido um crescimento constante e acreditamos que sustentado. Começamos com 141 ginastas na primeira edição, o que foi bom, pois permitiu-nos afinar a “máquina”, dai para cá tem sido sempre a crescer, até chegar ao fantástico número de 670 ginastas em 2019. Crescemos em ginastas, em clubes, em países, em logística e obviamente em responsabilidades.

Que ginastas e países podemos ver na edição deste ano?

A SCALABISCUP 2019 foi um verdadeiro universal! Estiveram representados, pela Europa: Portugal, Espanha, Reino Unido, Irlanda, Bélgica, Áustria, Alemanha, Polónia, Eslovénia, Letónia, Finlândia, Russia, Grécia e Itália. Pela Ásia: Cazaquistão e Singapura. Por África: Egipto e África do Sul. Pela América do Sul: Peru, América Central, Cuba e América do Norte o Canadá. Por fim, esteve ainda a Austrália a representar a Oceânia. Várias equipas nacionais se fazem representar, utilizando a prova como prova teste para preparar as suas equipas para eventos oficiais, como Campeonatos da Europa e do Mundo. Neste ano fizeram-se notar as seleções do Reino Unido, Áustria, Canada e Egipto.

Que balanço faz da edição de 2019?

À medida que as inscrições iam chegando fomos percebendo que o desafio ia ser gigante, o que se confirmou, com a chegada ao número de 23 países representados e um total de 670 ginastas. Estamos certos deste ser um dos maiores eventos mundiais de ginástica de trampolins. Sabíamos que a exigência ia ser muita, por um lado proporcionar um evento desportivo de qualidade que pudesse ir de encontro aos objetivos desportivos daqueles que se haviam inscrito e simultaneamente criar uma envolvência de suporte e apoio ao evento, que pudesse bem receber as comitivas e demais participantes, pois estamos a falar de cerca de 1000 intervenientes diretos no evento, entre ginastas, treinadores, juízes, médicos, delegados, staff da organização, voluntários e ainda somar todos os familiares e amigos que normalmente acompanham os ginastas.


Agora que a competição está terminada e que todos estão de regresso a suas casas, estamos crentes que conseguimos alcançar os objectivos e que a prova foi um sucesso em todas as suas valências, pelo menos a avaliar pelo feedback que temos recebido de membros das comitivas e ainda pelas reacções nas redes sociais!

Como é logisticamente organizar um evento desta envergadura?

Uma máquina, literalmente “pesada”! A particularidade da modalidade torna a preparação deste evento um trabalho muito físico. Cada trampolim, pesa perto de 400kg. Este ano usámos 10. A somar a uma pista de Tumbling, dois Duplo-mini Trampolim, mais de 100 colchões de 3x2m, para além de todo um conjunto de equipamentos de apoio que é necessário montar e desmontar unicamente para o evento. São cerca de 3 camiões “TIR” de material!
Alguns números da SCALABISCUP 2019, que para além do material parecem interessantes para demonstrar a dimensão do evento, ocupámos cerca de 3500 camas de hotel (fora as que foram reservadas por fora da organização), 4000 refeições vendidas directamente no pavilhão, para além da capacidade que é preciso ter para movimentar os participantes entre Lisboa e Santarém e depois dos locais de alojamento para o pavilhão e vice-versa.

Que apoios tem para realizar o mesmo?

Apoios privados, nenhum! Temos depois algum apoio institucional da Câmara Municipal de Santarém, que de acordo com o seu quadro de apoios a eventos desportivos comparticipa com uma determinada verba, ainda que bastante relativa, tendo em consideração a dimensão do evento comparando com outros. Para além disso o município, através da sua empresa municipal ViverSantarém, colabora com a cedência dos espaços e com alguma logística. A Santa Casa da Misericórdia e também o Turismo do Alentejo, deram algum apoio logístico. Por fim, temos o apoio mais valioso de todos que são os voluntários (membros da direcção, familiares e amigos) que colaboram e dão tudo para que a prova seja possível, onde temos um conjunto de pessoas que abdicam de alguns dias de férias para ajudar a colocar este evento de pé, algumas, uma semana inteira.

A cidade de Santarém está desperta para a importância desta competição internacional?

De uma forma geral, penso que não! A prova não é simplesmente três dias de competição no Pavilhão Gimnodesportivo, é uma semana inteira de movimentação extra na cidade, que se pode avaliar pelas 3500 camas vendidas! Apesar termos conseguido ir provando à hotelaria da importância do evento, os restantes sectores comerciais e sociais, pouca relevância dão a este esforço de fazer em Santarém um evento verdadeiramente universal.

Como está o panorama da ginástica em Portugal e no distrito?

Apesar da pouca visibilidade nos media a ginástica está bem viva, quer no distrito, quer a nível nacional. E ainda recentemente o ginasta Diogo Ganchinho, trouxe para Portugal, mais uma medalha, deste vez nos Jogos Europeus, realizados em Minsk.

Que objectivos tem o clube a nível nacional e internacional?

O clube tem sempre dois objectivos permanentes, por um lado permitir que o maior número de jovens possa ter formação gímnica e desenvolver a sua motricidade de base desde os 3 anos de idade e por outro a vertente competitiva. Onde a nível nacional e tendo em consideração a dimensão do GCS, os objectivos passam sempre, pela maior participação possível em campeonatos nacionais, de preferência com a luta e conquista de medalhas, o que felizmente tem acontecido e formar ginastas elite, que possam vir a integrar a equipa nacional e participar em eventos oficiais de selecções, onde a ginasta Matilde Brilhante se destaca. Para além disso, procuramos sempre que possível, participar em vários eventos internacionais particulares de forma a dar experiência aos nossos ginastas e visibilidade ao clube.

É um objectivo do Gimnoclube de Santarém ter mais atletas em competição olímpica?

Ter mais ginastas em competição é sempre um objectivo, embora seja difícil competir contra a cultura desportiva vigente em Portugal. Por isso, procuramos dar as melhores condições possíveis, para que os ginastas possam ir o mais longe e fazer o seu percurso… formar ginastas elite, é um passo importante para lhes lançar as bases, depois é preciso que um conjunto de situações se vá desenvolvendo para que esse possa ir sendo construído. Seria um sonho, difícil, mas que cá estaremos para correr atrás, caso se proporcione.

Como é que surge a sua ligação por este desporto?

Com três anos fui inscrito na motricidade infantil (vulgo ginástica para bebés), dai a passar para os trampolins que davam os primeiros passo no Cartaxo, foi um passo pequeno. Dai por diante nunca mais deixei a modalidade, ainda que pontualmente fosse praticando outras em paralelo enquanto federado!

Como é que se treina jovens atletas para a competição?

Em Portugal não é fácil! Os sistema de ensino não está adequado para estes jovens que procuram fazer um percurso diferenciado no desporto e por isso mesmo temos de treinar diariamente às 8 da noite, depois de um dia de escola e de trabalho, onde as capacidades já não são as melhores. É preciso conseguir gerir expectativas, ser exigente, por vezes obstinado. E, muitíssimo importante, é preciso ter um apoio familiar gigante, pois todo este trabalho é feito roubando-lhes tempo!

Existem condições ideais para a prática da ginástica em Santarém?

Ideais, nunca são, mas temos muito boas condições e bons equipamentos, para além de excelentes recursos humanos que acompanham os nossos ginastas desde o momento que entram no clube.

Que conselhos dá a quem quer seguir uma carreira na ginástica?

Muito amor à camisola, pois são raros os casos de alguém que consegue viver exclusivamente da ginástica. Muita dedicação, muita perseverança! Estar preparado para os ciclos dos ginastas e dos clubes, pois os clubes de ginástica estão sempre dependentes de quem “entra pela porta” e nem sempre é fácil manter o nível da equipa. Serão certamente muitos desafios pessoais e profissionais que terão pela frente.

Até onde é que ambiciona chegar como treinador desta modalidade?

Isso é a pergunta mais difícil de todas… O primeiro e principal objectivo é sempre aumentar o nível qualitativo e quantitativo dos ginastas do GCS, formar ginastas elite, lança-los nas equipas nacionais e dar-lhes as bases necessárias para que possam, ai sim, ambicionar com voos maiores. Tirando isso, é continuar a aprender e a evoluir, para alimentar aas qualidades e sonhos dos ginastas.

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