O centro comercial W Shopping, em Santarém, tem patente até 17 de Outubro uma exposição de homenagem a Carlos Oliveira, figura de relevo na cultura de Santarém, conhecido por “Chona”, falecido a 21 de Maio deste ano, aos 73 anos.
Com uma vida dedicada à cultura e ao teatro, Carlos Oliveira, tratado carinhosamente por “Chona”, Carlos Oliveira dedicou a sua vida à produção e realização de eventos culturais, tendo sido encenador, actor e dramaturgo.
Foi ainda jovem, na sua vida de estudante em Santarém em 1964/65, que começou a interessar-se pelo teatro, integrando elencos de récitas académicas, orientadas pela Dra. Madalena Tavares e Dra. Mariana Viegas, suas professoras, que muito o incentivaram.
Participou em quase todos os “Natais do Estudante” no Ginásio do Seminário, iniciativa do amigo e saudoso padre Francisco Nuno.
Aos conhecimentos empiricamente adquiridos em Portugal junta-se-lhe a aprendizagem feita no estrangeiro, onde frequentou o “Teatro Internacional para Jovens” em vários países.
Na década de 80 participou em vários cursos por toda a Europa, destacando-se o de “Drama na Educação” que teve lugar na cidade de Wersky Brod, na República Checa.
Observadas que foram as suas qualidades artísticas logo o convidaram para ser monitor em “workshops”, como foi o caso dos que se realizaram em Vordingborg (Dinamarca) e Echternach (Luxemburgo), países onde leccionou técnicas de improvisação teatral, construção da personagem, e “teatro de objectos”.
Os contactos estabelecidos, nomeadamente com o presidente da Associação Internacional do Teatro de Amadores (AITA), com sede em Amesterdão, motivaram-no a realizar em Santarém, juntamente com outros amigos, aquele que foi um dos maiores acontecimentos de sempre na história do teatro da cidade – o TIP 78, e que juntou em Santarém jovens oriundos de 18 países, movimentando cerca de 150 actores e técnicos, com o apoio do Poder Local.
A partir de então, apoiado pelos grupos a que pertencia, passou a organizar várias oficinas de teatro em Santarém e no concelho.
Juntou grupos de teatro do Ribatejo em encontros anuais, designados por “Teatro de Mãos Dadas”. Depois descentralizou o evento para Rio Maior, Cartaxo e Almeirim, provocando transformações na vida interna dos grupos e na qualidade das suas produções cénicas.
Orientou as “Jornadas Europeias de Teatro” em Santarém, que tiveram lugar no auditório do Instituto da Juventude, com grupos de Portugal, Noruega e República Checa.
Em 1994 foi credenciado pelo Conselho da Europa para diligenciar no sentido de Portugal receber o VII Encontro Europeu de Teatro, no âmbito de “Lisboa – Capital da Cultura”.
Sempre que se deslocou a outros países, o “Chona” estabeleceu pontes que possibilitaram intercâmbios com grupos portugueses, dos quais resultaram relevantes trocas de experiências e saberes.
Com a sua facilidade de fazer amigos, foi sempre fácil rodear-se de boas equipas de trabalho, circunstância que permitiu formar a APTA – Associação Portuguesa do Teatro de Amadores, e, a nível regional, a Associação de Teatro de Santarém – ARSTA, que chegou a ter 50 grupos associados.
O “Chona” promoveu o funcionamento de uma biblioteca regional de teatro, o que ajudou a melhorar o repertório dos grupos amadores. Complementarmente, publicou através da ARSTA 20 boletins mensais com o título “De Mãos Dadas”, edição que tinha por objectivo manter os grupos unidos e divulgar eventos, artigos de opinião sobre crítica de teatro, e biografias de dramaturgos portugueses.
Na Sociedade Portuguesa de Autores encontram-se registadas algumas obras de sua autoria, publicadas e distribuídas por escolas e bibliotecas. É também de sua autoria um texto de teatro para cegos com o título “Um Túnel ao Fundo da Luz”, ainda não editado. É ele o coordenador da edição dos únicos livros existentes em Portugal sobre “A História do Circo”, da autoria do Professor Luciano Reis.
Também amante das artes circenses, Carlos Oliveira esteve na origem da formação da “D’Artânimo”, uma associação juvenil vocacionada para animações circenses de rua, com malabarismos de fogo e efeitos pirotécnicos, que evoluiu através dos tempos e que hoje se designa por Human’Art.
No dizer do crítico Fernando Midões, este “semeador de teatro” criou 10 grupos em diversas localidades: fazia sempre questão de salientar que a colaboração de outros amigos foi tão importante como a sua acção. “Sem eles esses grupos não teriam existido.”
Colaborou na organização do I Festival Internacional de Teatro de Lisboa, no Teatro D. Maria II, e, juntamente com o seu “companheiro de luta” Manuel Alves Castela, organizou o I Festival de Teatro da Feira do Ribatejo, que, apresentado no Largo do Seminário, viria nos anos seguintes a ser proibido pela PIDE, após o Estado Maior General das Forças Armadas se ter insurgido contra a representação da peça “A Guerra Santa“, de Luis de Sttau Monteiro, que critica a guerra colonial e as instituições militares.
Participou activamente nos “Festivais de Outono”, realizados pelo Veto Teatro Oficina, iniciativa que servia de montra ao que teatralmente se fazia na região.
A actividade na área da produção e realização de espectáculos é muito vasta, tendo encenado ou participado como actor em 62 peças.
Mas não só no teatro exerceu a sua acção. “Slides à Noite”, uma projecção de diapositivos em ecrã gigante, animou com música o Largo do Seminário nas quentes noites de Verão, local onde os Festejos de Carnaval do Teatrinho de Santarém, por ele orientado, enchiam por completo de alegria e de pessoas o centro histórico da cidade.
Outra das actividades em que participou foi o “Cantarolando”, Festival da Canção Infantil, que sempre levava uma multidão à antiga Feira do Ribatejo, onde se realizava.
Apareceram então experiências na rádio e televisão, tendo sido o responsável pelo programa “Palmo e Meio” na RDP – Rádio Ribatejo, e o autor de cinco peças para televisão, seleccionadas a nível nacional, e apresentadas nos concursos por equipas de Santarém, nas quais participou.
“Puzzle”, o primeiro espectáculo por ele encenado no Teatrinho de Santarém, com cartaz do Mestre João Quaresma, foi contratado pela Dra. Maria Alberta Menéres, do Departamento de Programas Infantis da RTP, tendo sido transmitida para todo o País através da Telescola.
Também a sua encenação de “O Principezinho” levou a RTP à gravação do espectáculo e à sua transmissão nacional no Dia de Natal do ano de 2000.
Participou ainda em apontamentos de reportagem e críticas de teatro nos programas televisivos “TV-PALCO” de Igrejas Caeiro, e “FILA T” de Fernando Midões, onde se divulgou e elogiou o teatro feito em Santarém.
Em 2005 participou com outros actores scalabitanos nas filmagens de “Quando os Lobos Uivam”, de Aquilino Ribeiro, numa adaptação televisiva de Francisco Moita Flores.
Com Maria da Purificação e Domingos Lobo, criou “A Phala”, único grupo de poesia então existente na região.
O FITIJ – Festival Internacional de Teatro de Santarém, e a Bienal Luso-Brasileira de Teatro-Circo, que são importantes marcos na história cultural da cidade, têm no “Chona” o seu mentor e impulsionador incansável, que só os Cuidados Intensivos do Hospital Distrital o fizeram parar.
Ao longo da sua vasta carreira, Carlos Oliveira contou com vários prémios e distinções, entre os quais se destacam o 1º Prémio de Teatro dos Jogos Florais da Feira do Ribatejo; o 1º Prémio de Teatro da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – C.G.T.P.; o 1º Prémio Nacional de Textos de Teatro, atribuído pelo Teatro Experimental do Porto; o Prémio “Mérito do Teatro Português” atribuído pelo Inatel, a nível nacional.
Foi ainda distinguido como “Scalabitano Ilustre”, título atribuído pela Câmara Municipal de Santarém e eleito “Personalidade do Ano 2004” – Homenagem da Junta de Freguesia de São Nicolau – Santarém.
Carlos Oliveira viu o seu nome ser atribuído a uma rua na freguesia de S. Nicolau – Santarém, por iniciativa da respectiva Junta de Freguesia e aprovação pela Câmara Municipal de Santarém e foi distinguido com o “Prémio Prestígio Personalidade na Área do Teatro”, a nível nacional, atribuído pela Federação Portuguesa de Teatro.
Instalada no Piso 1 do W Shopping, a exposição tem por nome “Chona, homem de artes e afectos…”.