Nos últimos tempos tornou-se comum a frase: “O futebol é o momento”.
Mas, se pensarmos bem, esta verdade é válida para qualquer desporto, qualquer atividade e, por vezes, até para as nossas vidas.

No último fim de semana tivemos dois jogos de Seleções Nacionais, em Coimbra e em Lisboa, em que, embora com derrotas, uma teve o valor de quase vitória e a de outra teve o peso da humilhação.

Patrice Lagisquet é o Selecionador Nacional de Rugby. Francês, com vasta experiência internacional como jogador, antigo internacional pelo seu país com participações em diversos torneios das 5 nações, e com um bom currículo como treinador, tendo conquistado três títulos de campeão nacional no emocionante campeonato Gaulês, tem vindo a desenvolver um profícuo trabalho à frente da nossa Seleção.

Um trabalho que tem vindo a ser preparado para o tempo presente, mas também para o futuro da Seleção Nacional e com o objetivo claro de voltarmos a estar numa fase final de um Mundial de rugby.

Lagisquet, a sua equipa técnica e muitos dos que estão ligados à Federação Portuguesa de Rugby, nos diversos escalões, têm vindo a lançar as bases para que o feito dos “Lobos” de 2007 possa ser repetido.

Depois da vitória histórica contra o Canadá, uma Seleção totalista em participações nos mundiais de rugby, este sábado, contra a poderosa seleção do Japão, número 10 mundial e com uma equipa de profissionais no desporto oval, foi um enorme orgulho ver uma equipa portuguesa a bater-se metro a metro, ruck a ruck, com aquela poderosa Seleção.

Num excelente ambiente de harmonia entre equipa e público, com mais de 10 mil espetadores no municipal de Coimbra, os jogadores amadores nacionais (sim, em Portugal o rugby é um desporto amador) foram aplaudidos de pé pelo público que tanto animou e tanto tentou empurrar a equipa para a vitória. Ficaram boas expetativas para o futuro e fica a sensação de que há nitidamente uma equipa em construção e a preparar-se para novos desafios.

No domingo, no estádio da Luz, no jogo entre Portugal e a Sérvia, veio o anticlímax.
Estádio cheio, ambiente empolgado, entrada no jogo logo a ganhar e a sensação que ficou do jogo é que, não só perdemos, como fomos dominados. E isto quando bastava a Portugal o empate.

Não me esqueço dos feitos desta Seleção, deste Selecionador Nacional, nem destes jogadores, mas a imagem que têm deixado dos últimos jogos é que, se excluirmos o sucesso Ronaldo e os recordes batidos, pouco de bom fica nas nossas memórias. E isto com uma quantidade de jogadores e qualidade ímpar, espalhados pelas grandes equipas europeias e pelos grandes campeonatos.

Se no sábado perdemos no rugby, com um estádio de pé a aplaudir a Seleção Nacional no final do jogo (25-38, mas em que o jogo foi sentenciado quase no final com o 4º ensaio nipónico), no domingo a derrota em casa por 1-2 teve um sabor demasiado amargo para as nossas expetativas, com equipa e Selecionador a serem despedidos com lenços brancos.

No sábado assistimos a uma Seleção amadora, que soube levar bem alto o nome de Portugal, mesmo perdendo, no domingo assistimos a uma Seleção altamente profissional, principescamente bem paga, que não conseguiu atingir o objetivo tão ansiado e confirmou as más exibições repetidas em diversos jogos, incluindo no anterior contra a Irlanda.

No meio destes dois desportos e destes dois jogos num único fim de semana, em que ambas as equipas representaram as cores nacionais, fica por um lado a esperança do Rugby Português para as conquistas futuras, com um Selecionador que soube colocar uma equipa nacional a jogar um bom rugby e que ia fazendo a surpresa de derrotar o Japão: com um coletivo forte, unido e que empolga, mas por outro lado fica a imagem de uma Seleção de Futebol que parece estar em fim de ciclo, sem chama e em que o jogo coletivo é cada vez mais desgarrado ou inexistente, vivendo do individualismo.

A derrota dos comandados por Lagisquet tem um sabor totalmente diferente da derrota da equipa de Fernando Santos. Portugal perdeu os dois jogos, mas se no rugby fica uma clara expetativa quanto ao futuro, no futebol fica a apreensão com o presente.
Será que é só o futebol que é o momento? Talvez não..

Inato ou Adquirido – Ricardo Segurado

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