O Festival Internacional de Cinema de Santarém (FICS), dedicado às temáticas do território, regressa depois de um interregno de três décadas, mostrando, de 24 a 28 deste mês, 32 filmes oriundos de 21 países.
Designando-se como “Um Festival da terra, pela Terra”, o FICS reivindica-se como “um dos festivais de cinema mais antigos de Portugal”, tendo surgido em 1971, com a exibição, até 1989, de cinema sobre as temáticas agrícola, rural e ambiental.
A 16.ª edição do FICS surge agora, “retomando a sua matriz de programação”, com a exibição de “filmes que explorem a relação entre o cinema e o território”, abordando questões como “o trabalho, a natureza, a produção alimentar, a preservação ambiental, as alterações climáticas, as tradições, o que permanece e o que se altera”.
Um dos festivais de cinema mais antigos de Portugal, o Festival Internacional de Cinema de Santarém (FICS), está de volta à cidade de 24 a 28 de Maio, depois de três décadas de interregno.
O Festival nasceu em 1971, fruto da vontade de vários apaixonados pelo cinema em mostrar os melhores filmes nacionais e internacionais, dando um importante e necessário impulso à vida cultural da região.
Até 1989, foi apresentada uma programação com obras de grande qualidade artística que exploravam as temáticas agrícola, rural e ambiental e tornou-se um marco do panorama cultural nacional.
Agora, passadas três décadas de pausa, o Cineclube de Santarém e a Câmara Municipal de Santarém decidem dar uma nova vida ao Festival e retomar o rumo traçado. Com novo fôlego, o FICS volta em 2023 para a sua 16ª edição.
Sob o lema “Um Festival da terra, pela Terra”, o Festival continua a dedicar-se às temáticas agrícola, rural e ambiental que estiveram na sua origem como um dos primeiros festivais de cinema em Portugal.
“Este festival pretende ser uma reactivação do antigo Festival Internacional de Cinema de Santarém. Houve aqui um interregno de 33 anos, que achámos por bem pôr fim”, começa por contar ao Correio do Ribatejo o realizador Francisco Noras, um dos responsáveis da organização.
“O FICS era, à época, um dos raros que se realizavam no país, e que teve uma origem ingressante: a sua temática agrícola, rural e ambiental foi uma forma, também, de contornar a censura que existia”, recordou o responsável, acrescentando: “foi, de certa forma, um festival revolucionário e inovador. E, nesta edição, queremos recuperar essa temática telúrica e a dimensão do homem e do seu território. O grande lema do Festival é mesmo o de ser da terra, pela Terra, concretizou.
“Da terra, porque tem origem na região de Santarém e pela Terra porque se concentra nessa temática da ligação que o Homem tem com o seu contexto e que desafios nascem dessa mesma relação”, disse ainda.
Rita Correia, presidente do Cineclube de Santarém desde 2012, diz que está há dois anos a trabalhar para reactivar este festival, sendo que, já em 2014/2015 foi feito o primeiro dossier para concretizar este projecto.
“Montar este festival foi um processo moroso: não é só fazer uma selecção de películas. Tem que haver uma organização, um propósito e um projecto bem estruturado.
Este ano, foi possível, com o apoio da autarquia, lançar mãos da sua concretização, tratando-se, pois, de um projecto que nasce da comunidade cinéfila de Santarém e da sua massa crítica”, apontou.
“Um Festival não é uma mostra desgarrada de filmes. Tem que ter um fio condutor e um diálogo estabelecido e coerente entre as várias propostas que programação que temos”, sublinha a responsável.
Com uma programação heterogénea e desafiadora, este festival de cinema é, pois, muito mais do que isso: pretende explorar a relação entre o cinema e o território. Assim, ao longo de cinco dias, o FICS vai contar com 32 filmes, oriundos de 21 países – em que um terá a sua estreia mundial, três são estreias internacionais e sete são estreias nacionais.
“O processo de selecção foi muito interessante. Estendemos a Open-Call e só no primeiro mês, recebemos logo 160 submissões de 31 países, em mais de 70 horas de película”, revela Francisco Noras que teve de atender a critérios como “qualidade cinematográfica e adequação à temática”.
Francisco Noras acredita que este Festival, descentralizado dos grandes polos, é uma mais-valia para toda a comunidade artística da região e isso reflecte-se, igualmente nas duas secções de competição (nacional e internacional).
“Só da região de Santarém, temos três produções e este Festival servirá, também, de montra e dará visibilidade a estes trabalhos”, revelou ao Correio do Ribatejo.
A programação foca-se, pois, em filmes que explorem a relação entre o cinema e o território, no contexto de temáticas agrícola, rural ou ambiental. O trabalho, a natureza, a indústria, a preservação ambiental, as alterações climáticas, as tradições, o que permanece e o que se altera, os gestos da terra no grande ecrã.
A programação será apresentada através de diferentes secções que, para além das Competições Internacional e Portuguesa, inclui também secções não-competitivas onde se construirá um panorama nacional e internacional da produção contemporânea e também a relação deste com a história do cinema.
Nesta “terceira vida”, num formato que alia a iniciativa da sociedade civil à do município, vão manter-se as “temáticas de ligação ao mundo rural e ao ambiente”, numa homenagem aos seus criadores e também de posicionamento da cidade “nesta forma de expressão artística e cultural”, disse.
Rita Correia afirmou que a 16.ª edição do FICS, que vai decorrer de 24 a 28 de Maio no TSB e na Casa do Brasil, terá apenas cinco dias e não uma semana como era vontade do Cineclube, naquele que será “um ano zero” da “nova vida” do festival.
A programação vai contar com diferentes secções, competitivas e não competitivas, como o evento “Foco”, com uma relação directa com a história do cinema, sobre um autor ou temática, onde serão exibidos filmes antigos, e a acção “Panorama”, com apresentação da produção contemporânea nacional e internacional.
“Eu não faço distinção entre o chamado cinema de autor e aquele que é designado de comercial. Todas as formas são importantes e maneiras diferentes de apresentar o produto. As pessoas já preconizaram, por várias vezes, a morte do cinema. Primeiro com os videoclubes, agora com as plataformas de streaming.
A verdade é que isso não acontece porque o cinema, sendo uma arte relativamente recente, está em constante transformação. Na minha perspectiva, a importância do cinema, seja ele mais ou menos comercial, é o facto de ele ser uma ferramenta muito fácil de ser utilizada e muito fácil de chegar às pessoas.
É uma forma de comunicar através da imagem. Em termos de formação de públicos, é importante trazer as crianças e jovens a uma sala de espectáculos. Esse é o primeiro passo para que saiam dos seus écrans pessoais e consumam imagens de outra forma. No caso do Cineclube, temos apostado, não só na formação de públicos, como, a pedido de Escolas com quem colaboramos, criar programações específicas para complementar currículos escolares ou determinado tema que se está a trabalhar na Escola. Tudo isto em articulação com o Plano Nacional de Cinema”, salientou à nossa reportagem.
Rita Correia apontou como “um dos pontos altos do festival” o “Cinema à Mesa”, na noite de sábado 27 de Maio, no Refeitório do Seminário (Catedral de Santarém), com a exibição de um filme, seguido de uma refeição relacionada com a fita e preparada por um ‘chef ’.
Paralelamente à exibição de filmes, irão ser desenvolvidas uma série de actividades, entre conversas, workshops e encontros, que possibilitem um diálogo entre público, agricultores, investigadores, ambientalistas, cientistas, cineastas e artistas.
O Projecto Educativo do FICS, chamado Sementes e Rebentos, irá estender-se ao longo das datas do Festival pretende aproximar a programação do público infantil e juvenil, em contexto escolar ou familiar, mas também do público sénior.
“A experiência colectiva do cinema, bem como a conversa gerada a partir dela, promovem a articulação de pensamentos e emoções, e a partilha destes com o grupo.
É nesta experiência que julgamos residir uma das grandes forças do cinema de temática ambiental, por permitir veicular valores que são essenciais para uma cidadaniainclusiva, crítica, participativa, respeitadora e consciente”, acrescentou. O FICS pretende, assim, ser um Festival que assume a responsabilidade pelas questões ambientais, económicas e sociais, fazendo a sua parte para ajudar as gerações futuras a ter um lugar para viver.
“Um encontro que traga uma energia transformadora para a cidade de Santarém, pela descentralização do acesso à cultura, pela cidadania participativa, pelo ensino através da arte e em comunidade, pela sustentabilidade ecológica e pela valorização do território”, resume a organização.
“A minha expectativa é que consigamos mostrar um programa coerente, que suscite a reflexão e a discussão porque o cinema tem um papel de acção sobre a própria sociedade.
Queremos, no fundo, criar novos públicos e mostrar que uma linguagem pode ser transformadora da sociedade.
Em termos pessoais, o FICS pode ajudar a fomentar uma indústria cinematográfica que não só veja, reflicta e pense filmes, mas também olhe para Santarém como um palco para a sua realização”, disse ao Correio do Ribatejo Francisco Noras.
“Há muitos motivos para visitar o Festival Internacional de Cinema de Santarém e reposicionar o FICS no mapa dos festivais nacionais da sétima arte”, concluiu Rita Correia.
Filmes em competição
A Competição Portuguesa contará com os filmes “Luana”, de Tiago Melo Bento e Maria Simões, “Pastor Cósmico”, de Inês T. Alves, Mariana Pinho e Duarte Martins, “Boca Cava Terra”, de Luís Campos, “Terra que marca”, de Raúl Domingues, e “Um Nome para o que sou”, da realizadora Marta Pessoa.
Estão incluídos também filmes de realizadores escalabitanos, como “Denegas”, de Pedro Mourinha, “TRANS((MISSÃO))”, de Miguel Canaverde, e “Tradições dum Povo”, de Paulo Antunes, sublinhando a organização que vários realizadores estarão presentes no Festival.
Na Competição Internacional, estarão presentes “imagens de quase todo o mundo, das florestas húmidas da América do Sul, passando pelas planícies holandesas até às montanhas do Nepal”, afirma o FICS, uma organização do Cineclube de Santarém com o apoio do município escalabitano.
A organização destaca a estreia internacional de “Là où l’herbe est plus verte”, de Coco Tassel, “sobre a perspectiva de um agricultor francês sobre o trabalho com a terra”, e de “Tending The Garden”, de Claire Weissbluth, “uma viagem ao longo de um ano na vida comunitária de três quintas familiares que cultivam canabis e alimentos em busca de um futuro regenerativo”.
Na secção Panorama, “onde se apresenta uma visão da produção contemporânea nacional e internacional”, haverá a estreia mundial de “Nomadic Island – Towards Third Nature”, do realizador italiano Mattia Mura Vannuzzi, que estará em Santarém “para acompanhar o filme que explora novas soluções para enfrentar os desafios ambientais através da colaboração e da experimentação artística”.
O bailarino brasileiro Ramon Lima, um dos participantes de “Tes jambes nues”, de Vladimir Léon, “filme que funde o trabalho da terra e o trabalho coreográfico enquanto procura de uma forma mais justa de habitar o mundo”, marcará igualmente presença, acrescenta.
A secção em Foco, dedicada “às agropoéticas de libertação e às lutas ecológicas”, trará a Santarém filmes que “propõem uma reflexão sobre a devastação das paisagens naturais e história de violência colonial e extractivista, em torno das práticas agrícolas de comunidades na Índia, Palestina, Moçambique e Mali”.
A realizadora indiana Radhamohini Prasad estará em Santarém para a estreia internacional do filme “Farmer Collectives in North Bengal” e Diogo Cardoso e Sofia da Palma Rodrigues, membros do colectivo de jornalismo narrativo Divergente, irão acompanhar a exibição do seu filme “Terra de todos, terra de alguns”, anuncia, ainda, o Cineclube.
Na programação “para além da tela”, o FICS promoverá conversas com realizadores, actividades no âmbito do projecto educativo “Sementes e Rebentos” e uma oficina sobre som, dinamizada pela associação Waves of Youth, iniciativas “em torno da temática agrícola, rural e ambiental”.
O programa inclui um jantar temático “Cinema à Mesa”, no antigo Refeitório Jesuíta do Museu Diocesano de Santarém, em que o chefe João Correia, do restaurante Dois Petiscos, vai criar um menu de degustação a partir do filme “Religo”, de Flora Pesenti, que será visionado antes da refeição.
Na sessão de encerramento, organizada em colaboração com a Cinemateca Portuguesa, será exibido o filme “Erupção Vulcânica dos Capelinhos, Ilha Do Faial (1958)”, de Raquel Soeiro de Brito, acompanhada com uma composição ao vivo pelo artista escalabitano Manuel Brito e a pianista Sílvia Mendonça.
Designando-se como “Um Festival da terra, pela Terra”, o FICS reivindica-se como “um dos festivais de cinema mais antigos de Portugal”, tendo surgido em 1971, com a exibição, até 1989, de cinema sobre as temáticas agrícola, rural e ambiental.
A 16.ª edição do FICS surge agora, “retomando a sua matriz de programação”, com a exibição de “filmes que explorem a relação entre o cinema e o território”, abordando questões como “o trabalho, a natureza, a produção alimentar, a preservação ambiental, as alterações climáticas, as tradições, o que permanece e o que se altera”.
A programação deste festival inclui ainda uma exposição de homenagem ao antigo Festival Internacional de Cinema de Santarém que dará a conhecer ao público, principalmente de fora e aos jovens, a história do FICS.
Projecto Educativo
O Projecto Educativo do FICS, chamado Sementes e Rebentos, irá estender-se ao longo das datas do Festival e nasce da convicção que o cinema é uma expressão humana capaz de potenciar uma cidadania mais crítica, informada, aberta e respeitadora da diferença, visando a construção de uma sociedade mais justa, tolerante e, portanto, mais forte.
Um dos grandes desafios a que o FICS se propõe é o de construir um espaço onde a sua programação se aproxime do público infantil e juvenil, em contexto escolar ou familiar, mas também do público sénior.
As sessões e oficinas que se irão desenvolver têm como objectivo estimular um constante questionamento do mundo. Os participantes encontrarão nelas um espaço onde podem pensar em conjunto os filmes apresentados. A experiência colectiva do cinema, bem como a conversa gerada a partir dela, promovem a articulação de pensamentos e emoções, e a partilha destes com o grupo.
“É nesta experiência que julgamos residir uma das grandes forças do cinema de temática ambiental, por permitir veicular valores que são essenciais para uma cidadania inclusiva, crítica, participativa, respeitadora e consciente”, diz a organização.
De forma a tornar acessíveis os conteúdos programados, as actividades serão pensadas individualmente para as várias faixas etárias, abrangendo crianças e jovens dos 4 aos 18 anos, as suas famílias, a comunidade de professores e educadores e o público sénior, mas também outros facilitadores e profissionais do serviço educativo.
Filipe Mendes