Gonçalo Carvalho, treinador da Associação Desportiva Fazendense, vai para o quarto ano a comandar a equipa principal do clube. O jovem treinador faz um balanço positivo do trabalho nas últimas três temporadas e traça os objectivos pessoais e do clube para o futuro.

Que balanço faz destas últimas épocas à frente do Fazendense?
O balanço que faço destas três épocas é extremamente positivo. Chegámos ao Fazendense após uma época atribulada (mesmo após a conquista da taça do Ribatejo), que motivou a passagem de três treinadores pelo clube, em poucos meses, e tendo saído a grande maioria do plantel. Aquilo que me foi solicitado pelo presidente e demais directores foi a criação de condições para existir estabilidade, bom ambiente e regularidade. Procurámos um determinado perfil de jogadores, essencialmente jovens, que nos dessem garantias quer futebolísticas, quer humanas e assim aconteceu! E nesta caminhada o futebol positivo, a qualidade e o respeito pela modalidade e os seus agentes tem sido uma marca nossa.

O Fazendense tem ficado em lugares acima do meio da tabela, na próxima época quer subir ainda mais degraus?
Sim, claramente. Na primeira época fizemos um campeonato muito interessante, sempre no grupo perseguidor, sendo o campeonato disputado por Riachense e Coruchense. Na segunda época fomos a equipa que “mais luta” deu ao Mação, realizando um campeonato extremamente positivo, que pecou pelo insucesso nas últimas quatro jornadas. Na época transacta voltámos a estar “tranquilos” na classificação, ainda que me tenha deixado insatisfeito, pois considero que poderíamos ter feito mais e melhor.
Encerrando um ciclo de três anos, onde cumprimos com o solicitado, vamos iniciar um quarto ano com a perspectiva de fazer melhor que até então.

Quais os objectivos do clube consigo no comando técnico?
Os clubes/ equipas/ plantéis forçosamente assumem muitas das características dos seus treinadores. O Fazendense não é excepção. O seu treinador é respeitador, tranquilo, mas ambicioso, como tal, os objectivos do clube passam por, calmamente mas com muita ambição, ser melhor dia após dia (corroborados pelo nosso grande presidente).

Ganhar o campeonato distrital está dentro das ambições do clube nos próximos tempos?
No seguimento da pergunta anterior, a resposta é um sim! Sem qualquer tipo de pressão (orçamental, de adeptos, de direcção) mas com muita vontade de ser melhor, queremos lutar por campeonato e taça. Reforço que esta ambição é completamente natural, e advém exclusivamente da qualidade que há no clube e do compromisso e querer do grupo de trabalho.

Que falta ainda a esta equipa para se bater como candidato à liderança? O Fazendense tem vindo a reforçar-se com essa ideia?
Tem-nos faltado ambição nesse sentido, pois os objectivos nestes três anos passaram, conforme referi, por estabilizar o grupo e construir um clima/ ambiente positivo, a todos os níveis. Para a próxima época, os nossos jogadores querem lutar pelos lugares cimeiros, os treinadores também, e o clube (presidente e direcção) acompanha, sem qualquer tipo de loucuras, essa ideia. Vamos trabalhar para isso, pois essa será a única forma de obter sucesso.

Os reforços já anunciados têm qualidade e juventude, isso é uma mais-valia?
Sim, sem dúvida. Eu gosto de trabalhar com jogadores jovens, com potencial e de compromisso. Existindo a possibilidade de esses jovens integrarem o nosso plantel, mesclando essa irreverência com alguns elementos mais experientes, tanto melhor. Estamos inseridos num contexto em que, neste período do defeso, sentimos grandes dificuldades para “fazer acontecer” aquilo que pretendemos. Contudo, e com grande felicidade, os jogadores que queremos irão trabalhar connosco.

Nas últimas temporadas o clube tem vindo a reforçar-se a nível directivo e até estrutural, acha que é fundamental nos dias que correm?
Sem dúvida. Sem direcção, sem estrutura, sem pessoas, não existem clubes. A grande força do ADF são as pessoas, são os “charnecos”. O clube está organizado, estruturado, e tem dado passos muito firmes na sua caminhada de melhoria. A equipa sénior é uma das muitas que constituem o clube, e tem sido nessa lógica que temos crescido todos. Desde o futebol de 3 ao futebol de 11, em todos os escalões, a estrutura funciona, interage, cresce e consolida-se. Essa é a perspectiva e a ideia de todos os que trabalham em prol do clube (jogadores, pais, directores, técnicos, adeptos). Respondo desta forma porque quem rodeia a equipa sénior “olha” para a formação, e quem rodeia a formação “olha” para a equipa sénior. Somos assim!

O Liká e o Fábio Fidalgo, que abandonaram recentemente os relvados, podem vir a acompanhá-lo na equipa técnica?
O Fábio e o Liká foram, a par do Isas, os meus capitães, aqueles que estiveram sempre lá, que lideraram, que foram exemplo. Ambos optaram por terminar a sua carreira no futebol, tão recheada e com tantos momentos marcantes. Essa decisão foi tomada pela intenção de estarem mais tempo com as suas famílias, de dedicarem mais tempo às suas esposas e filhos. A relação entre nós é excelente, eu estou grato por tudo o que partilharam comigo (foram meus colegas de equipa e agora meus jogadores), mas não farão parte da equipa técnica da equipa sénior do Fazendense, para já!

Como acha que será o campeonato na próxima época?
Perspectivo um campeonato nivelado por cima, bem jogado, com intervenientes de qualidade (jogadores, treinadores, árbitros), e acredito que possa ser mais competitivo que o anterior. Espero que o respeito seja uma palavra de ordem, obrigatória, e que as melhores equipas, as mais organizadas, as que melhor trabalhem sejam aquelas que mais vezes vençam.

Na sua opinião quem se afigura a vencer a competição?
Essa é uma pergunta com resposta difícil, porque todas as equipas se estão a preparar para fazer o melhor campeonato possível e, legitimamente, ambicionam a algo. Contudo, e com o máximo respeito e consideração por todos, posso considerar que U. Tomar (pelo plantel fortíssimo que está a construir), Coruchense (porque é sempre um candidato crónico), S.L Cartaxo e Almeirim (pelo investimento e ideologia próprios de uma SAD) serão clubes com responsabilidade no campeonato. Acrescento, com a maior descontracção, o meu Fazendense, pela qualidade dos nossos jogadores e por aquilo que poderemos fazer na prova. Volto a frisar que me parece que será um campeonato extremamente competitivo, onde qualquer equipa poderá vencer em qualquer campo, valorizando o nosso futebol, o nosso distrito.

Onde é que ambiciona chegar como treinador?
Naturalmente, ambiciono subir patamares e chegar ao futebol profissional. Tenho o prazer e a felicidade de já ser um profissional do desporto, da educação, e de ter o futebol na minha vida, ininterruptamente, há uns bons anos, sempre com o apoio e encorajamento dos mais importantes, a minha família. Tenho o caminho bem definido, e vou consolidando aprendizagens, recolhendo ensinamentos, vivendo as experiências, percebendo o que cada situação me oferece. No meio de tudo isto tenho uma certeza, não vou atropelar ninguém, precipitar algo ou forçar qualquer situação. O que o futuro me reserva, não sei! Mas o meu trabalho (e o de quem me acompanha tão dedicadamente) fará com que as melhores oportunidades surjam. E quando surgirem, serão agarradas e os objectivos superados. Tenho a certeza!

Em quem se inspira?
Tantos são os bons treinadores, os que apresentam excelentes ideias, os que apresentam boas práticas, que acaba por ser difícil individualizar. O José Mourinho marcou uma geração… acompanhei o seu trabalho desde o início, tenho dezenas de livros escritos sobre ele, é sem dúvida alguém que destaco, e que personifica a vida do treinador (deixou de ser o melhor passando a alvo de comentários incríveis). Pep Guardiola, Paulo Fonseca, Luís Castro, Arséne Wenger, entre tantos outros, são treinadores que aprecio e dos quais sigo o trabalho.

Que conselhos dá a quem quer ser treinador?
O treinador, antes de o ser, é pessoa. Como tal, a acção do treinador está sempre condicionada pela pessoa que somos. Acredito nisto piamente, por muito que, nos dias actuais, se passe a mensagem de que mais vale parecer do que ser! Ser competente e bom comunicador, ter conhecimento, ser genuíno, crítico para com a sua acção, reflexivo, respeitador, são requisitos necessários, na minha opinião, para se ser treinador. Para os mais jovens, aconselho a “beberem” toda a informação que possam, a viverem as experiências, a “ouvirem” todos, e a não “fecharem concepções”, pois quer a via académica quer a via prática são importantes, compatíveis e enriquecedoras.

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