A gratidão é o sentimento que acompanha milhares de peregrinos que, por estes dias, fazem o percurso a pé até ao Santuário de Fátima, para as cerimónias de 12 e 13 de maio.
Se até há alguns anos era sobretudo o cumprimento de promessas que levava os peregrinos a fazerem-se ao caminho, atualmente é comum a razão apontada ser a gratidão pela vida que se tem.
Apesar das dores nas canelas que tem acompanhado Tiago Silva, de 40 anos, funcionário num ginásio, este peregrino que partiu no domingo de Paredes, no distrito do Porto, é perentório quando diz à agência Lusa: “é a primeira vez que venho, e é por gratidão. Não há nada como sermos gratos pelo que vamos tendo”.
“O que a vida nos proporciona, o trabalho que temos, os familiares que ainda estão connosco, tudo isto deve ser motivo para sermos gratos. A educação que tenho faz com valorize estas coias”, afirma em Colmeias, Leiria, enquanto caminha no meio de um grupo de peregrinos que pretende chegar ainda hoje à Cova da Iria.
Alguns elementos do grupo ficarão até segunda-feira, 13 de maio, Tiago regressa ainda hoje ao Norte, pois no sábado já tem serviço no ginásio. “Como estou, só vou fazer serviço administrativo”, diz a rir, enquanto assegura que a experiência que está a viver “é para repetir”.
Algumas centenas de metros atrás, caminha Marisa Santos, de 48 anos, de Santa Maria da Feira, de onde partiu na terça-feira para uma das “muitas peregrinações desde há mais de 20 anos”.
Garantindo que é a fé que lhe dá força, admite que o que a leva desta vez a Fátima “é o pagamento de uma promessa”, que guarda para si.
Aproveita a ocasião para lançar um apelo: “de há 20 anos para cá, os apoios aos peregrinos são muitos mais, houve uma evolução grande nesse aspeto, e nota-se um reforço em maio. Agora, o que era necessário é que esse apoio fosse dado durante todo o ano, pois há milhares a fazerem peregrinações fora dos meses de maio e outubro”.
Esta é uma preocupação que também tem Faustino Ferreira, responsável diocesano de Leiria pelo Movimento da Mensagem de Fátima – entidade que coordena a comissão de apoio ao peregrino a pé.
“Nas reuniões que fazemos dos Secretariados Diocesanos do Movimento isso é apontado. O caminho do peregrino tem de ter mais postos e não só em maio ou outubro. Acho que vai ser possível caminharmos para que alguns postos funcionem todo o ano, pois há gente de boa-vontade [voluntários] para isso”, diz Faustino Ferreira à agência Lusa, revelando que, quanto ao posto de atendimento ao peregrino de Colmeias, Leiria, isso já acontece, quando grupos de peregrinos contactam em qualquer altura do ano, a marcar a sua passagem por lá.
“O posto das Colmeias funciona sempre que os peregrinos necessitem, desde que contactem. Podem pernoitar e recebem uma sopa, umas águas e têm balneários para tomar banho”, explica o responsável.
Por este posto, nos últimos dias, têm passado centenas de peregrinos, muitos dos quais recebem alguns cuidados de alunas do curso de Enfermagem da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria.
Acompanhadas das professoras Sónia Ramalho e Eva Menino, as alunas, voluntárias, prestam apoio neste posto por ocasião das peregrinações de maio e outubro, tratando pequenas feridas, dando massagens nas pernas aos mais exaustos e verificando se os caminhantes têm algum problema que obrigue a uma intervenção mais diferenciada.
Por norma isto não acontece, “não houve nenhum caso grave até agora”, dizem as professoras, explicando que este voluntariado é feito “por espírito de missão” e no âmbito de um projeto de “extensão da escola à comunidade”.
“Os grupos já conhecem a nossa ação, sabem que estamos aqui e vêm pedir apoio, pois têm confiança”, acrescentam as docentes.
Sentada numa cadeira, à sombra, a poucos metros do local onde as futuras enfermeiras tratam das mazelas nos pés dos peregrinos, Eduarda Gomes, de 58 anos, que desde a madrugada de segunda-feira calcorreia os caminhos que ligam Gaia a Fátima, recorda a primeira peregrinação que fez, quando tinha apenas 16 anos.
“Muita coisa mudou desde então. Tudo era diferente. Agora há mais placas [sinalética], mais polícia a ajudar, mais apoio aos peregrinos, as pessoas das localidades por onde passamos são simpáticas”, diz Eduarda, acrescentando que, além de pernoitar algumas noites da jornada em unidades hoteleiras, o grupo em que vem integrada também traz consigo o apoio de um enfermeiro, com uma carrinha.
A importância deste tipo de apoio é sublinhada por Conceição Pedrosa, de 70 anos, que há 20 presta apoio aos peregrinos no âmbito do Movimento da Mensagem de Fátima.
“Quem vem em grupo organizado tem ajudas, o que evita problemas. E, já só num caso ou outro é que se nota exaustão extrema. É diferente do que se via antigamente”, afirma a voluntária.
Também o facto de os grupos incorporarem cada vez mais peregrinos jovens contribui para que não se notem muito, como há anos se notavam, as dificuldades para cumprir o caminho, admitem os voluntários.
A peregrinação aniversária de 12 e 13 de maio ao Santuário de Fátima é presidida pelo arcebispo de Barcelona, cardeal Juan José Omella.