A inovação como resposta aos desafios da gestão sustentável da água foi o ponto de partida lançado por Ramiro de Matos, presidente da Águas de Santarém, na abertura do evento “ESG e o Futuro da Água”, promovido pelo ECO e pela Águas de Santarém. “Usar melhor, desperdiçar menos e garantir o futuro” foi o apelo deixado pelo responsável, numa conferência que reuniu especialistas para debater a ligação entre água e transição energética, a urgência de soluções inovadoras e a necessidade de financiamento verde. Entre os intervenientes estiveram Vera Eiró, presidente da ERSAR, que alertou para o impacto da gestão da água na descarbonização, e José Sardinha, administrador da Águas de Portugal, que defendeu a inovação como eixo estratégico para o sector, enquanto Nelson Lage, presidente da ADENE, destacou o papel da água como recurso crítico na transição energética. A conferência, realizada em Santarém, evidenciou ainda a importância da economia circular e do reforço das políticas públicas para assegurar a sustentabilidade hídrica num cenário de pressões ambientais e populacionais crescentes.

A importância da água para a transição energética esteve no centro do debate promovido pelo ECO e pela empresa Águas de Santarém, numa iniciativa que reuniu especialistas do sector para discutir inovação, políticas públicas e boas práticas de governança e que decorreu na passada quarta-feira, dia 16 de Abril, no Teatro Sá da Bandeira.

O evento “ESG e o Futuro da Água” lançou a reflexão sobre a necessidade de uma gestão cada vez mais sustentável de um recurso vital e finito, pressionado pelas alterações climáticas e pelo crescimento populacional. A integração dos princípios de Environmental, Social and Governance (ESG) no sector da água foi apontada como fundamental para assegurar não só a preservação do recurso, mas também para posicionar as organizações como agentes activos na construção de uma economia mais sustentável.

Na abertura do encontro, Ramiro de Matos, presidente da Águas de Santarém, sublinhou que “a inovação é inseparável da sustentabilidade”, defendendo que a inovação no sector da água deve ser entendida de forma ampla, englobando dimensões tecnológicas, organizacionais, regulatórias, digitais e sociais. “Desde sistemas inteligentes de monitorização e detecção de perdas ao reaproveitamento das águas residuais, passando por modelos de governação participativos, todos apontam para um futuro em que se use melhor, se desperdice menos e se garanta o acesso à água”, referiu.

A necessidade de inovação no sector foi reforçada por Vera Eiró, presidente da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), que alertou para o elevado impacto energético da actividade. “O sector das águas representa a terceira maior fatia de consumo de energia em Portugal. A redução das perdas de água é, portanto, não apenas uma questão de gestão de recursos, mas também de descarbonização”, afirmou, salientando que a inovação é essencial para enfrentar os investimentos exigentes que se avizinham.

José Sardinha, administrador da Águas de Portugal, detalhou as diferentes vertentes de inovação em curso no grupo: a inovação reactiva, ao acolher projectos de investigação de universidades; a inovação estratégica, financiada internamente através de concursos anuais; e a inovação operacional, desenvolvida pelas próprias empresas do grupo nas suas actividades quotidianas.

Apesar dos avanços, Ramiro de Matos alertou para as dificuldades de financiamento, sobretudo nas pequenas entidades gestoras. “Fala-se muito em fundos nacionais e europeus, mas, na nossa área, são bastante limitados, quer na água, quer no saneamento”, lamentou.

No painel dedicado à transição energética, Nelson Lage, presidente da ADENE – Agência para a Energia, destacou que “a água é crítica para a transição energética” e defendeu a necessidade de simplificação de processos e de apoio técnico local como factores decisivos para o sucesso desta transformação.

A questão do financiamento foi também abordada por Jerónimo Meira da Cunha, associate director da EY, que referiu o interesse crescente de fundos de investimento, nomeadamente do Médio Oriente, em projectos de transição energética, apontando para a necessidade de criar condições atractivas para captar esses investimentos.

A economia circular surgiu igualmente como uma via crucial para o futuro da gestão da água. Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, lamentou que Portugal tenha ainda uma taxa de circularização de apenas 2,6%, muito aquém da média europeia de 12%. Uma visão partilhada por Filipa Pantaleão, secretária-geral do BCSD, que qualificou os números portugueses de “desastrosos” e apelou a uma maior responsabilidade individual e colectiva no consumo e reaproveitamento de recursos.

A intervenção pública foi também chamada ao debate, com João Leite, presidente da Câmara Municipal de Santarém, a defender uma intervenção nacional mais robusta para assegurar a utilização sustentável do rio Tejo, nomeadamente através do Projecto Tejo, vital para a agricultura da região. “Precisamos de uma política pública nacional que olhe para a água com ambição e eficácia”, afirmou.

Emídio Sousa, secretário de Estado do Ambiente, encerrou os trabalhos, recordando que as perdas no abastecimento urbano rondam ainda os 40%, o que considera inaceitável. “Produzir água para consumo humano tem custos elevados e este desperdício é pago pelo consumidor. Melhorar a eficiência é, por isso, uma obrigação para garantir um desenvolvimento verdadeiramente sustentável”, concluiu.

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