Tetraplégico desde 2017, José Pires descobriu no andebol adaptado em cadeira de rodas uma forma de se libertar dos “pensamentos menos positivos” e de se sentir realizado. Aos 41 anos, representa o clube Rovisco Pais e lançou uma campanha para angariar fundos para comprar uma nova cadeira desportiva, essencial para continuar a jogar. “É um sentimento de superação e gratidão, todos os dias”, afirma.
O que o levou a praticar andebol adaptado para cadeira de rodas?
Foi não tanto a questão física, que também acho importante, mas a questão psicológica, porque sabia que era algo que me ia deixar liberto de certos pensamentos, menos positivos.
E resultou, foi uma aposta ganha.
Como foi o processo de adaptação à modalidade?
Curiosamente, até foi algo bastante rápido e aconteceu num espaço de poucos meses. Obviamente, há ainda muita margem de adaptação, até porque é um jogo de equipa e a evolução, é e tem de ser em equipa e eu conto com a ajuda dos meu colegas!
Como surgiu a oportunidade de representar o clube Rovisco Pais?
Foi algo um pouco inesperado. Num dos meus reinternamentos, no Centro de Reabilitação Rovisco Pais, deparei-me com algumas pessoas em cima de uma cadeira diferente da minha (desportiva) algo felizes a baterem com uma bola no chão, passes, risos, descontracção. Naquele momento, algo me disse, que eu precisava daquilo. Pois bem, a cada dia que passava, eu fazia questão de estar com aquelas pessoas, que hoje em dia são meus colegas de equipa, até que surgiu um convite, eu a princípio disse que não, mas com o passar dos dias, deixei-me levar e a cabei por integrar os treinos da equipa.
Acha que os desportos adaptados para pessoas com deficiência ainda são vistos com um certo preconceito?
Não só, acho, como tenho a certeza. Mas, os desportos colectivos, que carecem de produtos, como cadeiras desportivas, sofrem um pouco mais com esse problema. Porque são produtos muito caros e nem todos os clubes conseguem fornecer uma cadeira personalizada a cada praticante, muitas das vezes tem de ser o atleta que realmente tem gosto pelo que faz a ter de desencadear meio pessoais para conseguir ter uma cadeira. As nossas associações, federações, deveriam ter mais apoios do estado, destinadas as estas causa, pois são estes desportos, que nos podem tirar de casa, para a prática dos mesmos e troca de experiências.
O que sente quando entra em campo e está a praticar andebol?
Para já, sinto-me grato pela oportunidade que me está a ser dada por partilhar o campo, não só com os meu colegas de equipa, mas também com os adversários.
É essencialmente um sentimento de superação, de que realmente, basta acreditar que podemos ser melhores a cada dia que passa e essa entrada em campo, é a prova disso.
Em que ponto se encontra a campanha de aquisição de uma nova cadeira de rodas desportiva? Já conseguiu algum tipo de apoio?
A campanha, encontra-se ao dia de hoje (04/07), no 5º dia de divulgação e já estamos com cerca de 4100€ angariados.
Mas realmente o que mais me surpreende é o carinho que as pessoas têm demostrado, com mensagens de força, com a divulgação e partilha incansável da causa.
Estou muito grato a todas as pessoas envolvidas.